GLORY | O humano por trás do nome e do rosto das manchetes
Atualizado: 2 de jun. de 2020
*Texto publicado originalmente no Cineweb, durante a cobertura da 40ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Os cineastas búlgaros Kristina Grozeva e Petar Valchanov confirmam em Glory (2016) a predileção por explorar dilemas sociais. Lançado em 2015 no Brasil, A Lição (2014) trazia uma professora prestes a perder a casa que, enquanto tentava remediar de qualquer jeito a situação, investigava um roubo acontecido em sala de aula. Se o questionamento ético era o cerne desse primeiro longa de uma trilogia, idealizada pela dupla, de filmes inspirados em notícias de jornais, este segundo capítulo opta por um caminho diferente. Por mais que pareça que o impasse deste conto moral sobre um controlador de ferrovia que encontra uma grande quantia em dinheiro nos trilhos e chama a polícia seja a entrega do montante, a verdadeira pergunta da obra é lançada apenas na última cena.
Antes disso, o funcionário Tsanko Petrov (Stefan Denolyubov) é exaltado como um herói nacional por um Ministério dos Transportes em crise por conta de denúncias de corrupção. A diretora de relações públicas do departamento, Julia Staikova (Margita Gosheva, mesma atriz de A Lição), coordena as ações de mídia neste sentido, enquanto passa por um processo, junto com o marido, de fertilização e congelamento de embriões. Só que o velho relógio dele, uma das poucas coisas importantes de sua vida, some, fazendo o pacato e correto cidadão lançar-se em sua busca.
Exibido em Locarno e na Mostra Internacional de cinema de São Paulo, no ano passado, o filme, expoente do neorrealismo búlgaro, por confluência ao cinema romeno e influência dos Dardenne, destaca-se pela crítica à exploração da figura de indivíduo, sem que haja uma preocupação genuína por ele, não só por parte do governo e de seus interesses escusos, mas também da imprensa e seu sensacionalismo cada vez mais imediato. E não seria diferente com o resto da população em tempos de julgamentos tão instantâneos de redes sociais. Recém-selecionado para representar o país na próxima corrida do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, trata-se de um intrincado panorama da Bulgária contemporânea, que se beneficia de seu humor involuntário para seu estudo humano.
Glory (Slava, 2016)
Duração: 101 min | Classificação: 12 anos
Direção: Kristina Grozeva e Petar Valchanov
Roteiro: Kristina Grozeva, Decho Taralezhkov e Petar Valchanov
Elenco: Stefan Denolyubov, Margita Gosheva, Ana Bratoeva, Nadejda Bratoeva, Nikola Dodov, Stanislav Ganchev, Mira Iskarova, Milko Lazarov, Hristofor Nedkov, Dimitar Sardzhev e Ivan Savov (veja + no IMDb)
Distribuição: Pandora Filmes