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Foto do escritorNayara Reynaud

DUMBO | Voando por novos ares

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Colin Farrell, Nico Parker e Finley Hobbins em cena do novo filme Dumbo (2019), versão em live action da animação clássica da Disney | Foto: Divulgação

Quando fez Alice no País das Maravilhas (2010) no começo desta década, talvez, Tim Burton nem imaginaria que o seu trabalho seria o primeiro de um grande movimento de versões live action de clássicos da Disney. O tempo passou e, neste ano, o estúdio tem nada menos do que três lançamentos do tipo previstos: o aguardado O Rei Leão (2019) em julho, o incerto Aladdin (2019) em maio e, agora neste final de março, Dumbo (2019), que tem na direção o mesmo nome envolvido no início disso tudo. A predileção do cineasta pelos desajustados e seres considerados estranhos pelos outros, como no clássico Edward Mãos de Tesoura (1990) e no último O Lar das Crianças Peculiares (2016), parece caber exatamente à trajetória do bebê elefante que nasce com orelhas gigantes e ao cenário circense com suas excentricidades.

A história infantil foi escrita por Helen Aberson e ilustrada por Harold Pearl em 1939, sendo logo comprada pela Disney que, vindo de dois fracassos anteriores e em pleno período de guerra, encontrou em Dumbo (1941) a salvação que a empresa precisava. Contudo, se o livro não era extenso, tampouco o filme que, até por uma questão de orçamento, tem apenas 64 minutos de duração. Praticamente duplicando este tempo, Burton e Ehren Kruger, roteirista de O Chamado (2002) e A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017), fazem deste live action, portanto, quase uma continuação da animação.

A trama do clássico é condensada dentro do primeiro ato, com o voo do elefantinho não sendo mais o clímax da obra, e sim a virada para o segundo ato. Assim, outra história, com novos personagens e cenários são apresentados, até mesmo antes de Dumbo nascer, com o animal perdendo parte de seu protagonismo ao ceder seu tempo e destaque na narrativa para a família Farrier e toda sua família circense. No lugar do rato falante Timóteo, que surge em uma referência rápida para os fãs do desenho, entram crianças humanas, a garota aspirante a cientista Milly (Nico Parker, filha da atriz Thandie Newton e do diretor Ol Parker) e seu irmão Joe (o também estreante Finley Hobbins), para estabelecer esta amizade com o filhote de elefante.

Ambientado exatamente um século atrás, em 1919, o filme acompanha, primeiro, os dois à espera do pai, Holt Farrier (Colin Farrell), que volta da Primeira Guerra Mundial, mas nada mais é o mesmo. O domador de cavalos que virou soldado retorna do combate com um braço amputado e os filhos, que não viu crescer, ainda perderam a mãe, tornando difícil a relação entre o viúvo e os semi-órfãos. Desta maneira, esse olhar para uma paternidade em reconstrução caminha junto com a separação da figura materna que sempre foi o ponto principal da narrativa e da emoção da história do Dumbo, mais do que sua epifania nos ares.

A atualização vem também nas citações à produção de 1941, a exemplo da canção Baby Mine, gravada agora pelo Arcade Fire, e da brincadeira de que “sem bebidas para bebês”, tanto que a sequência alucinógena do protagonista bêbado vendo elefantes cor de rosa são eficientemente substituídas em outra situação de encantamento dele com as bolhas dançantes. Outra saída criativa está em aliar a narrativa à preocupação contemporânea com o uso de animais em circos. No entanto, ao mesmo tempo em que se distancia do original, as referências a ele e o tom mais adulto do roteiro e da ação dão a sensação do longa ser feito mais para aqueles que cresceram assistindo a animação do que para as novas gerações: por mais que o CGI mantenha a fofura do bebê elefante pelo olhar, o conteúdo e a duração podem não interessar tanto às crianças menores, aumentando a faixa etária do público-alvo.

Ainda assim, o novo Dumbo é um filme família com o selo Burton de excentricidade atenuado para atender a todos os públicos, mesmo que sem tanto potencial para se estabelecer como outro clássico. Oferece uma bela mensagem sobre aceitação para a plateia infantil – e, por que não, para a adulta? – enquanto carrega outra crítica para a audiência mais madura na sua trama adjacente, em que a fantástica atração do Circo dos Irmãos Medici, comandado por Max (Danny DeVito), acaba atraindo o grande empresário do entretenimento V. A. Vandevere, vivido por Michael Keaton que, junto com Eva Green na pela da acrobata aérea Colette Marchant, completa o trio de figurinhas favoritas do cineasta. No desenvolvimento dela, se algum espectador fizer um paralelo com a própria Disney e até os desdobramentos de sua recente aquisição da Fox, talvez, não seja mera coincidência.

 

Dumbo (Dumbo, 2019)

Duração: 112 min | Classificação: 10 anos

Direção: Tim Burton

Roteiro: Ehren Kruger, baseado na história infantil “Dumbo” de Helen Aberson e Harold Pearl

Elenco: Colin Farrell, Michael Keaton, Danny DeVito, Eva Green, Alan Arkin, Nico Parker, Finley Hobbins, Roshan Seth, Lars Eidinger, Deobia Oparei, Joseph Gatt, Miguel Muñoz Segura, Zenaida Alcalde e Douglas Reith (veja + no IMDb)

Distribuição: Disney

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