ONDE ESTÁ VOCÊ, JOÃO GILBERTO? | A busca como próprio fim
Atualizado: 27 de dez. de 2020
Nascido na França e tendo a sua vida estabelecida na Suíça, o documentarista Georges Gachot é um grande apaixonado pela música brasileira e já expressou isso em vários trabalhos sobre nomes importantes da MPB, com Maria Bethânia: Música é Perfume (2005), Nana Caymmi em Rio Sonata (2010) e O Samba (2014). Voltando o seu olhar para a Bossa Nova, mais especificamente para aquele que é considerado o “Pai” do ritmo musical surgido no Rio de Janeiro, nos anos 1950, o cineasta enfrenta um desafio inédito no seu novo filme Onde Está Você, João Gilberto? (2018). Como fazer um documentário sobre uma pessoa viva, mas que não deseja ser encontrada como o cantor João Gilberto, há anos recluso em seu apartamento e quartos de hotéis da mesma zona sul carioca em que começou a história do “um banquinho e violão” que marcou o gênero.
Para realizar a sua procura pelo artista, o diretor franco-suíço se inspira em uma busca anterior, realizada pelo jornalista alemão Marc Fisher e descrita em seu livro Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto (2011). Remontando os passos do autor, Gachet lê em alemão as palavras de Fisher, enquanto conversa em francês com Miúcha, cantora e ex-esposa de João; faz perguntas em inglês para Raquel, colaboradora na pesquisa do escritor, que a batizou de Watson nas páginas de sua publicação e se autodenominava Sherlock em sua missão impossível; e tenta falar em português com o cozinheiro do prato favorito de Gilberto, seu cabelereiro, enfim, pessoas que o atendem em seu autoexílio no Rio, de acordo com as exigências do cantor. Ao lado da mesma Raquel, o cineasta frequenta lugares que ambos, biografado relutante e escritor obcecado, frequentavam, além de colher depoimentos de João Donato, antigo parceiro de composições do artista, que não vê há décadas; Marcos Valle, que só o “conhecera” por telefone; e o empresário dele, que passa a lhe dar esperanças de um possível contato, ainda que indireto, com seu ídolo.
Apesar do título, Onde Está Você, João Gilberto? se torna mais interessante quando se volta para Marc Fisher e homenageia a sua memória. Na idolatria que alimenta ambas as obras, a busca em si, por sua obsessão intrínseca, alimenta seus autores e, no caso do escritor, tal qual Sísifo em seu mito grego, parecia fugir de seu fim que, para ele, significou a sua perdição com o alemão se suicidando dias antes do lançamento do livro. Exibido na abertura do último In-Edit Brasil e no Festival de Locarno deste ano, o longa traz a frustração como sua essência e, talvez, propósito na sua procura pelo que lhe é inatingível que o distinguem da média dos documentários musicais; mas frustra, sem querer, o espectador por certa passividade naquilo que tem em mãos.
Onde Está Você, João Gilberto? (Wo bist du, João Gilberto?, 2018)
Duração: 107 min | Classificação: Livre
Direção: Georges Gachot
Roteiro: Georges Gachot e Paolo Paloni, inspirado no livro “Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto” de Marc Fisher (veja + no IMDb)
Distribuição: Imovision
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