Final de Ano 2021 | A trilha sonora dos comerciais do Natal e Ano Novo do reencontro
Se, para muitos, 2021 acabou sendo uma repetição de 2020 na confusão temporal trazida pela pandemia, as mensagens de final de ano da publicidade apostam na força do reencontro das pessoas nas festas como a mudança para 2022. É certo que, ao conceberem suas campanhas de Natal e Ano Novo meses atrás, nenhum dos criativos poderia contar com a ressurgência da Covid-19 pelo mundo com a variante Ômicron e um surto de gripe pelo Brasil, mas nada disso parece impedir um sentimento geral de “pós-pandemia”, seja no mercado ou na população. E é esse espírito, talvez um pouco inocente ou imprudente, mas sempre esperançoso de “recomeço” que parece ter guiado as escolhas musicais das propagandas desta temporada, que trazemos aqui, para manter esta tradição natalina do NERVOS.
O Natal do reencontro
Tendo em mente que, depois de quase dois anos de distanciamento social, as pessoas irão reencontrar seus familiares e amigos nestas festas de final de ano, nada mais acertado do que Chega de Saudade para embalar a campanha da Hering. Depois de trazer a família Gil para estrelar a propaganda em 2020, a marca têxtil seguiu com a musicalidade baiana e viajou até Santo Amaro da Purificação para encontrar Maria Bethânia e seu sobrinho Zeca Veloso interpretando a canção de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
Seguindo com as cantoras baianas, a Perdigão reuniu Ivete Sangalo com sua família para a campanha de sue principal produto natalino, o Chester. E se no ano anterior, a trilha era uma versão instrumental de Vem, Meu Amor, música do Olodum que foi eternizada na voz da artista quando era vocalista da Banda Eva, o hit do axé volta, desta vez com direito a um rápido refrão adaptado para a marca, sob a direção musical de Kito Siqueira, Roberto Coelho e Hurso Ambrifi.
A mesma ideia de reencontro, mas consciente de tudo que se passou nestes últimos anos pandêmicos, veio na propaganda d’O Boticário. Inspirado pelo imaginário do livro O Pequeno Príncipe (1943) e embalado por uma versão do clássico dos Beatles, Hey Jude, com produção musical de Guile Oliveira, o vídeo relembra as perdas sentidas neste período, especialmente do sentido que é mais essencial para a marca de perfumaria, já que a anosmia ou hiposmia, respectivamente a perda total ou parcial do olfato, são alguns dos sintomas e/ou consequências comumente observados entre os pacientes que tiveram Covid-19. A campanha, aliás, anuncia a criação do Centro de Pesquisa do Olfato, para gerar conhecimento e fomentar estudos sobre a área.
Enquanto isso, o Bradesco investiu no conceito da reconexão “olho no olho” e não pelas telas junto do seu costumeiro tema do brilho através das figuras dos vagalumes. Desta vez, o hit internacional escolhido para embalar o filme publicitário do banco foi Halo, da diva Beyoncé, mas na voz de Amanda Maria. Aliás, dentro do grupo financeiro, a Bradesco Seguros também fez uma campanha de final de ano, mas, neste caso, a trilha apresenta a música Com você. Sempre, composta pela Musikeria especialmente para a peça e interpretada pela cantora Manda.
E a tradicional propaganda de Natal da Coca-Cola também carrega esse sentido de reunião da data no projeto de uma chaminé improvisada por um garoto, que envolve todo o prédio no qual ele e a mãe vão morar. Não é à toa, aliás, que a história conte com uma versão instrumental de Chim Chim Cher-ee, canção interpretada pelos atores Dick Van Dyke e Julie Andrews no filme musical Mary Poppins (1964).
Entre a neve e o arco-íris do novo ano
Um fenômeno da natureza acabou sendo a estrela de várias campanhas de final de ano em 2021: a neve. O boneco de neve, então, virou protagonista de duas propagandas de marcas internacionais de tecnologia. No esperado comercial da Apple, filmado com iPhone e dirigido pela dupla de pai e filho cineastas norte-americanos, Ivan e Jason Reitman, uma menina faz de tudo para salvar o seu querido boneco de neve até o Natal seguinte, tendo como trilha You and I, de Valeria June. Mas se lá, o momento de união familiar real é valorizado, a marca de telecomunicações portuguesa NOS erra o alvo na trama de uma garota que deseja ter seu próprio boneco de neve para fazer propaganda de sua rede 5G e da realidade virtual, em uma propaganda que até a escolha de uma versão do ótimo sucesso de Elvis Presley, Can’t Help Falling in Love, soa equivocada nesta mensagem. Os flocos impossíveis de cair em um local tropical tem mais magia, porém, no Natal da Sadia, cujo indefectível jingle toca sob a direção musical de Hilton Raw, responsável pela música de outros filmes desta temporada, como no sambinha da Amazon.
Voltando ao mercado de telefonia e internet em Portugal, a concorrente Vodafone trouxe uma das campanhas mais contundentes deste ano, alertando sobre a violência doméstica no país, onde foram reportados mais de 27.600 casos em 2020, ao som de when the party’s over, de Billie Eilish. Aqui no Brasil, a conscientização também apareceu de modo direto, como na promoção da adoção no conceito de “Meu Primeiro Natal” da peça publicitária da Lacta – neste caso, a única informação obtida sobre a música é que tem a direção musical de Apollo Nove –, e indireto na representatividade negra entre as figuras protagonistas das propagandas em 2021, a exemplo de várias citadas até aqui e até da sitcom de curta duração original do Guaraná Antarctica, Farofadas de Natal (2021). Mais um é o comercial da Vivo, em que novamente uma marca de telecomunicações coloca as novas tecnologias para realizar os desejos inalcançáveis de uma menina, mas em uma narrativa melhor construída com uma versão de She's a Rainbow, dos Rolling Stones.
As festas de ano novo também ganharam muitas cores e abraços na animação do filme da Stella Artois, com a marca de cerveja apostando em uma regravação do clássico norte-americano Dream a Little Dream of Me. Enquanto isso, não poderia faltar a combinação de Fernanda Montenegro e Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994) na propaganda do Itaú com, pelo menos, alguns acordes da faixa I'm Forrest... Forrest Gump da trilha sonora de Alan Silvestri para o filme. A diferença é que, desta vez, a veterana atriz, que se tornou uma imortal da Academia Brasileira de Letras em 2021, se une à bebê Alice, cujos vídeos falando palavras difíceis para a sua idade viralizou na internet neste ano, para desejarem um 2022 mais amoroso e, portanto, mais humano.
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