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Foto do escritorNayara Reynaud

AVES DE RAPINA (ARLEQUINA E SUA EMANCIPAÇÃO FANTABULOSA) | Um filme emancipado

Atualizado: 3 de ago. de 2021


Cena do filme Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa) [Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn), 2020], de Cathy Yan | Foto: Divulgação

Mal começa o filme Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa) (2020) e a própria figura em destaque no subtítulo desanda a contar, com seu jeito peculiar, toda a sua história pregressa e seu drama atual, que inicia com o rompimento dela com seu famoso e terrível namorado. Ele é nada menos do que o Coringa; no caso, aquele do malfadado Esquadrão Suicida (2016), interpretado por Jared Leto, e não o recente e mais célebre encarnado por Joaquin Phoenix no longa solo de 2019, embora o nome do personagem seja sempre citado, mas a sua figura não apareça na tela, nem em um rápido flashback. Não bastasse o sofrimento natural pela separação, Arlequina sente uma patológica dependência dessa figura masculina – como de fato acontece com tantas outras na realidade –, mas percebe a necessidade de deixar o ex no passado e mostrar a todos e a si mesma que, agora, é uma mulher independente.

Se o título já anuncia esta emancipação dela, de certo modo, também serve ao movimento semelhante buscado por Aves de Rapina, com todos os êxitos e percalços desse processo. O filme tenta firmar uma identidade própria, sem esquecer a herança deixada por todas as produções cinematográficas da DC com a Warner, nem tampouco recorrer à imitação da fórmula da Marvel. A diretora Cathy Yan, depois de seu début em Dead Pigs (2018), obtém uma boa simbiose entre o aspecto sombrio típico do estúdio, que confere um tom realístico ao retrato dessa Gotham mergulhada em criminalidade, e a explosão de cores que advém de sua protagonista e toda a fantasia com que ela vive e conta este capítulo de sua trajetória em forma de fábula.

Isso porque o roteiro de Christina Hodson, responsável também pelo novo ânimo dado à franquia Transformers com Bumblebee (2018), torna esta Harley Quinn tanto protagonista desse grupo de anti-heroínas e/ou vilãs quanto narradora de suas aventuras. O resultado é uma narrativa não-linear que segue o fluxo da mente da personagem e que, embora se revele muito dependente dessa narração, usa ao máximo este artifício para disfarçar a parca trama que gira em torno de um diamante codificado, desejado ardentemente pelo dono da boate e de toda a zona leste de Gotham, Roman Sionis (Ewan McGregor se divertindo como Máscara Negra), e do fato da Arlequina estar sem a proteção de seu ex e começar a ser caçada por todos seus antigos desafetos.

O precioso objeto que serve de ostensivo MacGuffin aqui é o que faz o caminho dela se cruzar com o de uma órfã trombadinha chamada Cassandra Cain (uma ótima Ella Jay Basco entre a esperteza e os medos desta adolescente) com quem desenvolve uma quase relação maternal; da policial não reconhecida por sua corporação, Renee Montoya (Rosie Perez); da motorista e cantora com uma voz de matar, Dinah Lance (Jurnee Smollett-Bell como a Canário Negro); e de uma misteriosa mulher em busca de vingança, que se autodenomina a Caçadora (Mary Elizabeth Winstead indo bem como uma estranha neste ninho). Com interesses diferentes nesta corrida maluca, a junção dessas Aves de Rapina demora a acontecer, mas a trajetória não deixa de ser interessante nessa mistura idiossincrática de saltos e patins como armas e drogas como injeção de ânimo à protagonista. Nesse sentido, Yan faz do estilo cartunesco, presente tanto na abertura como na referência ao desenho animado do Piu-Piu, um guia para o tom de picardia e violência da Arlequina, em uma direção que a estiliza quase como onomatopeias visuais as suas munições, frente à brutalidade maior de outros personagens.

Este caminho ousado para um percurso já bem conhecido nem sempre atinge um equilíbrio perfeito, mas consegue ser suficientemente eficiente em nível de entretenimento para uma produção que não almeja tanto quanto seus colegas deste gênero, apenas entregar sua simples mensagem feminista. Neste sentido, se essas anti-heroínas são tratadas de modo condescendente pelo filme, este deixa alguns pequenos lembretes para a plateia millenium, como o papel insistentemente jogado no chão, de que elas não se tornaram um modelo de vida para os jovens só por conta de algumas atitudes. A ideia principal é somente de que a força feminina que exala deste quinteto serve de exemplo de que as mulheres podem ser tudo, seja para o bem ou para o mal.

 

Aves de Rapina (Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa) [Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn), 2020]

Duração: 109 min | Classificação: 16 anos

Direção: Cathy Yan

Roteiro: Christina Hodson

Elenco: Margot Robbie, Rosie Perez, Jurnee Smollett-Bell, Ella Jay Basco, Mary Elizabeth Winstead, Ewan McGregor, Chris Messina e Ali Wong (veja + no IMDb)

Distribuição: Warner Bros. Pictures

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