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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2021 | Companhias da Morte

Atualizado: 3 de nov. de 2021

Mesmo sendo a única certeza que se tem em vida, a morte ainda permanece como um assunto ao qual a maioria dos seres humanos prefere ignorar. Em contrapartida, dois títulos presentes nesta 45ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo encaram a sua inevitabilidade sem rodeios e, de maneiras diferentes, abordam a necessidade de lidar com ela, sejam da parte daqueles que se vão ou dos que ficam. Um deles é a ficção espanhola Armugan (Armugan, 2020), que, a partir da lenda local que lhe dá nome, mostra a vida de um companheiro na hora da morte; e o outro é o documentário holandês Lidando com a Morte (Dood in de Bijlmer, 2020) que acompanha a tentativa de uma companhia montar um negócio que propicie, ecumenicamente, a realização de rituais para este momento de passagem, como você pode ver mais a seguir:

 

Armugan (Armugan, 2020)


Gonzalo Cunill e Iñigo Martínez em cena do filme espanhol Armugan (Armugan, 2020), de Jo Sol | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

“Doula” é uma palavra de origem grega que, através do significado “mulher que cuida”, foi utilizada para designar, comumente, aquelas pessoas cuja função é assistir na hora de um parto. No entanto, a ideia de dar apoio emocional e/ou espiritual no momento de se dar a vida também existe para quando ela se esvai. Se o conceito de “doula da morte” parece novo e resultante do envelhecimento da população em vários países, o filme espanhol Armugan mostra que a sua figura já habita, ao menos, o imaginário popular da região dos Pirineus Aragoneses, ao trazer à tela a lenda estampada no título.


O quinto longa do cineasta Jo Sol, de Viver e Outras Ficções (2016), apresenta esse cenário idílico de um vale isolado na qual vivem Armugan (Iñigo Martínez), mestre no “trabalho secreto da morte” e seu fiel escudeiro Ánchel (Gonzalo Cunill), que carrega, cuida e aprende os ofícios do último doula, cuja baixa estatura e problemas de saúde lhe dificulta a locomoção. Entre a rotina do pastoreio, por vezes, ele é chamado pelas pessoas da região para atender e dar conforto ao familiar que se encontra em vias de falecer. A narrativa segue, por um bom tempo, o mesmo ritmo vagaroso da rotina da dupla até que uma mulher (Núria Lloansi) de fora, vinda da cidade, vem lhe pedir que ajude o seu filho, o que acaba colocando em cheque suas convicções e confrontando a opinião dos dois companheiros.


Filmado todo em preto e branco, a produção traz nessa fotografia de Daniel Vergara tanto o caráter etéreo deste conto quanto as sombras no contraste que reforça o dualismo entre vida e morte da história. Um dos pontos altos da direção de Sol é quando, os protagonistas se encontram tão distantes em seus pontos de vista e atitudes, que são dissociados o quadro em um dos personagens com o áudio do outra cena. Assim como essas figuras, Armugan apresenta uma jornada solitária, mas há quem valorize a sua importância, nem que seja tardiamente.

 

Armugan (Armugan, 2020)

Duração: 91 min | Classificação: Livre

Direção: Jo Sol

Roteiro: Jo Sol

Elenco: Gonzalo Cunill, Iñigo Martínez, Núria Lloansi e Núria Prims (veja + no site)

Produção: Espanha


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 1200 visualizações

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 5 – 24/10/2021, domingo às 18h20

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 4 – 25/10/2021, segunda às 16h00

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play

 

Lidando com a Morte (Dood in de Bijlmer, 2020)


Cena do documentário holandês Lidando com a Morte (Dood in de Bijlmer, 2020), de Paul Sin Nam Rigter | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Sabe quando se diz que a ideia é muito boa, mas só no papel? Esta máxima pode se aplicar tanto ao objeto de interesse do documentário Lidando com a Morte, quanto ao próprio filme, mesmo tendo sido escolhido como melhor documentário holandês no festival local do gênero IDFA. O primeiro longa de Paul Sin Nam Rigter, diretor de nacionalidade coreana-holandesa, acompanha justamente a tentativa de se criar um centro funerário multicultural no centro de Bijlmer, um bairro multiétnico de Amsterdã. O projeto de Anita, gerente de uma empresa do ramo chamada Yarden – e que lida com a morte em seu próprio lar, com a deterioração da saúde do pai –, visa permitir que o espaço ecumênico atenda as necessidades dos clientes, sejam imigrantes ou descendentes que lá vivem, para realizar seus rituais de passagem e render as devidas homenagens aos seus entes queridos falecidos.


A produção começa exatamente com uma dessas cerimônias e leva o público a pensar que será levado a uma jornada pelas diferentes formas com que cada cultura lida com a morte, seja de forma mais pesarosa ou celebrativa, por exemplo. Contudo, após a audiência com os pedidos das comunidades religiosas, a narrativa vai se desligando cada vez mais dos rituais para acompanhar a trajetória de Anita nesta empreitada. Os momentos ritualísticos ainda surgem, mas apenas como parte de uma pesquisa superficial da companhia, que não investe verdadeiramente no projeto.


Bem antes da protagonista se dar conta, o espectador sente tanto na ingenuidade dela quanto na falta de interesse sincero da empresa, que deseja lucrar em cima da comunidade de imigrantes – assim como tantas fazem com o Pink, Black ou Green Money –, certa condescendência do “branco europeu” ao oferecer este espaço para eles realizarem seus “ritos estranhos”. A conversa de Anita com o imã da mesquita local é muito representativa de como o pensamento ocidental, mesmo com as melhores intenções, subentende que as outras culturas sejam, em alguma medida, inferiores e necessitem de seu “auxílio precioso”. Pode se dizer que tal retrato é extremamente perspicaz da parte de Rigter, porém, neste caminho, o documentário já perdeu o interesse que havia despertado no público, que esperava multiculturalismo e recebeu amostras de capitalismo corporativo e neocolonialismo doméstico.

 

Lidando com a Morte (Dood in de Bijlmer, 2020)

Duração: 74 min | Classificação: 16 anos

Direção: Paul Sin Nam Rigter

Roteiro: Paul Sin Nam Rigter (veja + no site)

Produção: Holanda


*Este filme será exibido na plataforma Mostra Play e nas salas de cinema de São Paulo

Todas as sessões presenciais da Mostra seguirão os protocolos de segurança contra a Covid-19: exigência do comprovante de vacinação (o espectador pode ter recebido apenas a primeira dose, mas a segunda não pode estar em atraso) e uso obrigatório de máscara, que deverá permanecer na face durante o período de exibição do filme. Confira a ocupação de cada sala no site do evento


>>> Disponível no Mostra Play, de 21/10 (quinta) a 04/11/2021 (quinta), com limite de até 500 visualizações

> Espaço Itaú Frei Caneca - Sala 2 – 27/10/2021, quarta às 21h00

+ Repescagem até às 23h59 de 07/11/2021 na Mostra Play


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