MOSTRA SP 2019 | Abertura – Uma rede complexa e superficial
Atualizado: 28 de fev. de 2021
(Wasp Network, 2019)
Na produção multinacional que abre a 43ª edição da Mostra, a latinidade exala não só nos grandes nomes do elenco de Wasp Network (2019), novo filme do francês Olivier Assayas que conta com a espanhola Penélope Cruz, o venezuelano Edgar Ramírez, o brasileiro Wagner Moura, a hispano-cubana Ana de Armas, o argentino Leonardo Sbaraglia e o mexicano Gael García Bernal. Ela está na origem da história que acompanha como foi montada uma rede de espiões cubanos para se infiltrar na comunidade de exilados do país nos Estados Unidos, nos anos 1990. Baseado no trabalho de pesquisa do jornalista brasileiro Fernando Morais, colocado nas páginas do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011), o longa também foi realizado pela produtora nacional RT Features, de Rodrigo Teixeira.
Assayas transforma as informações documentais em um thriller de espionagem, ainda que não se revele assim desde o princípio. O cineasta opta por apresentar ao público como os pilotos René Gonzalez (Ramírez) e Juan Pablo Roque (Moura) chegam ao território norte-americano como exilados políticos cubanos e passam a auxiliar no resgate dos compatriotas que fogem do país em busca de liberdade. Mas somente na virada para a segunda parte – ou ato atrasado –, ele revela como tudo fazia parte do plano da Rede Vespa criada pelo governo de Fidel Castro para monitorar a ação dos grupos militantes, sendo que alguns deles praticavam atos terroristas – assim como o regime castrista massacrava as forças oposicionistas de forma totalitária, já que nenhum lado é santificado aqui.
No entanto, o diretor e roteirista enfrenta dificuldades no desafio de dar conta de tantos personagens ao percorrer um espaço de tempo de cinco anos, não conseguindo atar os nós desta intricada trama latina. Fazendo uma analogia com os aviões tão importantes na história, o roteiro sobrevoa diversas passagens históricas e subtramas, enquanto a montagem liga um ponto ao outro sem conferir ritmo, fazendo com que a narrativa nunca decole pra valer. O resultado é que os 130 minutos de duração parecem mais longos do que realmente são e, ao mesmo tempo, encurtados frente a um material que renderia melhor como uma minissérie, tal qual o realizador fez com Carlos, o Chacal (2010), estrelado também por Edgar.
Sobrecarregado por essa complexidade narrativa e sociopolítica, Olivier não encontra espaço para desenvolver os personagens, seja na verborragia dos diálogos do seu último e diametralmente oposto Vidas Duplas (2018) ou na introspecção de outros trabalhos anteriores, apesar do bom elenco que tem em mãos, com destaque para Cruz e Armas se sobressaindo ao pouco que o texto lhes dá como mulheres abandonadas pelos cônjuges e, igualmente, pelo filme, uma hora ou outra. Da mesma maneira, pouco se trabalha diversas ideias interessantes que surgem na medida em que a ambiguidade dos personagens se transforma em dicotomias: desses homens que põem a pátria ou uma causa acima da família que sofre as consequências de seus atos, desses agentes que usufruem do capitalismo norte-americano enquanto defendem o socialismo cubano, e desses governos ou opositores que buscam a paz e a liberdade através da violência e do medo. Mas, ainda que não aprofunde suficientemente esses paradoxos, a superficialidade de Assayas, ao menos, não resulta em respostas simplificadoras para uma história real sem mocinhos ou vilões.
Duração: 130 min | Classificação: 16 anos
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas, inspirado no livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais
Elenco: Penélope Cruz, Edgar Ramírez, Gael García Bernal, Wagner Moura, Ana de Armas e Leonardo Sbaraglia (veja + no IMDb)
> Cinearte 1 – 18/10/2019, sexta às 16h30 (Encontro com o diretor após a sessão)
> Espaço Itaú Frei Caneca 1 – 20/10/2019, domingo às 21h15
> CineSesc – 26/10/2019, sábado às 21h15