TOMB RAIDER – A ORIGEM | Uma nova Lara Croft para novos tempos
Atualizado: 11 de ago. de 2020
Seguindo os passos da intérprete anterior da famosa personagem da franquia de games nas adaptações no cinema, ao ganhar um Oscar e logo dar vida à heroína de ação como um estágio para entrar no mundo das estrelas de Hollywood, a sueca Alicia Vikander, porém, encarna uma Lara Croft diferente no novo Tomb Raider – A Origem (2018). Se inspirando no reboot do jogo, o Tomb Raider de 2013, em que ela já usa o arco e flecha em vez das armas de fogo e não mais é utilizada a favor de um olhar sexualizado para o público masculino, o filme busca trazer essas origens da protagonista, de um modo completamente diferente do que foi apresentado antes no video game, em vez de já colocá-la como a experiente arqueóloga aventureira vivida por Angelina Jolie em Lara Croft: Tomb Raider (2001) e Lara Croft: Tomb Raider - A Origem da Vida (2003).
Essa reedição da personagem apresenta até uma construção interessante no primeiro ato. Vikander vive essa Lara que tenta sobreviver em Londres, circulando a capital inglesa de bike para trabalhar de entregadora e levando alguns socos nos seus treinos de boxe que não pode pagar, porque rejeita a herança a que tem direito, pois isso significa aceitar que o seu pai, o empresário Lord Richard Croft (Dominic West) que está desaparecido há sete anos, realmente morreu. O diretor norueguês Roar Uthaug, mais conhecido aqui pelo filme catástrofe A Onda (2015), faz sua estreia fora da terra natal, imprimindo um ritmo frenético, mas realista e pé no chão para a protagonista neste início.
Isso até o filme adentrar na viagem e estadia para a Ilha de Yamatai, uma desconhecida porção insular japonesa em que habitaria a lendária rainha Himiko, conhecida como “Deusa da Morte”, e onde o Sr. Croft teria ido antes de desaparecer, algo que Lara descobre através das pistas nada complexas deixadas a ela pelo pai. Neste ambiente fictício, entra em ação uma forte computação gráfica em conjunto com as filmagens na África do Sul, mas em um CG de tom mais artificial que se escora na justificativa da origem do material nos games. As sequências de ação também se sucedem – há, inclusive, o momento em que a própria personagem se pergunta “Sério?” – em um miolo que perde sua força e no clímax de mistério a la Indiana Jones ou A Lenda do Tesouro Perdido, em um último ato que recupera ligeiramente a atenção da plateia, mas sem a mesma inventividade dos exemplos citados.
A razão é que esses dois segmentos não se sustentam com o frouxo roteiro de Geneva Robertson-Dworet, estreante que já está escrevendo produções futuras como Capitã Marvel (2019) e Dungeons & Dragons (2021), e Alastair Siddons, de Não Ultrapasse (2016). Os diálogos expositivos se tornam ainda mais didáticos com a montagem colocando flashbacks recorrentes sobre as mesmas informações. E a espinha dorsal da trama, que são as questões da protagonista com seu pai, é um recurso narrativo muito utilizado, que precisaria de uma abordagem dinâmica para se mostrar eficiente, algo que não acontece seja pelo texto ou até pela atuação de West que, assim como Walton Goggins na pele do vilão Mathias Vogel, não conseguem sair dos limites estreitos de seus papéis. Daniel Wu, por outro lado, parece promissor, embora tenha quase nada como o pescador bêbado Lu Ren.
Alicia Vikander – que, afinal, ganhou seu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por A Garota Dinamarquesa (2014), mas já impressionava antes em filmes independentes como Ex Machina: Instinto Artificial (2014) –, contudo, consegue não apenas calar aqueles que duvidavam de seu preparo físico para a personagem, como também dar segurança e veracidade a ela, mesmo em momentos clichês, como a cena novelesca que inicia a sequência de descida para a tumba de Himiko. Sua Lara Croft não é uma heroína badass, superconfiante, mas alguém que ainda está aprendendo a lidar com os desafios físicos e mentais de entrar em uma aventura destas longe dos perigos já conhecidos da cidade e seus ônus, a exemplo da sua reação ao matar alguém com as próprias mãos, pela primeira vez e para se defender. É gratificante ver uma figura despontar e se diferenciar desta bem-vinda safra de protagonistas femininas no cinema atual, mas igualmente frustrante que ela não tenha um veículo que aproveite todo seu potencial.
Tomb Raider – A Origem (Tomb Raider, 2018)
Duração: 118 min | Classificação: 14 anos
Direção: Roar Uthaug
Roteiro: Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons, com argumento de Evan Daugherty e Geneva Robertson-Dworet, baseado no video game “Tomb Raider” (2013), da Crystal Dynamics
Elenco: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel Wu, Kristin Scott Thomas, Derek Jacobi, Alexandre Willaume, Hannah John-Kamen, Maisy De Freitas, Emily Carey e Antonio Aakeel (veja + no IMDb)
Distribuição: Warner Bros. Pictures