É TUDO VERDADE 2018 | O triste palhaço paulistano
Atualizado: 26 de nov. de 2020
A escolha do filme Adoniran – Meu Nome é João Rubinato (2018) para abrir o Festival É Tudo Verdade deste ano, na capital paulista, no Auditório Ibirapuera nesta quarta (11), se justificaria por si só. Retrato de uma figura tão emblemática do ethos paulistano ou, pelo menos, dessa imagem pictórica da antiga cidade de São Paulo, o documentário, porém, se beneficia do conhecimento de seu diretor sobre a vida e a obra do sambista Adoniran Barbosa (1910-1982). Em 2015, Pedro Serrano realizou o premiado curta-metragem de ficção Dá Licença de Contar, ganhador de dois Kikitos, incluindo um de Melhor Curta pelo júri da crítica, no Festival de Gramado daquele ano, em que mesclava as letras das músicas dele em uma história estrelada por Paulo Miklos.
Agora, ele tem a chance de se aprofundar na carreira do compositor e cantor cujo nome de nascença era João Rubinato e cidade natal, Valinhos, no interior paulista, mas que adotou a alcunha de Adoniran Barbosa e iniciou sua carreira cantando sambas-canções bem diferentes daqueles que o transformariam em um cronista paulistano do samba. Adentra nos altos e baixos de sua carreira, iniciada no rádio, contando os episódios de sua trajetória como se fossem causos e utilizando certo tom de humor para apresentar as incongruências de suas histórias e de sua própria figura mítica, já que, a cada hora ou pessoa, o artista dava informações diferentes sobre um mesmo caso. Os questionamentos acerca de suas atitudes ou costumes comuns à época, no entanto, são levantados sem aprofundamento.
A formalidade com as entrevistas talking heads e imagens de arquivo de um típico documentário biográfico, contudo, encontra uma brecha nos paralelos que a montagem traça entre a São Paulo dos anos 30 ao início dos 80, musicada por Adoniran, e a dos dias atuais, desenhando interessantes reflexões acerca da perpetuação dos problemas da metrópole, especialmente dos cortiços às favelas e os moradores de rua. De clássicos como Trem das Onze e Saudosa Maloca a canções sobre outros cantos e bairros paulistanos, a exemplo de Viaduto Sta. Efigênia e No Morro da Casa Verde, que embalam o longa, o humor inerente de seu “cantar errado” como registro popular – há no filme, porém, uma dificuldade de entender algumas falas do cantor e de seu sobrinho, um dos vários entrevistados – era a forma tragicômica que o compositor utilizava para contar seus casos de amor fracassados, problemas financeiros e mazelas da cidade. Como ilustra o desenho de Elifas Andreato que quase foi a capa de seu último álbum, um palhaço triste que sambava entre o riso e a dor.
Duração: 92 min | Classificação: Livre
Direção: Pedro Serrano
Produção: Brasil / São Paulo-SP
Áudio e Legendas: diálogos em português, com legendas eletrônicas em inglês
> IMS Paulista / São Paulo – 12/04/2018 às 17h00
> Estação NET Botafogo / Rio de Janeiro – 17/04/2018 às 18h00
> Centro Cultural São Paulo – CCSP / São Paulo – 19/04/2018 às 17h00
> Sesc 24 de Maio / São Paulo – 22/04/2018 às 11h00