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Foto do escritorNayara Reynaud

HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO | O garoto na diversa teia do Aranha

Atualizado: 24 de fev. de 2021


Cena da animação Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)

Por mais que seja um dos super-heróis mais representados no cinema e na mídia em geral durante este século XXI, a quantidade de lançamentos recentes relacionados ao seu universo, dá a impressão que o ano passado foi do Homem-Aranha. Se o novo intérprete dele, Tom Holland, esteve em Vingadores: Guerra Infinita (2018) e o anti-herói das suas histórias em quadrinhos ganhou o filme solo Venom (2018), o amigo da vizinhança teve destaque mesmo entre o público com o video game Marvel's Spider-Man (2018) e, no finalzinho do período – embora estreie no Brasil neste início de janeiro –, com o longa animado Homem-Aranha no Aranhaverso (2018). Enquanto o jogo encantou a todos com os seus gráficos cada vez mais realistas e belos da Nova York de Peter Parker, é a aparente simplificação de formas e texturas à origem do personagem na HQ, junto com a multiplicidade de técnicas e cores da animação ao apresentar uma Brooklin urbana, que maravilham o público, especialmente na forma como esse cenário espetacular dialoga com a trama em que múltiplas versões do herói, capitaneadas por Miles Morales, se encontram.

A própria produção assinada por Phil Lord e Christopher Miller, de Uma Aventura Lego (2014), tem essa diversidade no DNA, tendo na direção, o animador Bob Persichetti, de O Pequeno Príncipe (2015) e Gato de Botas (2011); Peter Ramsey, diretor de A Origem dos Guardiões (2012); e Rodney Rothman, roteirista de Anjos da Lei 2 (2014) e Ajuste de Contas (2013). É Lord e Rothman quem escrevem esta história de origem sobre Miles Morales (voz original de Shameik Moore), personagem apresentado pela primeira vez nas HQ’s em 2011. Filho de um policial negro (Jefferson Davis) e uma enfermeira latina (Luna Lauren Velez), o adolescente ainda descontente com o fato de estar em uma nova escola, como bolsista na instituição particular, encara um problema maior; primeiro, quando é picado por uma aranha radioativa e, depois, ao assistir à morte de Peter Parker (Chris Pine), enquanto a arma quântica superpoderosa do Rei do Crime (Liev Schreiber) abre uma brecha no “espaço-tempo” que traz as variantes bem diversas do Spider-Man direto de realidades alternativas.

Surge, a princípio, o desacreditado Peter B. Parker (Jake Johnson), já mais velho e separado de Mary Jane (Zoë Kravitz), e a descolada Spider Gwen (Hailee Steinfeld), que encontra uma amizade verdadeira em Miles, além de um interesse mútuo. Depois, entra um novo trio de versões em que cada um também traz consigo novos elementos visuais e referências à produção: o preto e branco dos filmes noir e um pouco de graphic novels adultas no Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), o anime japonês na Peni Parker (Kimiko Glenn) e seu robô SP//dr e os desenhos animados clássicos da Looney Tunes e afins no exótico Porco-Aranha (John Mulaney). Neste sentido, aliás, as cores dos graffitis que Morales gosta de fazer com seu tio Aaron (Mahershala Ali) também infundem em neon a paleta de cores do longa, que vai de tons de rosa e lilás a uma ensolarada Nova York.

O colorido é só uma das facetas da produção que desde sua sinopse com as diferentes versões do herói amigo da vizinhança é uma ode à diversidade, que estabelece um paralelo a esse discurso até no uso das técnicas. A expressão “levar as páginas da obra diretamente para as telas” faz absoluto sentido aqui, já que não só as onomatopeias típicas dos quadrinhos surgem no decorrer das cenas, mas igualmente traços de movimentos dos personagens e a textura pontilhada também associados às HQ’s. A superfície simples, à primeira vista, da animação 2D, porém, carrega toda a profundidade e efeitos do 3D, assim como a movimentação exagerada dos cartoons encontra a inspiração na fotografia de filmes live action de ação ou de arte, como a referência do cineasta mexicano Alfonso Cuarón, citada por um dos diretores de arte do longa, Patrick O’Keefe – que vem dos games e trabalha pela primeira vez no cinema –, em entrevista à Polygon.

Citações, por sinal, não faltam aos fãs, que provavelmente precisarão de uma revisão para absorver todo o fan service oferecido até o pós-créditos. Além da familiaridade para a plateia não tão fanática, com a aparição de Stan Lee ganhando um peso maior por ser a primeira de um filme da Marvel após a morte do quadrinista em novembro passado; as questões familiares que sempre tiveram peso no desenvolvimento do herói; e ainda a utilização de um meme do Homem-Aranha que todo mundo entende. Tudo isso com um equilíbrio salutar entre humor e os pequenos dramas que movem os personagens, em que a mesma lógica de sua forma se aplica ao seu conteúdo: simplificar para tornar denso.

Se a trama em si é como tantas outras histórias de origem, apesar das explicações quânticas do multiverso e da introdução e integração de cada um dos personagens que poderiam tornar complexo seu entendimento, são os detalhes que dão profundidade à narrativa. Há a própria questão da representatividade que Miles Morales carrega com sua origem birracial e se manifesta sem que isso seja uma bandeira levantada ostensivamente pela produção. E a diversidade de versões do Teioso cabe aos múltiplos caminhos que se apresentam neste momento de formação do adolescente, nesta animação que também tem um pouco de coming of age, embora a premissa e todo o desenvolvimento de Homem-Aranha no Aranhaverso façam da obra um perfeito exemplo da multiplicidade e fragmentação da pós-modernidade.

 

Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018)

Duração: 117 min | Classificação: 10 anos

Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman

Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman

Elenco: vozes de Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Luna Lauren Velez, Zoë Kravitz, John Mulaney, Kimiko Glenn, Nicolas Cage, Kathryn, Liev Schreiber, Chris Pine e Oscar Isaac (veja + no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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