MOSTRA SP 2021 | Masculinidade partida
Atualizado: 3 de nov. de 2021
Os velhos hábitos arraigados na masculinidade, que prejudicam mulheres além dos próprios homens há tanto tempo, vêm sendo pouco a pouco confrontados nos debates suscitados pela sociedade contemporânea. Essas lentas mudanças sociais estão sendo captadas pela Sétima Arte em todo o mundo, como expõe a seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O sentimento de posse sobre a companheira ainda tenta resistir a isso no chileno A Taça Partida (La Taza Rota, 2021) e no indiano Pedregulhos (Koozhangal, 2021), ao mesmo tempo em que a falta de responsabilidade sé acareada no canadense Higiene Social (Hygiène Sociale, 2021). Veja mais desses filmes a seguir:
A Taça Partida (La Taza Rota, 2021)
Por vezes, paira sobre a arte a ideia de que é obrigatório um protagonista ou conjunto de personagens fazer o público torcer por ele para que as pessoas se interessem pela história a ser contada. Contudo, há exemplos, inclusive recentes como na série norte-americana Succession (2018-), de que nem sempre isso é necessário para que o espectador se engaje na narrativa, seja pela curiosidade de ver até onde aquelas figuras serão capazes de ir ou pelo ódio, medo e outros sentimentos gerados por elas. Este é o caso do filme chileno A Taça Partida, que traz um personagem tão desprezível, mas, infelizmente, muito real, no retrato de um homem inconformado pela ex-mulher estar seguindo com sua vida, formando uma nova família com o filho deles e um novo namorado.
Em seu primeiro longa, Esteban Cabezas opta por este caminho inverso ao tradicional de fazer do perpetrador o protagonista de seu roteiro, escrito ao lado de Álvaro Ortega e baseado em um argumento de Joaquín Sebastián Fernández Lieste, porém, sem vitimizá-lo e exaltá-lo na observação do dia em que este chega ao auge de seu relacionamento abusivo com a antiga companheira. A conversa cotidiana sobre família com o motorista na corrida de táxi ou carro por aplicativo que surge em off na abertura da produção não prepara a plateia para a verdadeira face de Rodrigo (Juan Pablo Miranda). Seu destino era a casa em que morava, onde chega logo de manhã, antes do filho ir para a escola, para uma visita fora do dia e horário combinado com a ex (María Jesús González) que se torna uma operação pessoal deste homem teimoso e com o ego ferido para retomar a posse daquilo que erroneamente julga como seu.
Insistente e invasivo, Rodrigo, como um macho do reino animal, tenta remarcar seu território, não só permanecendo na casa, mas se apropriando de coisas do atual namorado da ex e se frustrando em seu ímpeto onanista. O diretor estreante é muito eficiente nos dois primeiros atos, usando tanto a progressão narrativa quanto recursos como a redução do quadro para imprimir tensão à situação, deixando o espectador sempre apreensivo sobre qual será o próximo passo tresloucado daquele indivíduo. Contudo, a trama começa a girar em si mesma e perder a energia anterior, mas, ainda assim, Cabezas e Ortega escolhem um tom conciliatório, e, talvez, mais conscientizador a quem se identifique com o protagonista, do que a catarse tão na moda em histórias semelhantes no cinema contemporâneo.
A Taça Partida (La Taza Rota, 2021)
Duração: 80 min | Classificação: 14 anos
Direção: Esteban Cabezas
Roteiro: Álvaro Ortega e Esteban Cabezas
Elenco: Juan Pablo Miranda, María Jesús González, Moisés Angulo, Román Cabezas, Rodrigo Soto e Daniel Antivilo (veja + no site)
Produção: Chile
*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo
Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento
>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações
> Espaço Itaú Augusta - Sala 1 – 26/10/2021, terça às 15h30
Pedregulhos (Koozhangal, 2021)
Há uma raiva latente em Pedregulhos, que move tanto o protagonista desta produção indiana quanto o cineasta P.S. Vinothraj no retrato da masculinidade e da miséria em seu longa de estreia, mas que, vez ou outra, é contrastada pela ternura do olhar infantil do filho do personagem, que o acompanha nesta furiosa jornada. A obra que foi premiada com o Tigre de Melhor Filme no Festival de Roterdã deste ano é rodada ao sul de Tamil Nadu, estado meridional da Índia onde a população é de maioria tâmil, em uma região mais desértica em que a pobreza marca a vida dos que ali habitam. O diretor detalha esse cenário de penúria, em cenas como a da caça aos ratos nos buracos, mas igualmente no desenvolvimento deste homem moldado pela aridez do ambiente ao seu redor.
O público conhece Ganapathy (Karuththadaiyaan) quando este, tempestuosamente, vai à escola e invade a sala de aula para buscar Velu (Chella Pandi), a fim de que seu filho convença a sua mãe a voltar para casa, já que ela cansou do comportamento abusivo do marido e voltou ao vilarejo para ficar com a família. O garoto segue o pai, alcoólatra e tomado por acessos de raiva, e o vê arranjando brigas no ônibus ou com os parentes e vizinhos da esposa, e, em alguns momentos, tenta tirá-lo dessa espiral de violência, nem que se coloque como alvo para tanto. Vinothraj os acompanha, com a câmera colada aos personagens, por vezes transparecendo certo amadorismo da produção, mas sempre exalando uma visceralidade na direção que traduz a energia do protagonista, muito bem representada no plano-sequência da vila que transparece igualmente a cólera do adulto quanto o olhar assustado da criança, rodeados pelos comentários de quem observa esta situação.
Pedregulhos (Koozhangal, 2021)
Duração: 75 min | Classificação: 14 anos
Direção: P.S. Vinothraj
Roteiro: P.S. Vinothraj
Elenco: Karuththadaiyaan e Chella Pandi (veja + no site)
Produção: Índia
*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo
Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento
>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 800 visualizações
> CineSesc – 26/10/2021, terça às 20h45
> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 1 – 31/10/2021, domingo às 18h15
+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play
Higiene Social (Hygiène Sociale, 2021)
Apesar do prêmio de Melhor Direção na seção Encontros do Festival de Berlim de 2021, o novo exercício cinematográfico de Denis Côté não alcança os mesmos resultados que o diretor canadense obteve em trabalhos como Os Estados Nórdicos (2005) e Vic+Flo Viram um Urso (2013). De certo, o humor peculiar do cineasta transparece no texto de Higiene Social, mas a proposta estratificada do filme não desenvolve a mesma dinâmica ou qualquer outra que a sustente por apenas 76 minutos. Ou melhor, que a faça progredir além do balizamento conceitual inicial.
O longa começa em um campo aberto, no longo diálogo entre dois irmãos, em uma mise-en-scène que frisa o afastamento dos dois, tal qual a câmera distante. Antonin (Maxim Gaudette) relata à Solveig (Larissa Corriveau) o esquema que realiza com o amigo de roubar turistas e outras questões que começam a construir a imagem deste dândi, cujo talento artístico é desperdiçado por seu comportamento hedonista com o mundo e, principalmente, com as mulheres. Nas cenas seguintes, que também duram por volta de 11 a 13 minutos, ele é confrontado por outras figuras femininas de sua vida: a esposa Eglantine (Evelyne Rompré); a bela dama que corteja, Cassiopée (Eve Duranceau); a cobradora de impostos Rose (Eve Duranceau); e a jovem Aurore (Éléonore Loiselle).
Esta, aliás, traz uma imagem mais andrógena à oposição binária que move a narrativa e à crítica a essa masculinidade. No entanto, o discurso vai além, a exemplo dos figurinos que sugerem uma ambientação de época contrastam com as falas sobre itens modernos como câmeras fotográficas e Facebook, ajudando a construir uma leitura, a partir da direção, de que a distância entre as pessoas naqueles tempos de outrora permanecem iguais no agora, muito antes que o distanciamento social fosse exigido pela pandemia de Covid-19. Contudo, é curioso que, a medida que Côté vai aproximando a sua câmera, o interesse curioso para entender quem é Antonin vai se dissipando e nenhum destes dois homens trazem algo de novo para a tela.
Higiene Social (Hygiène Sociale, 2021)
Duração: 76 min | Classificação: 14 anos
Direção: Denis Côté
Roteiro: Denis Côté
Elenco: Maxim Gaudette, Larissa Corriveau, Eleonore Loiselle, Eve Duranceau, Kathleen Fortin e Evelyne Rompré (veja + no site)
Produção: Canadá
*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo
Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento
>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 800 visualizações
> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 4 – 28/10/2021, quinta às 16h00
> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 5 – 31/10/2021, domingo às 20h45
+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play
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