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Foto do escritorNayara Reynaud

AS INESES | Entrevista com o diretor Pablo José Meza

Atualizado: 25 de fev. de 2021


O cineasta argentino Pablo José Meza na pré-estreia brasileira do filme As Ineses (2016) | Foto: Divulgação (Okna Produções)

“Contar com o tom da comédia deixa [o preconceito] exposto de uma maneira maior”, declara o diretor argentino Pablo José Meza que, depois de fazer o coming of age Buenos Aires 100 km (2004) e o drama A Velha dos Fundos (2010), agora trabalha com o gênero da comédia em As Ineses (2016). A coprodução entre Argentina e Brasil, realizada lá pela Cinematres e aqui pela Cubo Filmes, é distribuída aqui pela Okna Produções e estreia nesta quinta (14), o que fez com que o cineasta passasse por terras brasileiras para divulgar o filme que conta a histórias de duas amigas e vizinhas que, por coincidência, tem o mesmo sobrenome, ficam grávidas, têm suas bebês no mesmo dia e, ainda por cima, parecem que têm as filhas trocadas na maternidade. Em entrevista ao NERVOS, Meza fala do seu prazer pelo ambiente interiorano e relações familiares, a comédia como forma de expor o preconceito e uma moral dúbia, o trabalho com as crianças e os brasileiros, incluindo os atores André Ramiro e Rafael Sieg, além de seu próximo longa, como você confere a seguir.

 

Como surgiu a ideia de fazer esta comédia familiar, de costumes, mais uma vez falando desse microcosmo do interior da Argentina?

Pablo José Meza: Em Buenos Aires, dou oficinas de roteiro e uma aluna, Victoria Mammolitti, que é a outra roteirista, começou a escrever o roteiro do As Ineses na oficina. Gostei muito e comecei a dizer a ela que queria que fosse meu próximo filme e começamos a trabalhar o roteiro juntos. Achei muito interessante uma história que fala justamente da família, dos laços familiares. Também fala da moral dupla: das coisas que dizemos, mas fazemos diferente, dos preconceitos, e tudo isso através da comédia. E também, o que tem igual aos meus dois filmes, é que se trata de pequenas histórias, em lugares pequenos, e sempre está presente, tanto em Buenos Aires 100 km, como A Velha dos Fundos, quanto As Ineses, é o interior do país. Nós somos iguais, temos um país muito grande e, muitas vezes, somente mostram as histórias que acontecem na capital e existem milhares de histórias dentro do país e isso me parece muito interessante.

Mas este comentário sobre preconceito e questões morais, para você, são questões típicas do interior da Argentina ou um comentário sobre todo o país?

Não... São próprias da humanidade, da humanidade inteira, não ao menos do interior, ou da Argentina ou do Brasil... Do mundo, eu digo. É como algo muito humano, lamentavelmente, isto do preconceito e da moral dúbia. É algo que temos todos. Contar com o tom da comédia o deixa exposto de uma maneira maior, creio.

Nesta comédia de costumes, que tem um toque da teledramaturgia argentina e um pouco da brasileira também, como foi trabalhar com nomes que são famosos em telenovelas argentinas?

Os atores argentinos que trabalharam em As Ineses são bastante reconhecidos na Argentina, muito reconhecidos. E não são só de telenovelas. Trabalham nelas, mas, por exemplo, Luciano [Cáceres], que faz o Pedro, que um importante diretor de teatro. E Brenda [Gandini], que é quem faz a Carmen, faz séries. María [Leal] é muito maleável e faz dramas, comédias... E Valentina [Bassi] é uma atriz que surgiu do cinema independente argentino. São grandes atores.

De que maneira houve a oportunidade de fazer uma coprodução com o Brasil? E como você chegou até o André Ramiro e Rafael Sieg no elenco?

Para mim, produzir com o Brasil é fantástico. Muitas vezes, se busca coproduzir com países da Europa, porque se pensa que aí você vai encontrar algo melhor. Não se entende que justamente se unem países da mesma América Latina, que têm tanto em comum, possa encontrar recursos técnicos, artísticos e até de financiamento muito grandes. Então, fazer uma coprodução com o Brasil potencializou muito mais o projeto. E André Ramiro chega pelas mãos da produtora de elenco do Brasil que, quando tinham que propor atores brasileiros, me sugeriram o André Ramiro e eu disse claramente que sim.

Já havia visto ele...

... Em Tropa de Elite (2007), sim, e em um par de coisas mais. Sabia que era um grande ator e, quando veio a Buenos Aires, o demonstrou. E já havia trabalhado com o Rafael Sieg antes, em A Velha dos Fundos.

E como foi trabalhar com as crianças?

É maravilhoso! No meu primeiro filme, que foi Buenos Aires 100 km, já havia trabalhado com crianças e foi genial. Chego ao set, brinco com elas e deste jogo vai aparecendo a atuação. Acho que as crianças são muito honestas, te dão tudo o que têm na hora de atuar, não guardam nada. E eu me divirto muito dirigindo crianças.

E você tem algo que pode adiantar sobre um próximo projeto?

Tem um projeto novo que está, na Argentina, tratando de conseguir financiamento. Também fala de uma história pequena que é um pai e um filho que acabam de perder a mãe e iniciam uma viagem de Buenos Aires até Córdoba. E por aí, vem a história dos vínculos entre pai e filho. Dessa vez, ele é maior; tem 11 anos. Como a comunicação que está partida entre esses dois, começa a ter que se ajeitar de alguma forma. E também, fala de uma história pequena sobre um tema maior.

Mas um road movie?

Não tanto. Começa com a viagem, mas aí eles chegam em Córdoba e, aí, é onde mais se desenvolve a história. Mas, como vê, outra vez eu vou para o interior do país. E sou de Buenos Aires, mas me chama muita atenção as histórias e as pessoas do interior.

 

Conexões Nervosas

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Um filme argentino, que também é uma comédia... É uma comédia que tende a ser mais grotesca. Não é uma comédia como As Ineses, que é muito naturalista, e lida com o grotesco. Mas é um filme que fala da moral dúbia também; de famílias, e o que dizem e o que fazem; de como nos vemos frente aos demais. É um filme muito, muito famoso na Argentina. Há gerações que sabem todos os diálogos de memória. O diretor é Alejandro Doria, que foi um grande diretor argentino e já faleceu...

Por exemplo, se for falar de Buenos Aires 100 km, te digo rapidamente que minha referência foi Conta Comigo (1986), porque era um filme muito nesse estilo do que dói passar da infância para adolescência, como é essa arrancada e sem saber onde está. Com A Velha dos Fundos, minha referência foi sempre um cinema mais europeu. Mais os irmãos Dardenne, com mais uma questão de tempo, de visualizar desde longe o que os personagens vão fazendo, são minha grande referência. As Ineses, sempre tive um problema para ancorar uma referência, porque era uma comédia que tocava em um tema muito complicado. Além disso, falava da idiossincrasia, da família, da moral dupla... A única que posso dar como referência é essa.

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