ROBIN WILLIAMS: ENTRE NA MINHA MENTE | O vício pelo riso não decifrado
Atualizado: 9 de mai. de 2020
Um dos principais desafios – talvez, o maior – de um documentário, seja biográfico ou não, é captar o espírito de seu retratado ou tema e, especialmente no primeiro caso, sem se envolver tanto com tal personalidade a ponto de não apresentar uma visão crítica sobre ela. No entanto, tendo como foco um artista tão querido pelo público como Robin Williams, Marina Zenovich, premiada com dois Emmys pela direção e roteiro do documentário Polanski: Procurado e Desejado (2008), sofre com este dilema em seu último trabalho. A diretora se rende à figura carismática do ator e comediante em vez de adentrar realmente na sua persona, como promete a produção da HBO Robin Williams: Entre na Minha Mente (2018), que estreou no último Festival de Sundance e chega à HBO Brasil nesta segunda (6).
O longa passeia de forma cronológica pela vida de seu biografado em quase 100% dos seus 116 minutos de duração, indo do interesse pelo teatro na escola e pela comédia ao ver Jonathan Winters ser o único capaz de tirar um sorriso de seu sisudo pai em frente à TV até o seu suicídio em 2014. Entre isso, a narrativa aborda seus estudos na área, incluindo sua passagem pela renomada Julliard; fala brevemente da família e de seus outro dois meio-irmãos, também criados como filhos únicos; a ida para São Francisco em pleno anos 1960, e depois para Los Angeles; além do primeiro casamento com Valerie Velardi, sendo que os relacionamentos seguintes vão ganhando menos atenção nesta reconstituição de sua linha do tempo. Zenovich utiliza muitos áudios do próprio Williams em entrevistas como voice over que complementam ou se opõem as imagens raras de apresentações dele, seja em peças estudantis ou nos seus stand-ups em clubes de comédia no início de sua carreira em LA, em uma grande pesquisa de acervo.
A fama que chegou com sua entrada na televisão com a sitcom Mork & Mindy (1978-82), trazendo consigo o abuso das drogas, foi freada com o impacto da morte do amigo John Belushi por overdose, em 1982. Daí a narrativa logo se apressa em falar na passagem, mais difícil na época do que agora, da TV para o cinema, com o sucesso de Bom Dia, Vietnã (1987), porém sem se aprofundar neste período em que o ator se tornou mais conhecido do grande público, em todo mundo – e que também conteve o ápice do seu alcoolismo seguido por um novo momento de sobriedade. Alguns trechos do processo de Tempo de Despertar (1990), uma cena de bastidores de Uma Babá Quase Perfeita (1993) e depoimentos do único diretor entrevistado, Mark Romanek que deu a ele a chance de uma nova virada na carreira no thriller dramático Retratos de uma Obsessão (2002), mas nenhuma citação ao Oscar que ganhou por Gênio Indomável (1997). A única premiação apresentada é a do Critic’s Choice Award de 2003, ponto que rende as maiores risadas do longa, que já corre para a cirurgia cardíaca que ele fez em 2009 e as consequências, especialmente psicológicas, que a demência – até então diagnosticada como Parkinson, mas, depois da autópsia, revelada ser Demência com Corpos de Lewy (DCL), em um detalhe não explicado pelo doc – teve em seus últimos anos de vida.
Zenovich até evita durante um tempo recorrer aos depoimentos, mas depois passa a construir a narrativa a partir deles, contando com entrevistas do amigo Billy Cristal, da colega de série Pam Dawber, a primeira esposa e do primogênito e não das outras mulheres e filhos, por exemplo, além de optar por usar depoimentos de outras fontes como a entrevista para uma rádio do diretor e amigo mais próximo nos últimos momentos, Bob Goldthwait. Porém, essa escolha de poucos nomes deixa lacunas sobre alguns aspectos da vida de Williams ao mesmo tempo em que carrega um formalismo em sua linguagem. É aí que o filme falha em uma das frentes daquele grande desafio do gênero, não conseguindo ultrapassar a barreira formal de um teledocumentário e imprimir, não só uma marca própria, como um espírito transgressor igual ao de seu retratado.
Isso porque o documentário não ousa se arriscar já em sua essência. A obra traça um paralelo da necessidade do artista em ter uma plateia, especialmente para o comediante do riso, e as dificuldades de Robin em lidar com seus vícios e uma provável depressão, sem nunca adentrar nessa dicotomia evidente entre sua expansividade no palco e introspecção na vida pessoal, também conturbada. Sem discutir o seu comportamento, sua necessidade de atenção, relacionamento, às vezes, condenável com as mulheres ou as piadas, por vezes, ofensivas – lembrem-se que sobrou até para o Brasil, na entrevista do comediante para o David Letterman, em 2009, que passa brevemente aqui –, Robin Williams: Entre na Minha Mente serve como tributo para os fãs do ator, contudo, não honra seu título, frustrando aqueles que realmente querem conhecer a pessoa por trás de seu ídolo.
Robin Williams: Entre na Minha Mente (Robin Williams: Come Inside My Mind, 2018)
Documentário / Telefilme (estreia) | Duração: 116 min
Canal: HBO | Exibição: Segunda, 06/08, às 22h
Horário alternativo: quarta, 08/08, às 13h45 | sábado, 11/08, às 8h10 | quarta, 15/08, às 9h55 | sexta, 17/08, às 12h55 | terça, 21/08, às 12h25 (veja outras opções de reprise no site), além de estar disponível na HBO On Demand
Direção: Marina Zenovich
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