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Foto do escritorNayara Reynaud

FEED DOG BRASIL 2017 | The First Monday in May

Atualizado: 4 de jun. de 2020


Rihanna no baile de gala do MET de 2015, em cena do documentário The First Monday in May (2016) | Foto: Divulgação

A moda invadiu um espaço vital do cinema no país esta semana. Dos mesmos organizadores do In-Edit, festival dedicado a filmes de música, o Feed Dog Brasil traz de Barcelona o evento que une as duas áreas, apresentando ao público, de 21 a 27 de setembro, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, produções cinematográficas que abordam o tema. E a abertura da mostra temática, na última quarta (20), já mostrou que esse mundo vai muito além de modelitos e modelos dos desfiles.

O primeiro indício estava no filme que abriu o festival, The First Monday in May (2016). O documentário de Andrew Rossi destaca a preparação para aquele que se tornou o evento mais popular deste segmento atualmente, mas que não acontece nas passarelas e sim em um tapete vermelho, mais especificamente o do baile de gala do MET. O Metropolitan Museum of Art de Nova York organiza uma festa para arrecadar fundos para o Departamento de Vestuário do museu sempre na primeira segunda-feira de maio para marcar a abertura da exposição anual do setor, mas o que ganha as manchetes e a atenção do mundo mesmo é a chegada das celebridades, musas escolhidas pelos mais famosos estilistas do mundo que ostentam algumas das mais orgulhosas criações deles para os fotógrafos e o público que fica de fora da ocasião exclusivíssima.

A jogada de Rossi é inserir o espectador, logo na primeira cena, de um modo inebriante naquele ambiente restrito de glamour do tapete vermelho, porém, ainda intocável, pois as atrizes e cantoras que por lá passam são filmadas em slow motion como se fossem deusas, fazendo a plateia até admirar um vestido que antes diria ser feio. O vislumbre do Olimpo hollywoodiano é um aperitivo para mostrar os humanos responsáveis por este momento mágico, em especial Andrew Boulton, diretor do departamento que possui um importante acervo de vestuário e responsável pela curadoria das exposições, como a homenagem póstuma ao estilista britânico Alexander McQueen, em 2011, e “China: Through the Looking Glass”, a exibição do ano de 2015, observada pelo documentário desde o início de sua pré-produção. A outra figura de destaque do longa é Anna Wintour, famosa editora-chefe da revista Vogue, que também participa do conselho do setor no museu e organiza o baile do MET Gala.

O diretor, que já investigou os bastidores jornalísticos em Page One: Inside the New York Times (2011), faz o mesmo com o evento, mas se lá o ambiente era de crise, aqui é apenas de ascensão; e os percalços, quando aparecem, são bem controlados ou não tão aprofundados pela obra. O preconceito com a moda pelos acadêmicos culturais e a discussão se ela é uma arte surgem logo no primeiro ato, mas, talvez, a argumentação do próprio Boulton não seja o suficiente para convencer o público fora do festival disto, por exemplo. No entanto, a questão que dá novo ritmo ao documentário no segundo ato diz respeito às implicações do próprio tema da exposição, que trata sobre o olhar da moda ocidental para a China, em uma parceria com o departamento asiático do museu, cuja diretoria está preocupada que os novos itens se sobreponham às peças de seu setor e o evento demonstre uma ocidentalização do Oriente.

O debate na narrativa levanta a ligação do cinema com a moda de um modo interessante, na influência dos filmes no imaginário dos estilistas sobre a China, destacando particularmente Amor à Flor da Pele (2000), longa de Wong Kar-Wai, cineasta chinês que, não por menos, foi convidado para participar da direção criativa da exposição. A questão dos estereótipos chineses criados pelo Ocidente ou frutos de uma história que a China pós-Revolução prefere esquecer surge na entrevista com uma jornalista local e o próprio Kar-Wai discute com Boulton a necessidade de usar símbolos políticos associados com os religiosos por pura polêmica, mas a problemática da apropriação cultural logo se dissipa para dar lugar a outra tensão da preparação. E, de certo modo, Rossi também usa certos estereótipos para si, começando por reforçar o de uma mulher implacável que acompanha Wintour desde O Diabo Veste Prada (2006), filme baseado no best-seller em que Meryl Streep interpreta uma personagem inspirada nela, sem que a direção se esforce muito para desfazer os personagens que ela e outros fazem de si mesmos em frente às câmeras.

A obra também só consegue “ser fashion” em sua linguagem, em momentos pontuais, como o do tapete vermelho ou em frente a um modelo muito icônico que faz parte da exibição, mas traz flagras que satisfazem suficientemente a curiosidade alheia sobre a área e as celebridades. A dificuldade de fechar o cachê astronômico de Rihanna e seu staff para cantar no baile; uma Jennifer Lawrence bela, mas desconfortável naquele ambiente; um Justin Bieber infantil e sem o mínimo interesse sobre o museu que abrigava a festa; e uma Chloe Sevigny “gente como a gente” se sentindo excluída como nos tempos de escola com a sua mesa isolada no salão. Talvez a abertura em si da primeira edição do Feed Dog Brasil tenha sido ainda mais eficiente no sentido de desmitificar pré-conceitos que o público tem do mundo: diferente do que era de se esperar, o figurino despojado que os convidados, a maioria que trabalha na área, ostentava pelo coquetel mostra a moda, antes de tudo, é estilo próprio – não muito diferente do cinema, então.


Festa de abertura do festival Feed Dog Brasil 2017 | Foto: Nayara Reynaud

Foto: Nayara Reynaud

 

The First Monday in May (2016)

Duração: 90 min

Direção: Andrew Rossi (veja + no IMDb)

Produção: Estados Unidos

Áudio e Legendas: diálogos em inglês e mandarim, com legendas eletrônicas em português

Sessões: Cinemateca Brasileira – 24/09/2017 às 20h00

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