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Foto do escritorCauê Petito

MOSTRA SP 2017 | Dia 5 – A farsa da realidade

Atualizado: 1 de mai. de 2021

Realidade e ficção se misturam nas pirações de Bikini Moon (2017) e as reações ao novo filme de Milcho Manchevski na sua estreia mundial na 41ª Mostra dão o tom sobre o que esperar da obra: ame ou odeie. Com outra sessão hoje, o longa é o destaque deste quinto dia de evento.

 

Condola Rashad em cena do filme Bikini Moon (2017) | Foto: Divulgação (Mostra SP)

"Uma bosta". "Genial". "Não tem como dar nota menor do que 1?". Assistir às reações do público na sessão da 41ª Mostra para Bikini Moon, mais novo trabalho de Milcho Manchevski, era um estudo à parte. O indivíduo do meu lado, revirando-se de um lado para o outro em sua poltrona e cutucando sua sonolenta namorada, perguntava "que horas o filme acabava?". Quando um louva-deus gigante apareceu em cena, então, num filme de ficção sobre um documentário que, por sua vez, é sobre pessoas fazendo um documentário sobre uma moradora de rua e suposta ex-veterana da guerra no Iraque, pôde-se sentir a fúria. Ela era até compreensível: estamos falando de uma obra que opera, a todo instante, na farsa.

A moradora de rua em questão é a auto-nomeada Bikini (Condola Rashad, brilhante), e o casal composto por Kate (Sarah Goldberg) e Trevor (Will Janowitz) encabeçam a equipe que pretende explorar a história de Bikini, e sua conturbada rotina que conta – entre a procura de um lugar pra morar e outras coisas - com a busca por uma suposta filha.

A Bikini de Condola Rashad é uma das forças que move esta obra. "É só Bikini, tipo Beyoncé... Madonna... ou Deus", explica a personagem para um funcionário público. Bikini é, supostamente, uma carpinteira, ex-veterana de guerra, mãe e possui sérios problemas mentais, sequela de um possível ataque nervoso na guerra. Imprevisível e fascinante, Bikini é uma força da natureza, despertando com seu carisma a curiosidade dos documentaristas, que anseiam cada vez mais por descobrir a real história de Bikini.

Mas a veracidade importa? É essa questão que Manchevski propõe. Logo, Kate e Trevor viram os documentados, as camadas vão aumentando, as intenções de cada um se confundem e a inicial desconfiança sobre as alegações de Bikini serem ou não reais acabam contagiando toda a narrativa, que mergulha e se perde nas lentes que captam este mundo. Ora numa câmera profissional, ora num celular, ora numa câmera velha de Bikini – curiosamente a documentação mais honesta, em sua sujeira despixelada e bruta.

Com críticas ácidas que não poupam ninguém, dos subúrbios, à "high class", ao exército americano, Manchevski adiciona mais uma camada, como se passeasse por vários filmes em um só. Tomando proveito da estética documental, ele salta no tempo e coloca seus personagens em situações cada vez mais absurdas, cada vez mais "fantásticas", passando por um drama de tribunal e culminando naquela que é a mais absurda do filme: na extrapolação desse jogo entre o real e o artificial.

Se as provocações do diretor são interessantes e possuem um conceito ótimo, há também a sensação de que elas acabam se autossabotando. A brincadeira das camadas que Manchevski aplica vale para Bikini também, que vai de figura complexa e interessante para apenas mais um objeto que o artista utiliza como intermédio para seu cinismo.

Fica a critério do observador, no final, escolher se embarca ou não nessa farsa.


ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1

23/10/17 - 19:10 - Sessão: 402 (Segunda)

CINEARTE 1

30/10/17 - 14:00 - Sessão: 1115 (Segunda)

*Sessões conjuntas com o curta O Fim do Tempo, também de Milcho Manchevski

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