A Copa Das Músicas | As canções que marcaram e ainda embalam as Copas do Mundo e afins
Atualizado: 7 de out. de 2020
Não só de bola no pé se faz uma Copa do Mundo de Futebol. Gritos e gestos da torcida, vuvuzelas, animais profetas e outros acontecimentos extracampo estão aí na memória de todos que, de quatro em quatro anos, vivem o evento mais importante deste esporte, assim como as músicas que embalaram cada edição do mundial bissexto. Com o início da Copa do Mundo de 2018 na Rússia, o NERVOS preparou uma playlist especial, reunindo essas canções, oficiais da FIFA, promocionais de marcas e emissoras de TV ou simplesmente adotadas pelas seleções e os torcedores, que fizeram a história de títulos ou campanhas inesquecíveis, sejam para o bem ou para o mal – tem até faixas de Eurocopa e Copa América de bônus.
Time de peso da música
A primeira Copa do Mundo da FIFA foi realizada em 1930, com nosso vizinho e país-sede Uruguai sagrando-se como campeão, mas, já na terceira edição, o Brasil despontava com possibilidades de ganhar o certame, na França. Para alegrar a torcida que sonhava em ver o título na Copa de 1938, a estrela internacional “brasileira” – que, na realidade, era portuguesa – Carmem Miranda cantou seu sonho sobre a Cidade Luz em Paris. Leônidas da Silva, o “inventor da bicicleta”, pode ter sido o artilheiro e melhor jogador do campeonato, mas a seleção brasileira ficou apenas com o 3º lugar.
Carmem Miranda, porém, voltou a ser escalada quando o favoritismo tupiniquim ressurgiu com toda a força em casa, por ocasião da primeira Copa do Mundo no Brasil, em 1950. Só que a sua entrada no Maracanã foi totalmente espontânea, com os torcedores presentes na arquibancada cantarolando Touradas em Madri, de Braguinha e Alberto Ribeiro, ao assistirem a goleada da seleção por 6 x 1 na Espanha. Lamartine Babo também cantou o Hino do Scratch Brasileiro e Ary Barroso bradava O Brasil Há de Ganhar, composta por Laura Macedo, apostando, como todos na época, na vitória brasileira que acabou se transformando no Maracanaço, com a frustração pela derrota para o Uruguai na final no mítico estádio carioca.
É campeão! É campeão!
Um dos pequenos torcedores frustrados no Maracanã, naquele dia, viria a se tornar o craque dali a oito anos que ajudaria o Brasil a finalmente ganhar sua primeira Copa: sim, Edson Arantes do Nascimento, ou simplesmente Pelé, decisivo na conquista de 1958, na Suécia, fazendo todos cantarem a plenos pulmões que A Taça do Mundo é Nossa, segundo os versos icônicos de Wagner Maugeri, Lauro Müller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô. O maior jogador de futebol da história podia estar comprometido no mundial seguinte, no Chile, mas a seleção brasileira tinha outros craques extraordinários, citados no Frevo do Bi de Jackson do Pandeiro, como o “anjo de pernas tortas” Garrincha e o meio Didi, para trazer novamente o caneco ao país, sagrando-se bicampeão na Copa de 1962.
Na edição chilena, iniciou-se a tradição de se fazer músicas especialmente para o evento e não só para apoiar uma equipe. A banda local Los Ramblers trouxe o rock’n’roll em El Rock del Mundial para agitar a disputa, sendo seguida por Lonnie Donegan, o “rei do skiffle britânico”, mistura de folk, jazz e blues com instrumentos improvisados que dá um tom de festa único a World Cup Willie (Where in this World are We Going), canção da Copa da Inglaterra, em 1966, na qual o Brasil não passou nem da primeira fase.
Futebol e política
Na Copa seguinte, foi a vez do grupo Los Hermanos Zavala dar boas-vindas aos times e torcedores com Fútbol México 70, um futebol que encontraria a arte dentro dos campos novamente com a seleção brasileira, tendo Pelé no seu auge. O Brasil tricampeão no México, na primeira edição transmitida ao vivo nas TV de “90 milhões em ação”, como abria Pra Frente Brasil, naquela canção que se tornaria a mais marcante das Copas por aqui e cujo ufanismo da letra de Miguel Gustavo também marcou um momento de avanços da política de integração nacional da Ditadura no país. Não só o esporte mais amado dos brasileiros como as músicas dedicadas a ele, como Eu Te Amo Meu Brasil, cantada pelo grupo Os Incríveis e composta pelos irmãos Dom e Ravel para o torneio – a dupla, porém ficou estigmatizada por essa e outras composições ufanistas utilizadas como propaganda pelo governo militar.
A Seleção dos sonhos e dos pesadelos
O sentimento de superioridade do país continuava nas canções, que acabaram se tornando tão esquecíveis quanto o desempenho dos times nacionais nas Copas seguintes. Na disputa de 1974, na Alemanha Ocidental, Renato e Seus Blue Caps já cantavam o tetracampeonato para 100 milhões em Todos Juntos, mas a Seleção ficou apenas com o 4º lugar. Quatro anos depois, formou-se a Corrente 78, novamente musicando dados do IBGE, para unir os então 120 milhões de habitantes do país para a Copa na vizinha Argentina, onde se amargurou uma 3ª colocação.
A empolgação e o favoritismo voltariam com a Seleção de 1982, comandada por Telê Santana e tendo nomes como Zico, Sócrates, Falcão e Júnior, que embalava a campanha da sua equipe com a inesquecível Povo Feliz (Voa, Canarinho). A canção se tornou tão marcante quanto a equipe, considerada uma das melhores da história com sua técnica inigualável, mas a inesperada derrota para a Itália, que se tornaria campeã naquele ano, na segunda fase, deixando o time de fora até das semifinais, foi uma frustração sem tamanho para o brasileiros.
A moral nacional tentou ser elevada novamente com Mexe, Coração, composta por Michael Sullivan e Paulo Massadas para a transmissão da TV Globo da Copa de 1986, novamente no México que trazia tantas boas memórias à seleção brasileira. Porém, mesmo com Gal Costa evocando 70 Neles, o Brasil parou na França nas quartas de final. A dupla Sullivan e Massadas se juntou quatro anos depois para embalar a disputa de 1990 na Itália nas televisões da mesma emissora com Papa Essa, Brasil, contudo o scratch nacional perderia nas oitavas para a Argentina de Maradona – que seria vice do último título da então Alemanha Ocidental no certame embalado por Un'estate italiana (To Be Number One), do Giorgio Moroder Project na sua versão em inglês.
O fim da seca
A glória cantada por Daryl Hall ao lado do coral gospel Sounds of Blackness em Gloryland, canção-tema da Copa de 1994 nos Estados Unidos, era o prenúncio para um país apaixonado por futebol que amargava 24 anos sem nenhum título mundial e cantava, junto com à transmissão da Globo, “Eu sei que vou, vou do jeito que eu sei” em Coração Verde-Amarelo. E se We Are the Champions do Queen se tornou, definitivamente, um hino da vitória, a “taça na Raça” cairia nos braços da Seleção Brasileira, meses depois da perda de um ídolo nacional, fazendo de seu imortal Tema da Vitória (instrumental tocado pelo Roupa Nova) uma música que também marcou este campeonato, além do grito de desespero entusiasmante de “É tetraaaaaaaaaaaa!” do Galvão Bueno ao lado de Pelé na final de 94.
Quando o favoritismo foi vice e o inesperado foi campeão
Essa ideia de canções-temas também passou a ser adotada nas competições continentais, como a Eurocopa, que em 1996 teve Simply Red embalando a disputa europeia na Inglaterra ao som de We're in This Together. Dois anos depois, a Europa seria novamente palco de um mundial, mas foi um latino que ficou encarregado pela canção oficial: depois do hit María, Ricky Martin trouxe a igualmente marcante La Copa de La Vida. E se a emissora britânica ITV atacava com a reformulada Rendez-Vous 98 do instrumentista francês Jean-Michel Jarre, a Globo tornava Coração Verde-Amarelo na sua música tradicional das Copas a partir de então.
A Inglaterra, que também tem a tradição de fazer temas para a sua seleção, escalou naquele ano ninguém menos que as Spice Girls, Echo and the Bunnymen, Space e Ocean Colour Scene para o single (How Does It Feel to Be) On Top of the World. Aqui, esta pessoa que vos escreve tem a lembrança não só do vice-campeonato apesar do favoritismo, mas das propagandas da época – a exemplo de Ronaldo e os animais da Parmalat – e do Olodum, com a (falsa?) memória de alguma reportagem falando que I Miss Her era a música favorita da Seleção Jamaicana. Fato é que o grupo afro do Pelourinho se tornaria icônico na Copa seguinte, a de 2002, com Galvão Bueno toda hora chamando para a festa na Bahia liderada pelo Olodum.
Na primeira Copa sediada por dois países, Japão e Coreia do Sul, onde a cantora Anastacia interpretava a canção-tema Boom, o Brasil levantou de madrugada para acompanhar a campanha do time do técnico Felipão despontar no decorrer do torneio e um Ronaldo, desacreditado após a convulsão e mau desempenho na final de 1998 e uma grave contusão de que se recuperava às vésperas da disputa, se tornar o craque de 2002. Quem fez a Festa do pentacampeonato foi a baiana Ivete Sangalo, enquanto Zeca Pagodinho com seu lema Deixa a Vida Me Levar se tornou a música da Seleção durante o mundial.
Novas e maiores frustrações em casa
Nossos irmãos de além-mar sediaram a Eurocopa de 2004, quando a canadense filha de açorianos Nelly Furtado cantava Força, algo que faltou aos portugueses na final, em que perderam em casa para uma surpreendente Grécia. Dois anos depois, foi a vez da Alemanha ficar com um terceiro lugar – justamente sobre Portugal – em casa, na Copa do Mundo de 2006, em que o grupo multinacional de ópera pop Il Divo se juntou a Toni Braxton na canção oficial The Time of Our Lives. Com a Itália campeão sobre a França das cabeçadas de Zidane, que eliminou o Brasil nas quartas de final, a música que realmente marcou aquele mundial foi Hips Don’t Lie, da Shakira com o rapper haitiano, ex-Fugees, Wyclef Jean, embora o hit dance Love Generation, do DJ Bob Sinclair com Gary Pine também tenha ecoado bastante nos estádios alemães.
Nada mais justo, então que a cantora colombiana ficasse a cargo da canção oficial da Copa seguinte, trazendo seu Waka Waka para a África do Sul, ao lado da banda local Freshlyground. O sucesso de Shakira, tão inesquecível quanto as vuvuzelas tocadas pela alegre torcida sul-africana, teve outro companheiro nas paradas, com Wavin' Flag, música do somali-canadense K'Naan que era jingle dos comerciais da Coca-Cola em 2010. O Brasil, que novamente caia nas quartas, agora para a Holanda (Países Baixos), deixava para casa o sonho do hexa.
Enfim, a menos que estivesse em um lugar totalmente isolado de comunicação e fora do país, obviamente, você sabe que o sonho se tornou um pesadelo que nos assombra até hoje, apesar de, como bom brasileiros, fazermos piada do nosso 7 x 1, com que a Alemanha campeã humilhou a seleção nacional em pleno Mineirão. No entanto, a nossa Copa de 2014 no Brasil foi extremamente musical, com o rapper Pitbull fazendo “feat” com a filha de porto-riquenos Jennifer Lopez e a brasileira Claudia Leitte na latiníssima canção oficial We Are One (Ole Ola), assim como o guitarrista Carlos Santana ao lado de Wyclef Jean, do DJ Avicii e o ídolo do pagode Alexandre Pires no hino oficial Dar um Jeito (We Will Find a Way); porém, quem roubou a cena mais uma vez foi Shakira, com seu La La La, na versão com Carlinhos Brown especialmente gravada para o campeonato. E se a seleção brasileira elegeu Tá Escrito do Grupo Revelação como a música da sua campanha, a torcida argentina sempre provocadora fez o seu canto “Brasil, decime qué se siente” tendo como base o clássico Bad Moon Rising da banda sessentista/setentista Creedence Clearwater Revival, mas com o time de Messi tendo de se contentar com um vice-campeonato.
Para completar a história sobre derrotas em casa, foi a vez de Portugal dar o troco indireto e estragar a festa dos anfitriões franceses, quando a seleção de Cristiano Ronaldo ganhou o título da Eurocopa de 2016 sobre a França de David Guetta, DJ responsável pela música do torneio This One's for You, cantada pela sueca Zara Larsson. No mesmo ano, o norte-americano filho de cubanos Pitbull ser escalado novamente, ao lado da mexico-americana Becky G, para a Copa América Centenário, celebrada nos Estados Unidos ao som de Superstar.
A bola rola no Kremlin
Agora chegou a vez da bola rolar na Rússia e esta Copa do Mundo de 2018 já tem o seus titulares no campo da música. O cantor de reggaeton Nicky Jam joga junto do ator e rapper Will Smith e da cantora kosovo-albanesa Era Istrefi na canção oficial Live It Up, que mantém a latinidade das últimas edições e que está na moda na música pop mundial. Tanto que o colombiano Maluma está ao lado de Jason Derulo na versão de Colors que é a música da Coca-Cola neste ano – e que fez um dueto recentemente com ninguém menos do que sua compatriota Shakira, que com música nova perto da Copa... Mas os russos não ficaram de fora da escalação, com Polina Gagarina, atriz e cantora que já representou o país no Eurovisão, a Eurocopa da música no continente, e está ao lado do rapper local Egor Kreed e o conterrâneo DJ Smash em Komanda 2018, ou como se escreve no alfabeto cirílico russo, Команда 2018.
Quais outras músicas se tornarão campeãs das paradas neste Copa na Rússia, só o próximo mês dirá.