DE PERNAS PRO AR 3 | Maturada e rejuvenescida

Sete anos depois da continuação De Pernas pro Ar 2 (2012) levar 4,8 milhões de espectadores para os cinemas, confirmando o sucesso da franquia De Pernas Pro Ar, iniciada com o longa de 2010, Ingrid Guimarães volta a encarnar Alice Segretto, buscando menos a repetição da fórmula anterior e mais o amadurecimento da personagem com este tempo que se passou até o lançamento da sequência De Pernas Pro Ar 3 (2019).

Tendo já trabalhado com a atriz em Um Namorado para Minha Mulher (2016), remake brasileiro da comédia argentina de 2008, a cineasta Julia Rezende assume o terceiro capítulo da trilogia, com os méritos de já ter tido êxito com a sua, Meu Passado Me Condena (2013/2015), no mesmo ramo da comédia romântica. A princípio, seu primeiro ato não é muito animador, já que a narrativa e o humor demoram a engrenar e existe certo desencontro na montagem – por exemplo, no corte um tanto repentino da passagem de um clipe em Paris ao som de Je Veux da cantora francesa Zaz para uma sacada no Rio com música ambiente. Mas ainda que não tenha o refinamento de seus trabalhos mais autorais, como Ponte Aérea (2015) e Como É Cruel Viver Assim (2017), a diretora de alguns episódios da série da Netflix, Coisa Mais Linda (2019), logo revela, no tom cômico dramático adotado e nos interesses do filme, a maturidade que leva à franquia antes capitaneada por Roberto Santucci.

Com a própria Ingrid assinando o roteiro, junto com Marcelo Saback e Rene Belmonte, a ideia que sempre permeou os longas sobre a libertação da sexualidade feminina, através desses artigos de sex shop que a Alice conhece e começa a comercializar, encontra questionamentos mais amplos sobre essa mulher contemporânea. O estigma da personagem workholic, comum em tantos longas do gênero e presente no segundo capítulo, retorna, assim como a discussão dessa culpa materna que tanto interessa à estrela da franquia, mas a recorrência disto, pelo menos, é motivo de certa crítica dentro do próprio texto. Se sentindo estrangeira dentro da própria casa, após anunciar sua “aposentadoria” da Sex Delícia, o dilema da protagonista é resgatar essas relações familiares dos quais alguns laços foram perdidos durante o tempo com o marido João (Bruno Garcia) e o filho Paulinho (Eduardo Melo), mas também reencontrar a si mesma e entender aquilo que, individualmente, lhe é essencial, como demonstra, depois de muita neura, em uma conversa didática com a filha Clarinha (a simpática Duda Batista).

Ingrid Guimarães domina a personagem, assim como seu dom para comédia, envolvendo o público nas agruras da sua Alice que, agora, também sofre com ciúmes, profissional e pessoal, da jovem Leona, vivida por Samya Pascotto, que faz uma boa troca nas cenas com a atriz principal – nas quais o filme desenvolve a necessidade, apesar das barreiras geracionais, da sororidade entre as mulheres. Entre o bom elenco, quem também se destaca nos coadjuvantes é Cristina Pereira com a sua empregada Rosa. Para os fãs da franquia, Maria Paula volta com a sua Marcela em uma cena hilária, assim como Cauã Reymond também faz uma participação especial, sem pudor em brincar com sua própria imagem de sex symbol.

De Pernas Pro Ar 3 (2019)

Duração: 119 min | Classificação: 14 anos

Direção: Julia Rezende

Roteiro: Marcelo Saback, Rene Belmonte e Ingrid Guimarães

Elenco: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Denise Weinberg, Samya Pascotto, Eduardo Melo, Duda Batista, Cristina Pereira, Vicent Mangado, Stepan Nercessian, Claudia Mauro, Maria Paula e Cauã Reymond (veja + no IMDb)

Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes

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