TURMA DA MÔNICA – LAÇOS | Velhos amigos
Atualizado: 19 de jan. de 2021
Se o próprio Mauricio de Sousa, antes duvidava que fosse possível encontrar atores que transmitissem a essência dos icônicos personagens que criou, dá para entender o porquê de tanto tempo para que a Turma da Mônica fosse levada, em carne e osso, para as telas do cinema. Depois de algumas animações baseadas na obra do desenhista, Turma da Mônica – Laços (2019) chega como o primeiro filme live action dessa turminha tão viva na memória do público, a ponto de serem vistos quase amigos de infância para alguns, mas tendo o selo de aprovação do criador com sua participação especial no longa-metragem de Daniel Rezende. “Acho que fui bem dirigido”, brincou o cartunista sobre o seu momento a la Stan Lee ou Alfred Hitchcook, mas confessando aos jornalistas ter tremido bastante antes de enfrentar as câmeras e atuar.
Os relatos ocorreram na coletiva de imprensa da produção, no último dia 17 de junho, em São Paulo, onde o diretor se revelou um leitor assíduo da Turma da Mônica, do tipo que chegava a desenhar pôsteres para as “histórias que não estavam na capa dos gibis”, e que, em 2015, correu atrás para assumir a direção quando soube da produção de um filme deles. Segundo Rezende, em entrevista ao podcast NERVOS Entrevista #24, Laços (2013) foi o caminho perfeito para fazer essa adaptação, pelo fato da graphic novel dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi já encaminhar esse imaginário de Mauricio de Sousa mais próximo da realidade. Na história, o grande mote para a trama é o sequestro de Floquinho, o cão de estimação de Cebolinha (Kevin Vechiatto), fazendo com que seus amigos Cascão (Gabriel Moreira), Magali (Laura Rauseo) e até a Mônica (Giulia Benite), alvo favorito de seus planos infalíveis para roubar o coelhinho de pelúcia Sansão, se juntem a ele para salvar o cachorrinho verde.
As cores, aliás, inundam as telas na fotografia e direção de arte do longa, cujo cuidado do fã Daniel – que viria a se tornar o montador de obras como Cidade de Deus (2002) e dirigiria pela primeira vez em Bingo: O Rei das Manhãs (2017) – está até na escolha de um sofá ou abajur na cenografia, para trazer o “traço do desenhista para a vida real”. Tendo Mairiporã como locação para a casa da floresta e Paulínia de cenário para os parques, são as cidades de Holambra, também em São Paulo, e Poços de Caldas, em Minas Gerais, que emulam o famoso bairro do Limoeiro dos quadrinhos com ares interioranos e de época, conferindo uma ambientação atemporal que condiz com este universo do autor que marcou tantas gerações. As preocupações atuais da produção tem resultados contrastantes, como a estranheza dos efeitos digitais para deixar o Floquinho verde – mas que estão mais bem acabados do que parecia antes pelos trailers – frente a boa saída de não mostrar a Mônica batendo com o Sansão nos meninos, apenas induzir o espectador através do som e da reação dos outros personagens ao que está acontecendo.
No entanto, a essência desses personagens e do grupo permanece, pois, segundo Thiago Dottori, o “coração” da Turma da Mônica estava presente já em Laços: “cada um passa por uma prova de amizade, porque o coletivo vale mais do que um”, explica o roteirista que também contou com a consultoria de Luiz Bolognesi. A aventura juvenil que remete ao clássico Conta Comigo (1986), depende do quarteto de atores principais, cujo entrosamento é explícito no filme e também fora dele. Na coletiva, um complementava a resposta do outro, enquanto cada um falava de sua relação pessoal com o material: Kevin Vechiatto disse que sempre gostou dos gibis; Gabriel Moreira afirmou que lia depois da lição de casa e sempre adorou o Cascão; Giulia Benite revelou que era um “pouco azeda” quando menor, sendo chamada pela própria família de “Limãozinho”; enquanto Laura Rauseo comentou o fato dos personagens serem queridos tanto por sua bisavó quanto por sua priminha de dois anos – além do fato de ser um pouco Magali também no set, conforme entregaram os colegas.
De acordo com Rezende, esse espírito entre eles foi conquistado desde o trabalho inicial com preparador de elenco Luiz Mauro Vicente, onde cada uma das crianças, que não leram o roteiro, foi incorporando seus personagens. Se o Cebolinha é praticamente um protagonista desta narrativa de Laços, Benite iguala a questão ao dar humanidade à icônica Mônica, especialmente em uma cena-chave que inverte a expectativa do público em relação a suas ações e relação com o garoto que a pentelha por tanto tempo, nessa encruzilhada emocional da entrada na adolescência. Também vale destacar a Magali de Rauseo como o melhor alívio cômico e, entre os adultos, a encarnação da Dona Cebola por Fafá Rennó, trazendo uma preocupação materna comovente, e a participação especial de Rodrigo Santoro – o primeiro a ser convidado para a produção, confessou o diretor – como o Louco, com toda a sabedoria presente no meio da loucura do personagem mais misterioso do universo Mauricio de Sousa, que tem outras figuras e elementos citados em detalhes espalhados pelo filme.
“Se o olho do criador tá brilhando, quer dizer que a gente está no caminho certo”, afirmou Daniel sobre a aprovação do criador para os primeiros passos de suas criaturas em novo território. O cineasta ainda ressaltou que “o brasileiro precisava ver na tela grande esses personagens, que são ícones da cultura popular, em live action”. É bem certo que, ao sair da sessão de Turma da Mônica – Laços, tanto o público nostálgico da sua infância e quanto a plateia da mesma faixa etária que os protagonistas desejarão embarcar em novas aventuras pelo bairro do Limoeiro, reforçando os desejos expressos pela equipe de trabalhar em uma possível continuação.
O roteirista Thiago Dottori, o diretor Daniel Rezende, os atores Gabriel Moreira, Giulia Benite, Kevin Vechiatto e Laura Rauseo, o desenhista Mauricio de Sousa e a coprodutora Mônica Sousa na coletiva de imprensa do filme Turma da Mônica – Laços (2019), em São Paulo, no último dia 17 de junho | Foto: Nayara Reynaud
Turma da Mônica – Laços (2019)
Duração: 97 min | Classificação: 12 anos
Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Thiago Dottori, inspirado na graphic novel "Laços” de Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi e baseado na obra de Mauricio de Sousa
Elenco: Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Fafá Rennó, Monica Iozzi, Paulo Vilhena, Ravel Cabral e Rodrigo Santoro (veja + no IMDb)
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
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