MARVIN | O seu destino eu sei de cor
Atualizado: 13 de fev. de 2021
Tal qual a famosa música homônima dos Titãs, mas com a qual não guarda nenhuma relação de fato, o novo filme de Anne Fontaine, Marvin (2017), tem na figura do pai a personagem mais interessante e complexa da história. Se há um mérito nisso por parte da produção que foi, no ano passado, vencedora do Queer Lion em Veneza, prêmio dedicado a títulos de temática LGBT no festival, e já esteve na seleção deste ano do Festival de Cinema Francês Varilux, também há por outro lado o problema com a falta dessa mesma substância no seu protagonista. No caso, inspirado livremente, ainda que não oficialmente, na autobiografia Édouard Louis, O Fim de Eddy (2014), e suas confissões sobre crescer sendo gay, mesmo que tentando lutar contra isso, no interior da França.
A cineasta francesa de obras bem variadas dentro de sua filmografia, que tem Agnus Dei (2016) e Coco Antes de Chanel (2009) como destaques, constrói a narrativa deste coming of age em dois estágios de mudança. Um é o das lembranças da entrada do franzino Marvin na (pré-)adolescência, vivido com vigor pelo pequeno Jules Porier, quando o seu jeito mais efeminado se torna mais visível para o preconceito, seja evidenciado no bullying dos colegas de escola ou nas brigas dentro de casa. O outro, no momento presente, acompanha o jovem, já na pele do mais inexpressivo Finnegan Oldfield, no início de sua vida adulta, tentando se firmar como ator em Paris.
Estes dois pontos se entrecortam na narrativa, como se o rapaz, assim como o autor que inspirou o personagem, procurasse matar o Marvin Bijou do passado ao assumir outro nome, Martin Clément, enquanto, no fundo, busca se reconciliar com ele. Mas neste novo cenário urbano, o aspirante tem a chance de entrar em contato com uma diva do ofício, mais exatamente Isabelle Huppert interpretando ela mesma em uma participação especial, como também cair na armadilha de um relacionamento com um homem mais velho e rico. Se Paris não é confortável para o protagonista, muito menos para o público que, neste vaivém do roteiro e da montagem, sente a perda de ritmo quando a trama vai para o que seria a agitação da capital e encontra como guia alguém pouco dimensional, definido apenas como amante do teatro, um jovem deslumbrado com o seu poderoso parceiro e pelos traumas passados.
O Marvin adulto é tão refém do adolescente quanto esta frente do filme é da vividez encontrada no cenário desvalido de uma França interiorana e pobre, em que se encontra o tal pai dele. Na atuação de Grégory Gadebois, a figura paterna opressora ganha camadas com a construção de um homem iletrado e alcoólatra, que não é apenas agente, mas sim resultado de um preconceito arraigado culturalmente. Uma pena que no momento “Marvin, agora é só você”, o filho das telas não consiga ultrapassar seu papel de vítima e atingir a mesma complexidade e conferir o mesmo ao filme no estudo da homofobia que começa a traçar bem.
Marvin (Marvin ou La Belle Éducation, 2017)
Duração: 115 min | Classificação: 16 anos
Direção: Anne Fontaine
Roteiro: Pierre Trividic e Anne Fontaine
Elenco: Finnegan Oldfield, Jules Porier, Grégory Gadebois, Vincent Macaigne, Catherine Salée, Catherine Mouchet, Isabelle Huppert e Charles Berling (veja + no IMDb)
Distribuição: A2 Filmes / Mares Filmes
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