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Foto do escritorNayara Reynaud

UM DIA | As mais de 24 horas do dia de uma mãe

Atualizado: 9 de out. de 2022


Zsófia Szamosi e Márk Gárdos em cena do filme húngaro Um Dia (2018) | Foto: Divulgação (Zeta Filmes)

Era Um Dia (2018), como outro dia qualquer na vida de Anna (Zsófia Szamosi). Ou não. Em seu longa de estreia, a cineasta Zsófia Szilágyi acompanha 36 horas da rotina de uma mãe de três filhos, desde a noite anterior em que ela se apercebe da tensão e traição iminente do marido (Leó Füredi) com uma amiga (Annamária Láng) à banalidade de seu dia-a-dia materno que se torna extraordinária no tal dia do título do filme húngaro, que levou o prêmio FIPRESCI na Semana da Crítica no Festival de Cannes deste ano.

O casal de classe média está em plena crise matrimonial e financeira, como fica claro já de início e nas coisas que precisam de concerto naquele lar. Mas se ele não é vilanizado pelo roteiro da jovem diretora e de Réka Mán-Várhegyi, há um heroísmo cotidiano e não condescendente na narrativa que cria empatia por ela. Trabalhando fora e dentro de casa, a professora de italiano enfrenta o trânsito e os problemas domiciliares, desde a torneira quebrada ao planejamento das próximas férias, enquanto sofre com as pressões da maternidade: além da mais difícil tarefa de todas, educá-los, lida com as demandas de cada um dos três filhos, o sonhador e esquecido Simon (Ambrus Barcza), a hiperativa e afrontosa Sári (Zorka Varga-Blaskó) e o pequeno Márkó (Márk Gárdos) que fica doente.

O cansaço de Anna se acumula durante o dia / a história, sem que ela encontre uma brecha para conversar direito com o marido ou poder ao menos sofrer em paz – o que vai desembocar no desfecho do longa. Zsófia Szamosi, presente no curta premiado no Oscar Sing / Mindenki (2016), demonstra isso nos detalhes, especialmente no não-dito por essa mãe, que interessantemente se contrasta com a cacofonia que a cerca, destacada no desenho de som de Tamás Székely. Sua interpretação é a força motriz de uma obra que se apresenta como um “filme de atriz”, mas que não se sustentaria sem o rigor narrativo não aparente da direção e do texto.

Szilágyi, aliás, foi assistente de direção de Corpo e Alma (2017), de Ildikó Enyedi, o indicado da Hungria ao Oscar deste ano, e fez o casting do compatriota Sunset / Napszállta (2018), de László Nemes, o representante do país para tentar uma vaga na próxima edição do prêmio da Academia e também vencedor do prêmio da crítica internacional, só que no Festival de Veneza. Do cineasta deste último, que ganhou o Oscar com O Filho de Saul (2015), ela usa, em escala bem menor, o mesmo senso de contenção e claustrofobia através dos enquadramentos próximos. E junto com os dois, a diretora já coloca o seu début como um dos expoentes do cinema húngaro contemporâneo, cujo naturalismo excruciante conversa com a excelente produção do Leste Europeu, que encontrou novo fôlego com a Nouvelle Vague Romena e encontra ecos na Bulgária, na Polônia, nos Balcãs e por aí vai.

 

Um Dia (Egy Nap, 2018)

Duração: 99 min | Classificação: 12 anos

Direção: Zsófia Szilágyi

Roteiro: Réka Mán-Várhegyi e Zsófia Szilágyi

Elenco: Zsófia Szamosi, Leó Füredi, Ambrus Barcza, Zorka Varga-Blaskó, Márk Gárdos, Annamária Láng e Éva Vándor (veja + no IMDb)

Distribuição: Zeta Filmes

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