AS TRAPACEIRAS | Golpe reciclado
Atualizado: 10 de jan. de 2022
O golpe que Anne Hathaway e Rebel Wilson aplicam em As Trapaceiras (2019) não é novo na praça. Na realidade, o público conhecedor de comédias mais antigas com certeza terá seu déjà vu ao assistir este filme de Chris Addison, por ser um remake de outro remake já feito sobre a história de uma dupla de golpistas que se aliam e disputam entre si com seus diferentes métodos de trapaça. A primeira vez que a trama de Stanley Shapiro e Paul Henning foi às telas, teve David Niven e Marlon Brando protagonizando Dois Farristas Irresistíveis (1964), dirigido por Ralph Levy, para anos depois dar lugar a Michael Caine e Steve Martin no longa de Frank Oz e roteiro de Dale Launer, Os Safados (1988).
Este último se tornou um clássico da Sessão da Tarde, que pode não render uma profusão de gargalhadas, mas traz um tom cômico eficiente e equilibrado que falta a esta nova versão que inverte o gênero dos protagonistas. E olha que, apesar da troca, o roteiro adaptado por Jac Schaeffer, responsável por Timer: Contagem Regressiva Para o Amor (2009) e o futuro filme solo da Viúva Negra (2020), é bem fiel aos filmes anteriores. Uma das poucas diferenças vem no início, ao apresentar previamente o tipo mais grosseiro, em um dos pequenos golpes da australiana Penny Rust (Rebel Wilson), para depois introduzir a outra figura elegante, nas armadilhas mais elaboradas e bem produzidas da britânica Josephine Chesterfield (Anne Hathaway).
Seguindo o original e sua cópia, a produção recente traz as duas se encontrando em um trem rumo a Beaumont-sur-Mer, fictícia cidade do sul da França – que, desta vez, é na verdade a espanhola Mallorca, servindo de locação real com seu cenário mediterrâneo. O jogo de gato e rato onde ambas se ajudam e disputam posição na malandragem regional se mantém, seguindo os mesmos passos, vide a cena da cela, com diálogos e detalhes atualizados, a exemplo do alvo da aposta e o novo método para enganá-lo. Depois das Janet’s de Shirley Jones e Glenne Headly, o “pato” da vez é o jovem e atrapalhado milionário da internet Thomas Westerburg, interpretado por Alex Sharp, de Como Falar com Garotas em Festas (2017).
Por essência, a trama dos três filmes estrutura a sua comédia nas diferenças entre as/os protagonistas. O problema neste último remake são os exageros que conferem aos opostos, um tom acima da caricatura proposta. O longa se apoia demais no humor físico e de improviso de Rebel Wilson, já conhecido desde sua Amy Gorda da trilogia A Escolha Perfeita, cuja peculiaridade não agrada sempre ou a todos, enquanto Anne Hathaway, que usou tão bem sua elegância para efeitos cômicos em Oito Mulheres e um Segredo (2018), não tem o mesmo êxito aqui.
Demorando para engrenar, a narrativa começa a envolver o público mais a partir do momento em que se inicia a disputa aberta entre elas, com o roteiro adicionando uma mínima camada além da superfície de Penny, algo que não acontece com Josephine. Essa fraqueza do texto também mina a direção de Chris Addison, que apesar de ter em seu currículo uma dezena de episódios da premiada série Veep (2012-19), trabalha apenas a comédia física no seu primeiro longa. Ainda há um golpe final para As Trapaceiras que, à despeito de sua bem intencionada inversão de lados, fica refém desta troca com um final que contradiz a sua mensagem de Badass Woman, cantada por Meghan Trainor nos seus créditos.
As Trapaceiras (The Hustle, 2019)
Duração: 93 min | Classificação: 12 anos
Direção: Chris Addison
Roteiro: Jac Schaeffer, adaptado dos roteiros de “Dois Farristas Irresistíveis” de Stanley Shapiro e Paul Henning e de “Os Safados” de Dale Launer
Elenco: Anne Hathaway, Rebel Wilson, Alex Sharp, Ingrid Oliver, Nicholas Woodeson, Dean Norris, Casper Christensen, Francisco Labbe e Aaron Neil (veja + no IMDb)
Distribuição: Universal Pictures
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