O AMOR DÁ TRABALHO | Entre o céu e o inferno
Atualizado: 13 de jun. de 2021
Uma versão animada do humorista Leandro Hassum abre O Amor Dá Trabalho (2019), mostrando de cara a índole duvidosa do seu protagonista que leva a vida na flauta e quer ter vantagem em tudo, bem como o tom cartunesco desta comédia romântica. Uma escolha natural para o primeiro filme live action do cineasta Ale McHaddo, que já se estabeleceu como um importante nome da animação brasileira, desde o premiado curta de “terrir” A Lasanha Assassina (2002) à série Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma (2013-). Depois de seu longa de estreia BugiGangue no Espaço (2017), o realizador encontra dificuldades para conciliar as suas raízes com uma incursão neste terreno mais desconhecido de um humor para um público-alvo adulto e, claro, da direção de atores.
Depois da abertura, surge Hassum, de carne e osso, na pele de Anselmo, um caso extremo de funcionário público preguiçoso. Tanto que é punido por isso, quando a pilha de casos acumulados, que ele posterga para atender, o soterra. O personagem vai para uma espécie de limbo burocrático de pedidos feitos aos céus, onde aceita uma tarefa de cupido para ganhar os pontos necessários para se safar de ir ao Inferno.
Seu caminho para o Paraíso consiste em juntar um antigo casal, separado há 12 anos, após Paulo Sérgio (Bruno Garcia) abandonar Elisângela (Flávia Alessandra) no altar. Daí que surgem todas as confusões da história nas inúmeras dificuldades em cruzar os destinos do, agora, rico empresário com a empreendedora que acaba de inaugurar um food truck vegano. E também a clara jornada de redenção do protagonista, em que ele deverá aprender diversas lições.
É possível perceber, já pela sinopse, como a produção tem vocação para ser um daqueles filmes do Didi para toda a família, feitos por Renato Aragão na fase pós-Os Trapalhões. No entanto, esse tom pueril, inerente também pela experiência pregressa de McHaddo, se choca com a abordagem do texto por um viés mais sexual e as piadas pesadas de Hassum. Exagerando no humor físico que o caracteriza, o comediante se repete no tipo que tem interpretado em tantos sucessos nos cinemas, na última década, mas as baixas bilheterias de seus últimos lançamentos, desde o ano passado, demonstram que o público já está saturado do mesmo e espera uma variação do ator.
Contudo, a dificuldade em encontrar o tom é anterior e cabe à falta de rumo do cineasta e de seu corroteirista Luiz Felipe Mazzoni. O roteiro elenca situações quase como esquetes, mas, mesmo separadamente, elas não atingem seu potencial cômico, a exemplo das cenas do passarinho a la Armações do Amor (2006) ou da mesa de divindades no Céu, que conta com a participação especial de vários nomes do gênero. A dupla até propõe uma virada narrativa interessante no terceiro ato, que tira a história do seu lugar comum e fornece a lição moral destinada a Anselmo e ao público, mas nem o recurso nem os deuses salvam a comédia de um destino de risos envergonhados.
O Amor Dá Trabalho (2019)
Duração: 100 min | Classificação: 12 anos
Direção: Ale McHaddo
Roteiro: Luiz Felipe Mazzoni e Ale McHaddo
Elenco: Leandro Hassum, Flávia Alessandra, Bruno Garcia, Monique Alfradique, Tadeu Mello, Felipe Torres, André Mattos, Anselmo Vasconcellos, Marcello Airoldi, Tony Tornado, Bruno Sutter, Dani Calabresa, Falcão, Helio de La Peña, Ludmilla, Marco Zenni, Maria Clara Gueiros Murilo Couto, Paulinho Serra, Sérgio Loroza e Victor Leal (veja + no IMDb)
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
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