ROBIN HOOD – A ORIGEM | Robin Hood só para millenniums
Atualizado: 10 de out. de 2021
Quando pede para o espectador esquecer tudo que conhece sobre essa história, a narração inicial já deixa clara ao público que Robin Hood – A Origem (2018) se trata de uma reimaginação da lenda deste herói inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres, levada diversas vezes à tela por Hollywood. Taron Egerton, mais conhecido pelo seu protagonista em Kingsman, encarna um Robin Hood mais jovem que o comum nas representações da figura medieval nesta produção que se estabelece não apenas como um filme de origem, mas uma versão modernizada do mito. O longa-metragem de Otto Bathurst, diretor de séries e telefilmes britânicos, incluindo o primeiro episódio de Black Mirror (2011-), emprega essa visão desde a agilidade da narrativa e da ação aos figurinos de influências contemporâneas.
Escrito pelos estreantes Ben Chandler e David James Kelly, o roteiro apresenta Robin de Loxley como um nobre despojado que conhece Marian (Eve Hewson) e seu ímpeto de ajudar os mais necessitados, se apaixona por ela, mas tem o seu romance interrompido ao ser convocado para servir na Arábia, durante as Cruzadas. Vendo as injustiças da Guerra Santa, ele é deportado e seguido por Jamie Foxx na pele do mouro Yahya, simplesmente chamado de John, com o intuito de preparar o antigo inimigo e fazer dele um instrumento para ambos se vingarem do Xerife de Nottingham (mais um vilão para a conta de Ben Mendelsohn). A autoridade local e a Igreja Católica são os opressores aqui, estranhamente, liberando a Coroa inglesa da representação vilanizada da história, real ou não, ocorrida nos tempos de Ricardo I, o “Ricardo Coração de Leão”.
Com uma ênfase maior no contexto político da lenda, a vingança pessoal encontra propósitos coletivos nos altos impostos cobrados do povo oprimido para custear a guerra e, mais essencialmente, manter a elite no poder. Existe uma tentativa de conferir complexidade ao xerife, apontando ele como um órfão que se uniu àqueles que o oprimiam para poder ascender socialmente, tal qual a Will Scarlet (Jamie Dornan), o atual marido de Marian que se estabelecer como uma figura política que luta pela população pobre do condado e se opõe à imagem do ladrão que busca justiça social por caminhos tortos. No entanto, nem o desenvolvimento dos personagens atinge a profundidade necessária quanto a politização do discurso encontra um terreno maior dentro do entretenimento principal, embora não seja apenas um acessório narrativo.
Seguindo a linha de uma versão para millenniums de lendas clássicas, inaugurada com Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017), Bathurst brinca com a velocidade nas cenas de ação, entre acelerações de imagem e slow motion, como Guy Ritchie, porém, imprimindo uma narrativa e um visual mais inteligíveis para a plateia se entreter minimamente. Se esse artificialismo é proposital neste ambiente medieval modernizado e bem estruturado na maioria das sequências, a de uma perseguição noturna traz planos fechados em um chroma key trabalhado de maneira primária que destoa do resultado até então. No clímax, com a revolta do povo sendo encenada como os protestos mais violentos da atualidade, o novo Robin Hood ganha um aspecto mais contemporâneo, ao ponto de estampar sua salada atemporal nos créditos finais, cuja arte mescla construtivismo russo com arte de rua de Banksy.
Robin Hood – A Origem (Robin Hood, 2018)
Duração: 116 min | Classificação: 14 anos
Direção: Otto Bathurst
Roteiro: Ben Chandler e David James Kelly
Elenco: Taron Egerton, Jamie Foxx, Ben Mendelsohn, Eve Hewson, Jamie Dornan, Tim Minchin, Paul Anderson, F. Murray Abraham, Ian Peck e Cornelius Booth (veja + no IMDb)
Distribuição: Paris Filmes
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