EMMA E AS CORES DA VIDA | Cegueira seletiva
Atualizado: 20 de fev. de 2021
A abertura e o encerramento, com a tela preta e o espectador apenas ouvindo a interação dos personagens em uma instalação que justamente instiga outros sentidos sem o uso da visão, são os pontos altos de Emma e as Cores da Vida (2017), apesar do clichê do novo filme de Silvio Soldini que tem como co-protagonista justamente uma deficiente visual. A bela Valeria Golino, de Minha Filha (2018) e Rain Man (1988) é quem dá vida à Emma do título, mas o protagonista de fato é Teo, interpretado por Adriano Giannini, de As Conseqüências do Amor (2004) e Destino Insólito (2002), como aquela pessoa vidente – com a capacidade de enxergar e não mediunidade, neste caso –, cuja cegueira se manifesta na hora de ver sua própria vida e a si mesma. E como é de se esperar do diretor de Pão e Tulipas (2000), este é mais um exemplar em sua filmografia repleta de romances, no qual o encontro dos dois vai transformá-lo(s).
O longa, exibido no Festival de Veneza do ano passado e na última 8 ½ Festa do Cinema Italiano, segue fórmulas para lá de conhecidas. Téo é o homem mulherengo, que trai a namorado com quem evita morar junto, e sem ligações reais por conta de problemas não-resolvidos com a família. Ao se encantar primeiro pela voz sexy de Emma, é um desafio bem torpe masculino que o faz correr atrás da osteopata cega, mas com ela o publicitário descobre um amor que até então não tinha encontrado – e, claro, através dela, consegue ter a ideia que precisava para uma campanha difícil.
O trunfo de Soldini está na sua experiência com o tema, pois o cineasta já registrou o dia-a-dia de um grupo de cegos no documentário Per Altri Occhi / Diferente Eyes (2013) e usa aqui para mostrar as dificuldades e uma rotina prática diferente do que o público espera, apresentados nesta ficção em diferentes estágios, idades e forma de lidar com sua deficiência visual. Há um momento-chave em que a direção dele consegue emular a desorientação física e emocional de Emma, mas de resto, opta por escolhas criativas mais formais.
Ainda assim, o italiano, que geralmente trabalha com a comédia como chave em seus romances, utiliza uma abordagem mais dramática aqui, tendo Patty (Arianna Scommegna), amiga dela que tem visão parcial, como único ponto de alívio cômico em uma narrativa que carece um pouco de leveza e/ou de profundidade em seus personagens no roteiro escrito em conjunto com Davide Lantieri e Doriana Leondeff. Por mais que o espectador possa torcer pela recuperação de um cafajeste amável como Teo, é duro ver que tal desenvolvimento do protagonista seja feito às custas de duas mulheres, de sua namorada Greta (Anna Ferzetti), totalmente subdesenvolvida, e seu novo interesse romântico Emma. Trata-se de um amor que, ainda ao final, a plateia sabe mais sobre a intimidade daqueles dois amantes do que eles mesmos sobre o outro. Por fim, talvez para Soldini, amar seja mesmo um tiro no escuro.
Emma e as Cores da Vida (Il Colore Nascosto delle Cose, 2017)
Duração: 115 min | Classificação: 14 anos
Direção: Silvio Soldini
Roteiro: Davide Lantieri, Doriana Leondeff e Silvio Soldini
Elenco: Valeria Golino, Adriano Giannini, Arianna Scommegna, Laura Adriani, Anna Ferzetti e Andrea Pennacchi (veja + no IMDb)
Distribuição: Arteplex Filmes
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