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Foto do escritorNayara Reynaud

MOSTRA SP 2020 | Só a capa da edição deluxe

Atualizado: 26 de nov. de 2020


Fernanda Pavanelli tocando violoncelo na praia uruguaia de José Ignacio em cena do filme brasileiro Verlust (2020), de Esmir Filho | Foto: Divulgação (Mostra Internacional de Cinema em São Paulo)

Duas casas modernas, envidraçadas, na beira do mar. Este é o cenário de Verlust (2020), novo filme de Esmir Filho rodado em José Ignacio, vila de pescadores transformada no luxuoso point dos mais ricos e famosos ao visitarem Punta del Este, no Uruguai. O cineasta responsável pelos longas Os Famosos e os Duendes da Morte (2009) e Alguma Coisa Assim (2006/2017) e pela série Boca a Boca (2020) esquadrinha os espaços do imóvel da protagonista Frederica (Andrea Beltrão), desde a escada à transparência duplicada de um vidro, com notável elegância e um senso de mistério e atração evocativo ao cinema francês e enunciados pela palavra alemã do título e da tatuagem do personagem João Wommer (Ismael Caneppele), que traz em si o significado de desejo e perda.


O apuro estético do diretor até encanta, com destaque também à fotografia de Inti Briones e ao desenho de som de Martín Grignaschi, mas esta bela embalagem não se sustenta com uma lânguida narrativa sobre relações familiares e de cumplicidade em crise, circundados por uma maresia existencial. Ambientada no período de Ano Novo, a trama traz a empresária musical Frederica passando uma tensa temporada com o marido, o fotógrafo Constantin (o ator chileno Alfredo Castro), e a filha adolescente Tuane (Fernanda Pavanelli), que está prestes a viajar para uma bolsa de estudos no exterior para aprimorar seu talento no violoncelo, instrumento que é quase um fantoche nas mãos da garota para expressar seus anseios, ocultos até para o espectador. Enquanto isso, ao lado, se hospeda a artista a quem gerenciou toda a carreira, Lenny, prestigiada pop/rockstar interpretada pela cantora Marina Lima, que empresta suas músicas, particularmente de seu 10º álbum, Marina Lima (1991), além do single recente Árvores Alheias, para compor o repertório da estrela fictícia.


Essa linha tênue entre realidade e ficção aparece também na figura forasteira de João, que está lá para escrever a biografia da artista ou algo nada parecido com isso, sendo interpretado pelo escritor, roteirista e ator Ismael Caneppele, que repete aqui a parceria com Esmir no roteiro, já realizada em Os Famosos e os Duendes da Morte. Ele, como agente externo, catalisa os sentimentos adormecidos nesses personagens, sejam de pulsão sexual ou de libertação das características castradoras desses relacionamentos. Assim, como a chegada de uma baleia encalhada à praia, no tom fantástico de seu aspecto fosforescente, externa a finitude ou transformação dessas relações.


Em uma cena, a casa chega a balançar como um navio, podendo indicar certo isolamento desse mundo da realidade, mas não há elementos determinando que a ruína ou submersão desse hermético cenário tenha outra razão se não a crise existencial não aprofundada dos personagens pouco desenvolvidos. Com um texto menos fluído do que seu discurso de fluidez de gênero e sexual, emerge à rasa superfície a interpretação de Beltrão no processo de fragilização que Frederica vai sofrendo ao longo do filme. Contudo, não é suficiente para suprir a principal perda de Verlust, que é de uma vida pulsante habitando a beleza arquitetônica do cinema de Esmir.



=> Confira as críticas de outros filmes desta 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

 

Verlust (2020)

Duração: 111 min | Classificação: 12 anos

Direção: Esmir Filho

Roteiro: Esmir Filho e Ismael Caneppele

Elenco: Andrea Beltrão, Marina Lima, Alfredo Castro, Ismael Caneppele e Fernanda Pavanelli (veja + no site)

Produção: Brasil e Uruguai

Distribuição: Elo Company

> Disponível no Mostra Play, das 22h de 22/10 (quinta) a 04/11/2020 (quarta), com limite de até 2.000 visualizações

> Sessão – Belas Artes Drive-in – 27/10/2020 (terça), às 21h45



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