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Foto do escritorNayara Reynaud

CORAÇÃO DE COWBOY | Deixei de ser caipira por ela

Atualizado: 14 de fev. de 2021


Thaila Ayala e Gabriel Sater em Coração de Cowboy (2018) | Foto: Divulgação (Dodô Filmes)

Um dos gêneros musicais mais populares do Brasil e que hoje domina as paradas de sucesso de rádios, TV e streaming no país, o sertanejo é proporcionalmente pouco representado no cinema nacional. Desde o imaginário caipira apresentado nos filmes de Mazzaropi, a música sertaneja teve um momento de destaque nas telas com os longas inspirados em canções de sucesso dos anos 1970, com O Menino da Porteira (1976) e Estrada da Vida (1980), e só ganhou atenção nos últimos anos com 2 Filhos de Francisco (2005) e o remake O Menino da Porteira (2009). Com versões de sucessos de Chitãozinho e Xororó, que inclusive apoiam a produção, Coração de Cowboy (2018) chega aos cinemas com a intenção de suprir essa lacuna, mas também pontuar a sua crítica sobre o cenário atual do gênero.

Para tanto, o cineasta estreante em longas Gui Pereira, se vale uma narrativa já conhecida do pop star insatisfeito com o trabalho mais comercial que anda fazendo. Vários telefilmes do Disney Channel e até o nacional juvenil Gaby Estrella (2016), em que a cantora teen também retorna às origens no interior. “Não é só a música sertaneja, pode trocar o gênero, até o trabalho”, explicou o diretor durante a coletiva de imprensa do filme, na semana passada (24) em São Paulo, comentando que se trata de uma história universal de perda de identidade.

O público conhece o jovem Lucca, interpretado por Enrico Lima, sofrendo com a perda do irmão e companheiro de palco Guga, um drama que vai moldar sua trajetória e o difícil relacionamento que tem com o pai Joaquim (Jackson Antunes). Logo, entra Gabriel Sater como o protagonista que, agora, está estourado nas paradas com um hit do sertanejo universitário, mais próximo do pop do que das raízes do gênero, ao qual ele pretende voltar. Reatar os nós das relações dele com o que restou de sua família, a música e amiga e também parceira do trio que formava na sua infância, Marcelle (Giulia Nassa / Thaís Pacholek), além de se interessar pela dona do bar local, Paula (Thaila Ayala).

Para alguns do elenco, o filme foi igualmente uma volta às raízes. Thaila Ayala, que cresceu em Presidente Prudente, mas logo que chegou ao Rio, foi obrigada a falar com “sotaque carioca” para conseguir os papéis, disse aos jornalistas que ficou encantada ao ver Rio Negro e Solimões e tantas outras duplas cantando ali tão de perto. Thaís Pacholek buscou este “olhar interiorano” nas primas de Jacarezinho, no Paraná, enquanto Giulia Nassa, que faz sua personagem quando adolescente, procurou esse contato com o próprio pai, nascido na cidade paulista de Botucatu. E se Guile Branco, que interpreta seu marido na trama, não tinha esse background, tal qual o garoto Enrico Lima, Françoise Forton recebeu o convite para participar da produção logo após cantar justamente Evidências na peça Amor de Vinil (2016).

A mais pedida dos karaokês do Brasil e outras canções deram a Lucas Lima a chance de “revisitar o repertório de Chitãozinho e Xororó”, já que o membro da Família Lima e também genro de Xororó é o responsável pela trilha sonora. Rio Negro e Solimões, Marcos e Belucci, Família Lima, Rick Sollo, Allison Lima, em participações especiais, interpretam essa playlist no cenário etéreo do bar interiorano, que, na realidade, assim como sua sonoridade, tem um ar americanizado. Fazendo mais jus ao cowboy do título do que à crítica feita ao sertanejo atual com suas letras hedonistas, traz a rabeca e o bandolim à frente da viola caipira em arranjos mais country que são lindos, mas soam contraditórios ao discurso. O sertanejo raiz aparece em sua essência na melhor cena do longa, em que Jackson Antunes canta Fogão de Lenha, a música que fez o cineasta lembrar suas origens e ter a ideia para o filme.

É Antunes, aliás, que se destaca, mesmo com um tipo que lhe é comum, a em meio a um elenco bem irregular em sua interpretação e que motiva a cena que, para Gabriel Sater, foi a mais difícil de filmar, na qual canta para o pai. Filho de Almir Sater, o cantor que já trabalhou na novela Meu Pedacinho de Chão (2014), ainda está cru, mas tem carisma para atrair grande parte da plateia, enquanto Thaila, apesar de ser um interesse romântico construído superficialmente, demonstra uma evolução no seu trabalho. No entanto, a irregularidade vem igualmente da direção do iniciante Pereira que, apesar de já ter feito videoclipes, não consegue solucionar a restrição da produção e tornar crível um grande show de Lucca – no qual há ainda o exagero do roteiro de vaias do público, e não a indiferença que seria mais crível, quando o artista resolve cantar em outro estilo, num registro mais acústico e romântico – ou as cenas de luta, para ficar nos exemplos mais gritantes. É na relação paternal, portanto, que o Coração de Cowboy consegue atingir o coração do espectador.

Guile Branco, Lucas Lima, Gui Pereira, Enrico Lima, Gabriel Sater, Thaila Ayala, Thaís Pacholek, Giulia Nassa e Françoise Forton na coletiva de imprensa do filme Coração de Cowboy (2018), no Villa Country, em São Paulo | Foto: Nayara Reynaud

Guile Branco, Lucas Lima, Gui Pereira, Enrico Lima, Gabriel Sater, Thaila Ayala, Thaís Pacholek, Giulia Nassa e Françoise Forton na coletiva de imprensa do filme Coração de Cowboy, no Villa Country, em São Paulo | Foto: Nayara Reynaud

 

Coração de Cowboy (2018)

Duração: 114 min | Classificação: 12 anos

Direção: Gui Pereira

Roteiro: Gui Pereira, Lara Horton e Jonathan London

Elenco: Gabriel Sater, Jackson Antunes, Thaila Ayala, Thaís Pacholek, Guile Branco, Françoise Forton, Nayara Castro, Enrico Lima e Giulia Nassa (veja + no IMDb)

Distribuição: O2 Play

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