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Foto do escritorNayara Reynaud

ESPÍRITO JOVEM | A Cinderela do synth pop

Atualizado: 27 de fev. de 2021


Elle Fanning em cena do filme musical Espírito Jovem (2018) | Foto: Divulgação (Diamond Films)

A história é antiga, mas o espírito e a roupagem são jovens na estreia do ator Max Minghella como diretor e roteirista. Exibido nos festivais de Toronto e South by Southwest, Espírito Jovem (2018) é mais um conto de fadas sobre o sonho de um(a) adolescente de um lugar desfavorável em alcançar o título de maior prestígio dentro da área na qual tem um talento bruto a ser lapidado. Exemplos semelhantes não faltariam para serem citados, mas o rejuvenescimento da velha trama de competição vem aqui na ambientação em um reality show musical – que se tornaram um hit televisivo do século XXI, embora já existissem antes, até aqui no Brasil com os Festivais da Canção –, na trilha sonora com o pop contemporâneo cada vez mais influenciado pela música eletrônica e na estética entre o neon e filtros de Instagram.

Max, mais conhecido hoje em dia por ser o motorista Nick da série The Handmaid’s Tale (2017-), escolhe um cenário familiar para seu primeiro filme, coproduzido pelo colega Jamie Bell. A Ilha de Wight, localizada ao sul da Inglaterra, é a terra natal de seu pai, o já falecido cineasta Anthony Minghella, que venceu o Oscar de Melhor Direção por O Paciente Inglês (1996) e também foi responsável por O Talentoso Ripley (1999) e Cold Mountain (2003). O território insular que, por sinal, é a sede de um dos famosos festivais de música no Reino Unido, o Isle of Wight, aparece como uma paisagem não muito afeita aos sonhos de fama de Violet Valenski, protagonista vivida por Elle Fanning.

A garota, filha de imigrantes poloneses, vive com a mãe Marla (Agnieszka Grochowska) em uma fazenda que mal conseguem sustentar. Trabalhando como garçonete para ajudar nas contas de casa, as únicas oportunidades que a adolescente tem para cantar fora do seu quarto são no coral da igreja católica que frequentam e na noite de open mic – “microfone aberto”, na tradução literal – de um pub local, cujo público bêbado nem presta atenção na sua voz, com exceção de Vlad (Zlatko Buric). O croata que já teve seus tempos áureos como cantor de ópera, agora se entrega ao álcool, mas é a ele que Violet recorre, primeiro em uma carona, até ele se dispor a ser seu empresário para levá-la mais a frente no “Teen Spirit”, ou “Espírito Jovem”, nome do fictício reality show musical de candidatos juvenis que vai fazer uma de suas audições, pela primeira vez, na ilha.

Os louros e reveses da carreira no mundo artístico, comum em musicais e cinebiografias, é condensado durante o tempo em que se desenrola essa competição. Às vezes, o filme brinca com os chavões desse subgênero, a exemplo da citação sonora à Flashdance: Em Ritmo de Embalo (1983) quando chega a hora da audição. Porém, ao alcançar o terceiro ato e se dedicar à fase final do show televisivo em Londres, finalmente, revelando Rebecca Hall como uma espécie de Simon Cowell na pele de Jules, o roteiro se entrega facilmente às convenções, sem trabalha-las ou subverte-las como antes.

É a estilização de Espírito Jovem que disfarça seu caminho repleto de clichês. Minghella encontra uma estética videoclíptica ao lado da fotografia com flares, neon e a paleta de cores marcada pelo lilás de Autumn Durald – além dos longas O Sol Também é uma Estrela (2019) e Palo Alto (2013), a promissora diretora de fotografia já assinou videoclipes de Arcade Fire, Solange Knowles, London Grammar, Haim e Janelle Monáe – e da montagem de Cam McLauchlin que traz desde a relação de Violet com seu cavalo e suas questões familiares do passado durante a edição frenética das apresentações musicais dela. A linguagem utilizada para acompanhar essa jornada vai de encontro com as músicas que a candidata canta, que têm grande influência do synth pop: Dancing On My Own da Robyn, Lights da Ellie Goulding, Don't Kill My Vibe da Sigrid, Little Bird da Annie Lennox e I Was a Fool da dupla Tegan e Sara, além de Wildflowers, uma canção não lançada que foi composta por Carly Rae Jepsen. O repertório da produção ainda traz uma seleção que equilibra a atualidade com hits nostálgicos, indo de Katy Perry, Ariana Grande e Grimes a one hit wonders da dance music como Better Off Alone e Barbie Girl, junto com uma cena especial ao som de Just a Girl do No Doubt.

O cineasta estreante, porém, mostra a sua voz não só nestes momentos musicais, mas especialmente no plano-sequência que acompanha a protagonista da saída do camarim, passando pelos corredores dos bastidores, até chegar atrás do palco, com a tensão sendo pontuada pelo desenho de som de Matt Waites. Se a sua direção autoral não é acompanhada pelo roteiro de sua própria autoria, que sucumbe ao final com a revelação de sua superficialidade, Max Minghella segura o público pela construção dos personagens que traça com cuidado e paciência ao lado do elenco, na primeira parte do filme. Há dificuldades no relacionamento da protagonista com a mãe, mas a narrativa não a pinta como uma vilã, enquanto desenvolve-se uma relação consistente entre aprendiz e mentor, com o croata vindo ocupar o espaço dessa figura paterna ausente para a jovem.

A voz cativante de Elle Fanning não é o potente o suficiente para o estilo de canto que as competições do gênero exigem, contudo, o texto deixa claro que ela não seria a melhor cantora ali, mas a que mais traz o seu coração para o show. Se as apresentações musicais estão longe de ser tão arrebatadoras quanto prometem ou se espera, a atriz compensa fazendo o público se afeiçoar à Violet que vê fora dos palcos, seja falando em inglês ou polonês. Aliás, a origem eslava e “interiorana” que seria um empecilho para o seu progresso na carreira artística é o que confere a universalidade da história, já que a sensação de deslocamento que ela sente tanto na ilha quanto em Londres é o sentimento mais adolescente desse Espírito Jovem.

 

Espírito Jovem (Teen Spirit, 2018)

Duração: 93 min | Classificação: 12 anos

Direção: Max Minghella

Roteiro: Max Minghella

Elenco: Elle Fanning, Zlatko Buric, Agnieszka Grochowska, Archie Madekwe, Rebecca Hall, Clara Rugaard, Ursula Holliday, Jordan Stephens, Millie Brady e Ruairi O’Connor (veja + no IMDb)

Distribuição: Diamond Films

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