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Foto do escritorNayara Reynaud

PRIMEIRO BAILARINO | Um retrato em deboulés

Atualizado: 29 de jul. de 2020


O bailarino brasileiro Thiago Soares em cena do documentário Primeiro Bailarino (2017) | Foto: Divulgação (HBO)

Em 2002, o brasileiro Thiago Soares entrou no Royal Ballet de Londres, onde alçaria o posto de Primeiro Bailarino (2017), título que dá nome à produção original e nacional do grupo HBO. Após ser exibido na última edição da Mostra Internacional de São Paulo, o longa dirigido por Felipe Braga e produzido pela irmã, Alice Braga, estreia no canal Max e observa a rotina intensa de ensaios do bailarino na tradicional companhia britânica e os bastidores do espetáculo comemorativo pelos seus 15 anos de carreira internacional, que rodou em turnê pelo Rio de Janeiro e São Paulo, em 2015.

Esses momentos são apresentados e, de certa forma, divididos em seis atos, denominados aqui de tracks, que remete tanto às faixas musicais como aos caminhos que Thiago percorreu em sua carreira: “Companhia”, “Repetição” e “Dor” são alguns dos títulos desses capítulos. Quando a abertura traz a montagem acompanhando a batida da música até a exibição do nome da #1 Track, a impressão é a de que o documentário seguirá o ritmo de seu personagem e de seu objeto, a dança. É perceptível não apenas as limitações de produção, mas a timidez da direção que pouco se arrisca em filmar certos ensaios e apresentações faz com que a câmera não dance junto com eles.

Uma das raras vezes em que isso acontece, é no ensaio de Paixão, coreografia de Deborah Colker, em que todo o aspecto visceral da dança passional dos bailarinos brasileiros ao som de Sua Estupidez de Roberto Carlos é captado pelas lentes, em que se tem a chance especial de estar próximo de cada passo e movimento. Nas outras, mesmo ao filmar da coxia do teatro ou da plateia, Braga não consegue ser tanto esta “mosca na parede”, deixando a narrativa muito a cargo dos depoimentos do próprio Soares. Esta intimidade documental só é obtida quase no meio do filme, quando o espectador vê um Thiago mais humano, com uma exigência até intransigente por qualidade e empenho dos colegas em seu projeto pessoal.

O espetáculo Paixão (2015), aliás, é um tour de force para o primeiro bailarino mostrar seu talento e versatilidade na terra natal, depois de tantos anos longe de casa. Começando com um clássico, O Lago dos Cisnes, em que dança ao lado de suas partners constantes Marianela Núñez – no Rio de Janeiro – e Lauren Cuthbertson – em São Paulo –, segue passos mais neoclássicos em Caresse Du Temps, coreografia de estreia de Alessio Carbone, primeiro bailarino da Ópera de Paris; depois, mergulha na dança contemporânea de Colker e encerra misturando balé e teatro ao encarnar o caubói de La Bala, coreografada pelo português Arthur Pita. O filme capta este esforço, mas não o tour de force da vida e carreira de seu personagem.

Soares comenta sobre a sua trajetória incomum, porém, em nenhum momento é mostrado o seu background de dança de rua e hip hop, nem explicar o seu caminho para chegar ao Royal Ballet, assim como nada é citado sobre seu relacionamento com Núñez, de quem se separou amigavelmente em 2015. É claro que recorte é sempre válido e a biografia dele, provavelmente, será contada de modo mais formal em um futuro longa ficcional, dirigido por Marcos Schechtman, mas ao alcançar os dois tracks finais – no que seriam o terceiro ato clássico –, o documentário traz quase nada de novo além do já apresentado antes, com exceção da questão da dor como sua companheira. Os deboulés narrativos em torno do retratado se tornam repetitivos e, consequentemente, cansativos, fazendo com que Primeiro Bailarino escorregue justamente naquilo que Thiago tanto preza: se não é possível ser melhor, pelo menos, deve se tentar fazer algo que o diferencie dos demais.

 

Primeiro Bailarino (2017)

Documentário / Telefilme (estreia) | Duração: 92 min

Canal: Max | Exibição: Domingo, 14/01, às 21h

Horário alternativo: segunda, 15/01, às 20h | quinta, 18/01, às 23h | sábado, 20/01, às 12h | terça, 23/01, à 1h55 (no Max UP) e 19h25 (veja outras opções de reprise no site)

Direção: Felipe Braga

Elenco: Thiago Soares, Deborah Colker, Alessio Carbone, Marianela Núñez e Lauren Cuthbertson

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