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Foto do escritorNayara Reynaud

DORA E A CIDADE PERDIDA | Em busca de uma rota no mapa

Atualizado: 28 de fev. de 2021


Madeleine Madden, Nicholas Coombe, Jeff Wahlberg, Isabela Moner (Isabela Merced) e Eugenio Derbez em cena do filme Dora e a Cidade Perdida (2019) | Foto: Divulgação (Paramount Pictures)

Em uma época em que anúncios de produções live action a partir dos mais diversos materiais já não mais surpreendem o público, o de Dora e a Cidade Perdida (2019), talvez, tenha sido um dos mais inesperados dos últimos tempos. O longa baseado na série de TV animada Dora, a Aventureira (1999-2019) traz um grande desafio inicial ao diretor James Bobin, que tenta usar sua experiência com Os Muppets (2011) e Muppets 2: Procurados e Amados (2014) para aliar a linguagem pré-escolar do desenho da Nickelodeon à realidade que cerca o antigo público-alvo do programa. Nem sempre funciona, mas é louvável a tentativa do roteiro de Nicholas Stoller, que trabalhou com o cineasta nestes longas e em extremos como Cegonhas (2016) e Sex Tape: Perdido na Nuvem (2014), e Matthew Robinson, de Monster Trucks (2016), em lidar com isso usando o sarcasmo ao colocar as estranhezas da atração infantil em um ambiente mais realista.

Um exemplo que surge logo a princípio é o hábito de Dora pedir ao público que repetisse as palavras ditas por ela, uma quebra da quarta parede que, no desenho, exercitava o aprendizado de crianças pré ou recém-alfabetizadas no espanhol – ou no caso da dublagem brasileira, no inglês –, mas que soa como uma esquisitice da garota, vivida por Madelyn Miranda no prólogo que apresenta a protagonista em tenra idade como no seriado. Tão cedo, ela se transforma em uma adolescente, a tarefa se torna ainda mais difícil para Isabela Moner – que agora assina como Isabela Merced, em homenagem à avó – segurar uma personagem que tem um relacionamento íntimo com os animais, como seu quase antropomórfico macaco Botas (Danny Trejo, na voz original) e o vilão Raposo (Benicio Del Toro, na versão legendada). A jovem atriz de Transformers: O Último Cavaleiro (2017), Sicário: Dia do Soldado (2018) e do recente Deixe a Neve Cair (2019) usa a alegria extasiante da garota que canta para remediar as coisas, mas cujo sabor poderia facilmente se tornar amargo, de forma inteligentemente contrastante contra o cinismo dos personagens e do próprio público que cresceu, de modo que a menina criada no meio da floresta peruana seja excêntrica e cativante, sem se tornar irritante.

Neste sentido, é destacável o fato do filme guardar claramente a descendência latina da protagonista e sua família, ainda que os diálogos em espanhol não soem tão naturais, pois há a bem-vinda inclusão de falas em quéchua, segunda língua do Peru e que tem origem em seus povos indígenas. Isso acontece porque os seus pais, Elena (Eva Longoria) e Cole (Michael Peña), precisam fazer uma pesquisa mata adentro para comprovar a veracidade da lenda da tal cidade perdida do título, uma espécie de “Eldorado” dos incas chamada de Parapata. No entanto, sem querer que a filha se arrisque na expedição e a fim de que ela interaja com outros seres humanos, os pesquisadores a enviam para a casa dos tios e do primo Diego (Jeff Wahlberg, sobrinho do Mark) na cidade, que vem a ser nada menos do que Los Angeles.

O longa, então, sai do terreno da estranheza inicial, com piadas que não atingem o alvo, para ganhar ritmo nesta mudança de ares em que jovem exploradora precisa decifrar os desafios e códigos de sobrevivência na selva que é o ensino médio. Não espere sacadas tão perspicazes quanto às de Meninas Malvadas (2004) com a chegada de Cady ao high school, mas uma narrativa mais envolvente que leva ao segundo ato, quando a trama encontra o rumo do seu mapa levando Dora de volta à floresta, na companhia de seus colegas de turma e de outro pesquisador local, Alejandro (Eugenio Derbez), por causa da aventura dos pais dela.

Trata-se de uma trama inocente que visa a fácil compreensão por parte da faixa etária original da franquia, mas que, ao trazer uma sequência com o uso da animação no estilo do desenho infantil, carrega uma sugestão bem adulta para justifica-la. É um esforço da equipe criativa que se torna visível na própria relação da Dora neste quarteto juvenil de personagens principais: ela precisa retomar amizade e sintonia que tinha com o primo Diego, de quem era o melhor amigo na infância e agora ele sente vergonha do seu jeito, tal qual a reconexão buscada pela produção com os antigos espectadores; ao mesmo tempo, a garota e o filme necessitam quebrar a lógica funcional e amolecer de proficientes como Sammy (Madeleine Madden) e manter o engajamento de curiosos como Randy (Nicholas Coombe). A obra pode não ter o mesmo êxito da protagonista neste intento, mas alcança parte do seu tesouro.

 

Dora e a Cidade Perdida (Dora and the Lost City of Gold, 2019)

Duração: 102 min | Classificação: 10 anos

Direção: James Bobin

Roteiro: Matthew Robinson e Nicholas Stoller, com argumento de Tom Wheeler e baseado na série “Dora, a Aventureira” de Chris Gifford, Valerie Walsh e Eric Weiner

Elenco: Isabela Moner (Isabela Merced), Jeff Wahlberg, Madeleine Madden, Nicholas Coombe, Eugenio Derbez, Michael Peña, Eva Longoria, Adriana Barraza, Madelyn Miranda, Malachi Barton e vozes originais de Danny Trejo e Benicio Del Toro (veja + no IMDb)

Distribuição: Paramount Pictures

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