top of page
Foto do escritorNayara Reynaud

É TUDO VERDADE 2018 | Fogo amigo

Atualizado: 15 de ago. de 2020


Registro do documentário Missão 115 (2018) | Foto: Divulgação (Festival É Tudo Verdade)

Milhares de pessoas no Riocentro assistiam, naquela noite de 30 de abril de 1981, a um show musical pelo Primeiro de Maio, que reunia vários importantes artistas e homenageava o “rei do baião” Luiz Gonzaga. Com a maioria dos portões do famoso centro de convenções do Rio de Janeiro fechados e as bombas que carregavam, um grupo de militares insatisfeitos com a Abertura democrática e futura dissolução da Ditadura via o cenário perfeito para criar um pânico na população e atribuir a culpa do atentado a grupos de extrema-esquerda e ressuscitar um medo do comunismo que sustentasse novamente a repressão. O plano, porém, foi aos ares quando uma das bombas que estavam sendo preparadas explodiu no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário em um Puma GTE que estava no estacionamento do local.

Os meandros da ação que só vitimou o sargento e feriu gravemente o capitão Wilson Dias Machado, presente no mesmo veículo, são destrinchadas pelo documentário de Silvio Da-Rin, Missão 115 (2018), nome encontrado em papéis presentes na casa de um ex-comandante do DOI-CODI carioca, Julio Miguel Molina Dias, morto a tiros no Rio Grande do Sul, em 2012, que mostravam os detalhes da operação extraoficial. Entrevistando o ex-delegado do DOPS Claudio Guerra, que saiu do Espírito Santo para o Rio de Janeiro, convidado a participar dessas missões oficiosas, principalmente, o ocultamento de cadáveres, além de vários especialistas, entre historiadores, procuradores e outros profissionais, o longa também carrega certa formalidade no uso das imagens de arquivo, incluindo cenas da reconstituição dramática feita pelo Linha Direta Justiça (2003-07) em 2005, ao lado de uma breve dramatização original, com cenas de um dos terroristas. Ainda sim, a produção ganha a atenção do público por tratar de um tema que não foi abordado em documentários, seguindo discretamente a linha de revisionismo histórico bem estrutura por Belisario Franca até agora com seus dois filmes da Trilogia do Silenciamento, Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil (2016) e Soldados do Araguaia (2017).

Isso diz sobre seu intuito de revelar detalhes pouco conhecidos do ocorrido, como o fato desses grupos paramilitares de pessoas insatisfeitas com a Abertura, muito por medo de perder seus privilégios, não tinha apenas o apoio velado e as ordens secretas saindo de gabinetes oficiais das agências de inteligência civil e militar, respectivamente o SNI – Serviço Nacional de Informações e o CIE – Centro de Informações do Exército, e do órgão de repressão DOI-CODI, como também o financiamento privado, incluindo da FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, segundo o depoimento de Claudio Guerra. Com justificativas estapafúrdias para o atentado e a população cada vez mais descrente no militarismo, a ação acabou acelerando a democratização que tanto evitavam, mas sem antes deixar suas cicatrizes ainda abertas. Assim, o filme aproveita para discutir em paralelo, através de seus entrevistados, como o então presidente-general João Figueiredo não conseguiu agir em represália, pois conhecia essas pessoas por ter construído sua carreira nestes serviços de informação; o questionamento da impunidade advinda com a Anistia ampla, geral e irrestrita; o trabalho, talvez incompleto, da Comissão Nacional da Verdade e como seu relatório final não rendeu frutos, em um governo democrático, onde passaram tantos presidentes, mas nada foi feito.

 

Duração: 87 min | Classificação: 10 anos

Direção: Silvio Da-Rin

Produção: Brasil / Rio de Janeiro-RJ

Áudio e Legendas: diálogos em português, com legendas em inglês

> Estação NET Botafogo / Rio de Janeiro – 16/04/2018 às 20h30

> IMS Rio / Rio de Janeiro – 18/04/2018 às 14h00

> Sesc 24 de Maio / São Paulo – 19/04/2018 às 13h00


0 comentário
bottom of page