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Foto do escritorNayara Reynaud

BORDER | Sem fronteiras

Atualizado: 26 de fev. de 2021


Eero Milonoff e Eva Melander em cena do filme sueco Border (Gräns, 2018) | Foto: Divulgação (Arteplex Filmes)

Vencedor do prêmio principal na Mostra Un Certain Regard do último Festival de Cannes, o filme sueco Border (2018) provoca, intencionalmente, uma estranheza que vai muito além da aparência de seus protagonistas, obtida pelo ótimo trabalho com protéticos de Göran Lundström e Pamela Goldammer, que foram indicados ao Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado. O segundo longa de Ali Abbasi tem esse espírito provocador não só na assinatura do cineasta iraniano radicado na Suécia, que já havia flertado com o terror em seu début menos expressivo Shelley (2016), mas na marca de John Ajvide Lindqvist em sua origem. Inspirado em seu conto homônimo, publicado na coletânea Let the Old Dreams Die (2005), o roteiro foi escrito pelo próprio autor de Deixa Ela Entrar (2004), romance sobrenatural adaptado pelo cinema sueco em 2008 e por Hollywood em 2010, junto com o diretor e sua colega Isabela Eklöf, estendendo alguns detalhes da trama original para adentrar mais nas discussões da obra, que rondam justamente tudo o que seu título contém.

Logo, o espectador liga o significado em inglês de Border – assim como o original Gräns em sueco – ao fato da personagem principal ser uma agente de segurança alfandegária de um porto, trabalhando no controle da entrada de pessoas que adentram o país através de sua fronteira marítima. Com feições diferentes de seus colegas, graças à maquiagem que esconde os traços reais de Eva Melander, atriz de Flocking (2015) que aparece irreconhecível aqui, Tina é respeitada por eles graças ao seu faro para ler a índole das pessoas. Uma espécie de sexto sentido que a faz detectar se alguém que passa por ali está escondendo algum crime.

Tudo muda, porém, quando seu radar falha com alguém semelhante a ela. Interpretado também sob a maquiagem protética por Eero Milonoff, ator finlandês de O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki (2016), Vore provoca sua desconfiança, justamente por uma ligação que ela mesma não sabe explicar, mas sua revista não dá em nada. A funcionária exemplar que mantém uma rotina desestimulante em casa, em uma relação parasitária de codependência com o marido (Jörgen Thorsson) criador de cães de caça para concursos, se vê instigada a saber quem é esse desconhecido e a entender mais quem ela mesma é.

A ideia de limite territorial, então, se multiplica no decorrer da narrativa para diversos significados, mas já acontece na gênese da obra, cujas fronteiras entre gêneros cinematográficos são ultrapassadas. O universo fantástico da história abarca tanto o drama realista da protagonista quanto o thriller policial e o terror sobrenatural, tendo esse estranhamento já citado como uma forma para não se encaixar em nenhum rótulo. O filme provoca essa sensação para se fazer sentir tão “deslocado” quanto Tina, remontando ao folclore escandinavo ao construir sua alegoria sobre o preconceito e seu medo do desconhecido ou daquilo que é diferente.

Igualmente, Abbasi borra os limites de gênero, no que condiz à sexualidade e seus aspectos reprodutivos a cada revelação que lança para a surpresa da plateia. Contudo, o cineasta deseja levar o público a uma reflexão maior e mais filosófica acerca dos significados dessas fronteiras. Ao envolver um passado de ética científica e familiar questionável e um futuro idílico conquistado a partir de atos imorais, Border coloca Tina e o espectador a pensar sobre a linha tênue entre a moral social e os instintos naturais que definem um ser humano.

 

Border (Gräns, 2018)

Duração: 108 min | Classificação: 16 anos

Direção: Ali Abbasi

Roteiro: Ali Abbasi, Isabela Eklöf e John Ajvide Lindqvist, baseado no conto “Border” de John Ajvide Lindqvist

Elenco: Eva Melander, Eero Milonoff, Jorgen Thorsson, Ann Petrén, Sten Ljunggren, Kjell Wilhelmsen e Rakel Wärmländer (veja + no IMDb)

Distribuição: Arteplex Filmes

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