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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | A mesma estrada, mas outras paisagens pela janela


Rayan Sarlakm em cena do filme iraniano Pegando a Estrada (Jaddeh Khaki, 2021), de Panah Panahi | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

No caminho trilhado por seu pai e outros nomes célebres do cinema iraniano, o cineasta estreante Panah Panahi encontra novas rotas em Pegando a Estrada (Jaddeh Khaki, 2021), filme exibido na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes e que chega à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo em uma das sessões especiais que serão realizadas ao ar livre no Museu da Imigração, no bairro paulistano da Mooca. Se Jafar Panahi já rodou a capital ou o país em produções como Taxi Teerã (2015) e 3 Faces (2018), o filho também aposta no road movie em seu primeiro longa, além de igualmente adotar o humor como via para as críticas sobre o governo autoritário. Entretanto, o jovem realizador leva esse norte familiar para outros inusitados lugares, em uma obra que não teme se entregar a cada um de seus diferentes momentos, ainda que uma das suas principais características seja exatamente esconder do público, assim como de um personagem, qual a verdadeira razão daquela viagem.


Aliás, a história começa quando ela já está em curso e a família protagonista é apresentada dormindo em um carro na beira da estrada, enquanto um jovem (Amin Simiar) os observa, pensativo, do lado do veículo alugado. A quietude do rapaz contrasta com a agitação dos outros membros logo que acordam, seja na preocupação da mãe (Pantea Panahiha), na irritação do pai (Hassan Madjooni) com o pé engessado ou na energia incontrolável do pequeno irmão (Rayan Sarlak). O medo instaurado quando se descobre que o caçula escondeu um celular e a paranoia de estarem sendo seguidos logo demonstram, porém, que não se trata de um passeio normal e, tal qual o pequeno garoto, o espectador é levado de carona em um itinerário desconhecido até compreender, aos poucos, mas não totalmente, as motivações para tamanho deslocamento.


O jovem Panahi também desloca suas raízes na cinematografia iraniana pra outras referências, afim de encontrar seu próprio caminho quando, por exemplo, dosa entre a irreverência bem-humorada do trabalho de seu pai com a comicidade mais extravagante de retratos de famílias disfuncionais em indies norte-americanos como Pequena Miss Sunshine (2006). Igualmente, o diretor também desloca as expectativas do público quando interrompe esse tom cômico pontualmente com um piano sentimentalista, enquanto, mimetizando os personagens, disfarça o drama que está acontecendo com as trivialidades e surpresas da viagem e da convivência familiar naquele pequeno espaço. Somando estes dois movimentos, em algumas sequências, o cineasta ainda passeia pela fantasia espacial do imaginário infantil e adentra pelos musicais no final, em um tom mais dramático que o bollywoodiano para expressar a dor da partida e de deixar a sua terra para trás.


São várias as curvas dessa narrativa, mas Panah demonstra habilidade para contorna-las com nuances que deixam todos presos naquele carro com aquelas pessoas. É uma proposta que depende muito de seu elenco para sustenta-la e, aqui, ele conta com um quarteto bem afinado para isso, com destaque para a destreza de Pantea Panahiha, de Respiro (2016), neste zigue-zague emocional e o carisma da revelação mirim Rayan Sarlak. Deste conjunto, transborda a sinceridade dos afetos que supre o que não é dito em Pegando a Estrada.

 

Pegando a Estrada (Jaddeh Khaki, 2021)

Duração: 93 min | Classificação: 14 anos

Direção: Panah Panahi

Roteiro: Panah Panahi

Elenco: Hassan Madjooni, Pantea Panahiha, Rayan Sarlak e Amin Simiar (veja + no site)

Produção: Irã


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 800 visualizações

> Museu da Imigração – 23/10/2021, sábado às 19h00

> Espaço Itaú Augusta - Sala 3 – 26/10/2021, terça às 14h00

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 2 – 30/10/2021, sábado às 20h10


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