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SUPREMA | Peça por peça

  • Foto do escritor: Nayara Reynaud
    Nayara Reynaud
  • 15 de mar. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 25 de fev. de 2021


Felicity Jones em cena do filme Suprema (2018) | Foto: Divulgação (Diamond Films)

Nesta época em que, por bem ou por mal, a população brasileira passou a conhecer mais os nomes que compõem o Supremo Tribunal Federal, o mesmo aconteceu, nos últimos anos, nos Estados Unidos com sua Suprema Corte. A diferença é que lá, a segunda mulher a entrar na mais alta corte da Justiça norte-americana se tornou um ícone também da cultura pop, como bem mostra o documentário RBG (2018), de Betsy West e Julie Cohen, duplamente indicado ao Oscar. Mas se a produção documental percorre toda a biografia da famosa magistrada Ruth Bader Ginsburg, a cinebiografia lançada no mesmo ano, Suprema (2018), prefere focar nos primeiros passos de sua tão celebrada carreira profissional, com a britânica Felicity Jones encarnando a nova-iorquina judia, nativa do Brooklin, no novo longa de Mimi Leder.

O recorte vai de vai de 1956 aos agitados anos 1970 para mostrar suas dificuldades, primeiro, em ser respeitada pelos colegas e professores como uma das nove mulheres de sua turma em Harvard, depois, os impedimentos para advogar em Nova York até começar a defender, no tribunal, os casos de discriminação por gênero que detalhava em suas aulas. Enquanto apresenta a vida pessoal daquela que era conhecida como Kiki entre sua família, a narrativa se vale dessas diversas barreiras impostas às mulheres, social, cultural e legalmente, para apresentar a trajetória de Ruth tendo de provar sua competência insistentemente. Uma intimidade adquirida pelo fato do roteirista de primeira viagem, Daniel Stiepleman, ser o sobrinho dela, equilibrando o drama pessoal com os anseios sociais de agora e outrora.

A diretora faz questão de representar visualmente essa discrepância das mulheres em relação aos homens na sociedade ao tirar proveito da diferença de altura entre a protagonista e o marido Marty Ginsburg, interpretado por Armie Hammer, usando o plongée e contra-plongée para intensificar essa sensação. É como se a Mimi Leder aproveitasse a oportunidade para expurgar a desigualdade que encontrou em sua própria carreira. Sendo uma das poucas a ter tido espaço no gênero de ação, com O Pacificador (1997), Jogo Entre Ladrões (2009) e um dos filmes catástrofe mais memoráveis, Impacto Profundo (1998), as críticas ao seu “drama inspirador” Corrente do Bem (2000) – do qual este último trabalho mais se aproxima no tom – pesaram mais do que os sucessos anteriores, levando-a a se dedicar às séries de TV e demorar quase uma década para fazer outro longa.

No entanto, ressente-se a forma tão convencional e pouco criativa com que Suprema retrata uma mulher tão revolucionária para a sua área. A, hoje, “notória RBG” pavimentou, lá atrás, as mudanças pedidas nas ruas ao combater, uma por uma, as leis norte-americanas discriminatórias baseadas no sexo – como reforçam o título original e os diálogos –, dando base legal à luta por igualdade de gênero. Talvez, a obra queira tomar o mesmo rumo de sua biografada naquele período: o da discrição para demonstrar sua competência, nem que seja para fazer uma cinebiografia comum, repleta das mesmas fórmulas de outros filmes genéricos feitos por diretores homens; e o da elegância estratégica para contrapor e apresentar seus argumentos, utilizando da representação de Marty como o companheiro em todos os sentidos da palavra ao apoiar integralmente a esposa da mesma maneira que a protagonista usa o caso de Charles Moritz (Chris Mulkey) para compadecer sua audiência do fato que essa desigualdade é prejudicial para ambas as partes e, assim, entender a batalha feminina diária.

Se esse conservadorismo estético e narrativo é contraproducente ou, de fato, intencional, pode ser uma discussão mais relativa do que a certeza do objetivo bem atingido da produção em apresentar esta personalidade histórica ainda em vida. Mais interessante ainda é como Leder e Stiepleman estabelecem uma relação igualmente de embate e admiração entre mãe e filha, com Ruth e Jane (Cailee Spaeny) desejando a mesma liberdade e igualdade, mas por virem de gerações diferentes, tendo visões diferentes de como praticar este feminismo. No que se constrói neste arco, completando-se com o clímax no tribunal, Suprema faz questão de exaltar àquelas que vieram antes e abriram o espaço que, ainda que limitado, se tem hoje, além da importância da luta presente para as gerações futuras.

 

Suprema (On the Basis of Sex, 2018)

Duração: 120 min | Classificação: 12 anos

Direção: Mimi Leder

Roteiro: Daniel Stiepleman

Elenco: Felicity Jones, Armie Hammer, Justin Theroux, Sam Waterston, Kathy Bates, Cailee Spaeny, Jack Reynor, Stephen Root e Chris Mulkey (veja + no IMDb)

Distribuição: Diamond Films

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