LOLLA BR 2018 | Dia 2 - Um sábado quente
Atualizado: 12 de ago. de 2020
Quase que o título sobre este sábado de Lollapalooza Brasil 2018 foi sobre "um dia que pegou fogo, até literalmente". Pelo menos, era essa a impressão, quando, conseguindo finalmente alcançar o Palco Ônix para conferir pelo menos o finalzinho da Liniker e Os Caramelows e vendo que o show foi interrompido mais cedo, corria a história de que havia ocorrido um princípio de incêndio ali. Fato é que um PA, responsável pelo retorno de som para os artistas, queimou, impossibilitando a banda de continuar a apresentação, que já havia começado atrasada. A frustração era visível, mas também a gratidão da cantora Liniker, que retornou ao palco ao lado dos integrantes do conjunto para agradecer o carinho do público em continuar cantando sua música Zero, assim que aconteceu o problema técnico, enquanto a plateia os aplaudia de pé e xingava o festival por não dar outra chance do ato terminar seu número.
No entanto, foi um segundo dia que pegou fogo, no sentido figurado mesmo, seja no sol escaldante sobre o Autódromo de Interlagos no início ou nas apresentações acaloradas durante a tarde e a noite, encerrando com um show que mostra o poder intacto do Pearl Jam. Veja os destaques e impressões deste sábado no Lolla BR na cobertura do NERVOS no festival:
"I hear the birds / When they're singing / I hear the sirens / When they're ringing"
Sem conseguir chegar a tempo para conferir o rock psicodélico de toques nordestinos da banda recifense Tagore e o soul sensual da Liniker e Os Caramelows, de Araraquara (SP), pelos motivos já citados, o primeiro show da cobertura deste sábado de Lolla acabou sendo o da surpreendente Tash Sultana. Em um primeiro momento, é impulsivo falar que a cantora, multi-instrumentista e compositora australiana é uma mistura sui generis de Jimi Hendrix com Bob Marley em arranjos do XX, mas tantas outras influências e vertentes são exploradas pela artista que é impossível rotulá-la ou definir em poucas palavras.
Usando o recurso do looper, que foi popularizado na música pop com o britânico Ed Sheeran, Sultana toca sua poderosa guitarra, vai para os sintetizadores e bateria eletrônica, indo, por vezes indo para o enérgicos mandolim e trompete ou fazendo beat box na conhecida flauta peruana. Uma viagem entre o trip hop e a chill music, com a potência do rock e o suingue do reggae e muitas outras paradas a desbravar com a admirável artista, algo que a plateia, mesmo sob forte Sol, fez com prazer.
"Just as soon as they turn older / He'll come and sweep them off their feet / It's only making me feel smaller / l the hidden love beneath / Won't you lay me, won't you lay me down"
Para uma plateia que já esperava o Imagine Dragons, que encerraria a programação do Palco Ônix, a Kaleo mostrou que é mais um exemplar da música islandesa que merece o reconhecimento mundial. Vinda da terra da conceitual Björk, é com os compatriotas do Of Monsters and Men que a banda remete mais por passear um pouco pelo indie folk. Mas sem o conteúdo realmente folclórico e contagiante da turma de Nanna e Ragnar, o bom vocalista JJ Julius Son e seus companheiros mostram uma forte influência norte-americana, com um rock que navega pelo blues, em canções como Broken Bones e um pouco no hit Way Down We Go, e americana, lembrando um The Lumineers do último álbum, ainda mais pesado nas mais lentas como All The Pretty Girls. O suficiente para ganhar mais fãs entre um público que parecia feliz em conhecer seu trabalho.
"Volta logo, volta logo, volta"
Foi exatamente isso que o trio paulistano O Terno fez, depois de se apresentar na edição de 2015 do festival. Retornaram ao mesmo Palco Axe, agora em uma localização mais privilegiada, só que em um horário melhor e para uma plateia maior. O bom humor de três anos atrás continua, mas bem mais comedido na apresentação de uma banda que, lá, já era uma madura revelação e, hoje, se apresenta como um maturado destaque do rock nacional em suas fortes influências sessentistas e setentistas, indo da psicodelia dos mutantes à Jovem Guarda com um estilo próprio reconhecido pelas letras peculiares e irônicas. Tocando um repertório, em sua maioria, do seu álbum mais recente Melhor do Que Parece (2016), eles também presentearam Tim Bernardes, Biel Basile e Guilherme D'Almeida presentearam o público com hits dos discos anteriores, incluindo novos arranjos, em companhia do trio de metais que acrescentou um toque especial ao som deles, para Ai, Ai, Como Eu Me Iludo e o encerramento com 66.
"I dance like this / Because it feels so damn good / If I could dance better / Well, you know that I would"
A primeira ideia era se perguntar o porquê não colocar David Byrne no mesmo palco em que o Pearl Jam se apresentaria em vez de jogá-lo em um ambiente mais hostil, cheio de fãs impacientes para ver logo o Imagine Dragons e que não conheciam o Talking Heads. Sim, a quantidade dos que já marcavam lugares para assistir a banda já era enorme e, na base da conversa, deu para garantir um lugar e ver o ex-líder e vocalista da banda oitentista. No entanto, foi muito bom ver exatamente o contrário: vários jovens conhecendo o talento de um dos maiores nomes da música, especialmente do rock alternativo que hoje curtem.
Por isso, ficou muito mais gravado na memória os vários que se dignaram a levantar, curtir e interagir com a performance do artista, a exemplo da menina na minha frente que antes me perguntara quem ele era, do que os poucos que permaneceram sentados ou a mãe que dizia a criança impaciente de que "ele achava que aquele público era todo para ele". Poderia até não ser, originalmente, mas os aplausos eram sim para um dos melhores shows que o festival já recebeu em sua edição brasileira – com certeza, o mais único.
Em um palco envolto em cortinas de correntes de metal, Byrne entrou sentando-se em uma mesa e empunhando um cérebro, enquanto cantava Here. Aos poucos, entraram os backing vocals e alguns músicos. Na segunda canção, toda a sua banda móvel encorpava sua performática apresentação, cheia de coreografias, algumas seguidas pela plateia ao som de sua música extremamente percussiva nas suas influências de sons africanos e world music, colando até uma bola de futebol em jogo, e empolgando com sua Everyday Is a Miracle e alguns clássicos do Talking Heads, como Once In a Lifetime e Burning Down The House, embora a plateia tenha ficado no vácuo quanto ao pedido para tocar Psycho Killer.
"We're half-awake in a fake empire"
O show do The National foi aquele caso pessoal de quebra de expectativas, não necessariamente boas ou ruins. Conhecendo superficialmente a banda norte-americana, a ideia era encontrar um tom soturno, seguindo o caminho do Interpol que se apresentou na edição de 2015 do festival, como parecia o que aconteceria ao chegar no Palco Budweiser ao som de Don't Swallow the Cap. Este aspecto permaneceu, mas em arranjos pesados, ainda que tristes nas guitarras rasgantes e em um Matt Berninger entregue. Criticando a situação política nos Estados Unidos e no Brasil, o vocalista ia de um lado a outro do palco, cantou, literalmente, tête-à-tête com um fã e, mesmo já quase gritando no final, ficou a sensação de que eles deram todo seu coração ao público em São Paulo.
"Hey I, boy, I'm still alive"
Optando por permanecer no mesmo palco e evitar os incômodos do dia anterior, no show do Red Hot Chili Peppers, não foi desta vez que esta jornalista que vos escreve viu o tal furor do Imagine Dragons ao vivo. Em 2014, a troca foi pela interessante apresentação do Portugal. The Man, muito antes do sucesso de Feel It Still, agora foi para não passar sufoco no morro do Mergulho, horas antes já lotado, e garantir uma boa visão – não necessariamente para fotos – do Pearl Jam.
Novamente, a escolha não foi errada, já que, para um vale repleto de mãos vibrantes nas palmas e nos pulos, a banda de Seattle entregou aquele show que realmente se espera de um headliner. Com uma construção elaborada na iluminação de palco, eles entregaram o bom e velho rock'n'roll em um setlist que fez os fãs cantarem sem parar. E mesmo que, particularmente, tenha sentido falta das canções "lado B" que fizeram alguém que nunca ouviu muito grunge gostar do Pearl Jam – sim, esperava, pelo menos, o cover de Last Kiss –, a experiência de assistir e participar deste espetáculo conjunto entre artista e público foi excelente.
Eddie Vedder toda hora tentava enxergar a extensão do imenso público que os assistia, cantava para todos os lados da plateia, com quem conversou diversas vezes, se esforçando para ler as mensagens em português, e até pediu para cantar um Parabéns Pra Você para Perry Farrell, músico criador do Lollapalooza que cantou Mountain Song, música de sua banda Jane's Addiction, com eles, mas o microfone baixo impedia a plateia de ouvir. Ao final, o líder e vocalista do Pearl Jam até beijou a mão de Mike McCready, após uma performance vigorosa do guitarrista ao lado de uma banda em grande forma. Uma prova de que não só eles, como também o rock estão vivos (a repórter espera ainda estar para o terceiro dia de festival, apesar de estar resfriada).
#Música #LollapaloozaBrasil2018 #LollaBR #Festivais #show #TashSultana #rock #reggae #triphop #chillmusic #Kaleo #indiefolk #blues #OTerno #rockpsicodélico #rocknacional #anos60 #anos70 #DavidByrne #rockalternativo #TalkingHead #ImagineDragons #worldmusic #músicaafricana #TheNational #indierock #política #PearlJam #grunge #PerryFarrell