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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | Libertação (através) do amor

Atualizado: 4 de jan. de 2022

Para alguns, o amor liberta e, para outros, se torna uma prisão. Em meio a essa dicotomia, dois romances presentes na seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, trabalham este sentimento como um meio e não um fim para a jornada de libertação de suas protagonistas, circundadas por diferentes amarras sociais impostas às mulheres. É o caso de Yuni (Yuni, 2021), produção que representa a Indonésia na disputa por uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional e traz uma adolescente entre seus sonhos a realidade que a pressiona com uma tradição local, e do longa britânico Coisas Verdadeiras (True Things, 2021), em que uma mulher encontra em um desconhecido a chance de se aventurar para além de sua vida apática. Leia mais sobre os títulos a seguir:

 

Yuni (Yuni, 2021)


Arawinda Kirana em cena do filme indonésio Yuni (Yuni, 2021), de Kamila Andini | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Exibido no Festival de Toronto e escolhido como o candidato indonésio para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional, Yuni é um daqueles títulos que o espectador se depara em meio à programação da Mostra SP, com sentimentos distintos, mas não necessariamente conflitantes. Uma história simples, que pode ter sido vista anteriormente, de maneira semelhante em outras obras, porém, ganha ares de novidade dependendo do contexto em que ela é produzida. No caso, o terceiro longa solo de Kamila Andini é de uma simplicidade honesta, ainda que ambicione a sua poesia, sendo capaz de conquistar o público gradualmente no conto sobre uma jovem que deseja mais do que os costumes locais podem oferecer.


Logo no início, mal se conhece Yuni (Arawinda Kirana) e já se apresenta o ambiente cerceador em que a garota vive através da comunicação da diretoria da escola acerca dos casos de gravidez entre as estudantes e a implementação de testes de virgindade para todas as alunas a fim de combater isso. Contudo, para a protagonista, o que realmente altera a sua rotina adolescente é a notícia de que foi pedida em casamento por um rapaz que mal a conhece. Ela o rejeita, mas quando uma nova proposta é feita a sua família por um homem mais velho, a recordam da crença popular na região de que uma segunda rejeição significa que a mulher nunca se casará.


Enquanto a pressão familiar e social a envolve, a adolescente tenta manter seus desejos. Um deles é o de conseguir uma vaga no programa de bolsas de estudo, mas há a exigência de que as candidatas sejam solteiras. Outros, são relativos a suas próprias descobertas no campo amoroso e sexual, seja a paixão platônica pelo professor Damar (Dimas Aditya) ou o apoio do tímido estudante Yoga (Kevin Ardilova), ou ainda nas conversas sobre sexo que trava com as amigas ou na nova amizade com uma cabeleireira que compartilha com ela a experiência de ter casado tão cedo.


Neste sentido, é realmente surpreendente que um filme rodado na Indonésia, país que possui a maior população islâmica do mundo, ouse tocar nestes assuntos, mostrar “quase” cenas de masturbação e sexo, e abordar, mesmo que rapidamente, a transsexualidade. Esse frescor renova uma trama que nem sempre engaja toda a plateia, especialmente pela repetição de ciclos que encurralam a personagem principal. No entanto, é curioso que o roxo seja lhe cause fetiche, pois o caráter fúnebre da cor confere esse aspecto terminal a cada caminho que Yuni e seu roteiro escrito por Andini e Prima Rusdi rejeitam, sejam os impostos pela sociedade ou pelos clichês narrativos, para trilhar sua própria libertação.

 

Yuni (Yuni, 2021)

Duração: 95 min | Classificação: 14 anos

Direção: Kamila Andini

Roteiro: Kamila Andini e Prima Rusdi

Elenco: Arawinda Kirana, Kevin Ardilova, Dimas Aditya e Neneng Risma (veja + no site)

Produção: Indonésia, Singapura, França e Austrália


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações

> Espaço Itaú Augusta - Sala 3 – 02/11/2021, terça às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 4 – 03/11/2021, segunda às 18h30

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

Coisas Verdadeiras (True Things, 2021)


Ruth Wilson e Tom Burke em cena do filme britânico Coisas Verdadeiras (True Things, 2021), de Harry Wootliff | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Presente igualmente na seleção do Festival de Toronto, após fazer sua estreia em Veneza, o britânico Coisas Verdadeiras inicia a sua jornada em um ponto posterior da vida de uma mulher. Kate, protagonista interpretada por Ruth Wilson no segundo longa da cineasta Harry Wootliff, sente o peso de sua morna rotina e a falta de acontecimentos lhe roubar os anos de sua juventude, enquanto o desejo por viver pulsa em seu sono, representado de cara pelo sonho erótico que abre o filme baseado no livro de Deborah Kay Davies, True Things About Me (2011). O elemento que transforma seu cotidiano é a chegada de um homem, conhecido pelo apelido Blond (Tom Burke), que ela atende no seu trabalho de auxílio a ex-presidiários, que desperta sua pulsão adormecida de se aventurar.


Desmotivada e costumeiramente destratada por outros, Kate encontra no primeiro cara que a trata bem uma âncora para se apoiar emocionalmente. Há, portanto, um desenvolvimento do fetiche feminino pelo desconhecido aqui, na medida em que o roteiro de Wootliff e Molly Davis trabalham a toxicidade do relacionamento que se desenha. Ela cria uma relação de dependência e obsessão com Blond, enquanto ele some e desaparece da vida dela sem cerimônias.


A cineasta trabalha com o aspect ratio de 4:3 como forma de traduzir visualmente essa limitação sentida pela personagem, além de outras sequências alegóricas de seu desespero emocional e psíquico. Contudo, há algo difícil de identificar, por causa do bom resultado técnico e do elenco, que dificulta a história em decolar e o espectador se afeiçoar aos personagens. Curiosamente, é quando Kate perde a sua empolgação que a obra se torna mais empolgante, em cenas catárticas como a dança libertadora ao som da obsessiva canção Rid of Me, da cantora inglesa PJ Harvey. Na busca por algo que a tirasse de um lugar de estagnação, o amor fez ela se perder para poder encontrar, por si mesma, um novo espaço para verdadeiramente ser.

 

Coisas Verdadeiras (True Things, 2021)

Duração: 102 min | Classificação: Livre

Direção: Harry Wootliff

Roteiro: Harry Wootliff e Molly Davis

Elenco: Ruth Wilson, Tom Burke e Hayley Squires (veja + no site)

Produção: Reino Unido


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 800 visualizações

> Circuito Spcine - CCSP - Sala Lima Barreto – 29/10/2021, sexta às 16h30

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play


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