QUASE 18 | No limite do fim do mundo
Atualizado: 9 de jul. de 2020
Se existe algo que marca os adolescentes é a dramaticidade com que lidam com os acontecimentos dessa fase. Tudo parece ser o fim do mundo e os problemas nunca terão solução: aí eles passam, alguns traumas ficam e chega, então, a vida adulta com suas novas complicações. Curiosamente, no entanto, o cinema costuma olhar de um modo cômico para essas exasperações da adolescência. Mesmo fazendo de sua protagonista uma personificação ambulante desse desespero da idade, Kelly Fremon Craig consegue equilibrar o drama e a comédia de sobreviver a estes anos em seu primeiro filme, Quase 18 (2016).
No seu coming of age, Hailee Steinfeld, que surgiu em Hollywood aos 14 anos, como a menina de Bravura Indômita (2010), e hoje também canta, vive Nadine, uma jovem que se sente ao mesmo tempo deslocada do seu mundinho na escola, como descolada por ser uma “alma antiga” em um mundo de likes. Mas quando a sua única amiga, Krista (Haley Lu Richardson, de Fragmentado, de 2017), em quem encontrou conforto desde a infância não tão bem-sucedida, começa a namorar o seu irmão, o bonito, estudioso e perfeito – até demais para ela – Darian (Blake Jenner, de Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, de 2016), ela se sente traída. O ciúme, insegurança constante e certo egocentrismo dela fazem com que ela transforme todos em inimigos e, forçada a sair de sua própria zona de (des)conforto, começa a enfrentar os dilemas típicos desta fase e as dificuldades de amadurecer.
Craig, que foi roteirista de Recém-Formada (2009), que abordava um “rito de passagem” posterior, navega por rotas já conhecidas do gênero adolescente, abertas também por uma cineasta, Amy Heckerling com Picardias Estudantis (1982) – que depois faria o clássico As Patricinhas de Beverly Hills (1995) –, e imortalizada por John Hugues, desde Gatinhas e Gatões (1984). Do primeiro longa do “rei das comédias adolescentes oitentistas”, aliás, Kelly empresta o hit True do Spandau Ballet para o momento em que Nadine finalmente vai falar com o cara por quem é apaixonada. Mas se lá a protagonista, vivida Molly Ringwald, que se sentia igualmente um peixe fora d’água na escola e na própria família tinha o seu crush como um par verdadeiro, o clichê aqui é outro e enfraquece ligeiramente a trajetória da protagonista em sua trama de amizade e autodescobrimento.
Contudo, Quase 18 já consegue muitos pontos extras antes com o público, desde o roteiro e direção de Craig que evitam as usuais caricaturas dos tipos escolares em seu panorama do ensino médio norte-americano e até ser indulgente com seus personagens. Os diálogos absolutamente irônicos e, por vezes, impróprio entre Nadine e seu professor, interpretado por Woody Harrelson em mais um bom momento, abrem a possibilidade para este questionamento, especialmente dessa garota, que muitas vezes se autossabota. A autenticidade e segurança que Steinfeld imprime na protagonista, por outro lado, seguram o espectador ao seu lado, para que este não deixe de enxergar seus próprios momentos de baixa autoestima e autossabotagem. Como diz Kyra Sedgwick, na pele da mãe da personagem, “todos no mundo são tão miseráveis e vazios quanto eu, eles são só melhores em fingir”.
Quase 18 (The Edge of Seventeen, 2016)
Duração: 104 min | Classificação: 12 anos
Direção: Kelly Fremon Craig
Roteiro: Kelly Fremon Craig
Elenco: Hailee Steinfeld, Haley Lu Richardson, Blake Jenner, Kyra Sedgwick, Woody Harrelson e Hayden Szeto (veja + no IMDb)
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: HBO Plus – sábado, 23/12, às 20h10 | segunda, 01/01, às 7h15 e 20h10 | sexta, 05/01, às 16h35 e 22h05 + disponível no HBO OD (On Demand no NOW, Vivo Play e outros serviços de operadoras por assinatura) e no HBO GO