Dia dos Pais | A música fluindo dos pais para os filhos
Atualizado: 13 de ago. de 2020
Foto: 4144132 (user Pixabay)
“De pai pra filho”, cantava o velho Gonzagão em seu dueto com Gonzaguinha de A Vida do Viajante, depois de anos de uma relação conturbada o filho. O choque de gerações, a ausência, os caminhos tortuosos deste legado paternal para filhos e filhas, reconciliações e homenagens aparecem em várias composições inspiradas nestas figuras paternas, e muitas delas estão na playlist especial do NERVOS, com uma lista na medida para qualquer Dia dos Pais.
Homenageando àqueles em que se espelham
A data em comemoração a eles ganhou até uma canção especial na versão de Mi Amigo Felix que A Turma do Balão Mágico fez em Dia dos Pais, mas, na música, vale aquela máxima de que qualquer dia é dia para se homenagear seus progenitores. Isso seja na música brasileira, com clássicos como Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo, que Roberto Carlos compôs em 1979, em mais uma parceria com seu amigo Erasmo Carlos, ou internacional, a exemplo de Daddy, faixa do primeiro álbum solo de Beyoncé, no qual a cantora relembra os bons momentos que viveu na infância com o seu pai, e também empresário, Mathew Knowles, desejando que seu marido e o filho que virá sejam como eles. Esse tributo incondicional aparece igualmente nas letras de Meu Pai, em que Daniel destaca o que torna o Sr. José Camilo, com quem chegou a cantar em algumas ocasiões, tão único, e na gratidão estampada em 11 Vidas do também sertanejo Lucas Lucco, que lançou o single e o videoclipe emocionante com o Sr. Paulo Roberto no Dia dos Pais de 2013.
Agora, a data pode vir com presentes musicais também para os padrastos, como a compositora Lana Chapel fez para o seu, Jeff Calongne, embora It’s For My Dad tenha ficado conhecida na voz de Nancy Sinatra, homenageando o seu pai, Frank Sinatra. E quando as canções são escritas por homens, fica ainda mais claro o exemplo deles, como o filho que quer ser igual ao progenitor no pop punk do Yellowcard em Life of a Salesman. Daí, com o passar do tempo, os rebentos se veem como espelhos daqueles que o criaram, como Gabriel O Pensador percebe e relembra em Muito Orgulho, Meu Pai, música que lançou apenas em videoclipe, ou o cantor country australiano Keith Urban que se vê repetindo as mesmas coisas que o pai em Song For Dad.
Da hora de partir à ausência, relações paternas sempre deixam suas marcas
É claro que aquela música do cancioneiro brasileiro que, com o passar dos anos, se tornou a mais utilizada em homenagens paternas, não ficaria de fora desta lista. Mas os versos “Você foi meu herói, meu bandido” são muito verdadeiros do quanto as relações entre pais e filhos são espinhosas e que, mesmo crescendo, agora que também tem seu filho, Fábio Jr. faz um grande tributo ao seu Pai. O cantor apresentou a música, através de seu personagem no seriado Ciranda Cirandinha (1978), no episódio, “Toma que o Filho é Teu”, e depois se tornou o tema de abertura da novela Pai Herói (1979), a pedido da autora Janete Clair.
As dificuldades dessa hora de partir e abandonar o ninho também ficam estampadas no clássico Father and Son, em que Cat Stevens. O cantor e compositor inglês folk, que hoje se chama Yusuf, declarou em entrevista que nunca entendeu o seu pai, mas ele nunca o proibiu de nada, e que fez a canção para aqueles que não conseguem se libertar e procurar seu próprio caminho. Brian May, que aparentemente sempre teve um bom relacionamento com o pai, fala da palavra passando de geração para geração, de Father to Son, em uma das faixas mais pesadas do Queen. A falta de apoio paterna quando decidiram partir para a carreira musical transparece na letra de Perfect do Simple Plan, banda canadense que marcou o movimento emo, que invadiu o Brasil na década passada.
Bruce Springsteen também fala da difícil relação com o pai, mas tenta superar isso na lembrança que evoca em My Father’s House, assim como no single de Reba McEntire, The Greatest Man I Ever Knew, o compositor Richard Leigh – Layng Martine Jr. também está nos créditos – homenageia o pai, que podia nunca estar perto, mas o filho entendia o sacrifício dele e o amor não dito. No entanto, as cicatrizes do relacionamento com o pai, que piorou com a morte de sua mãe na infância, ainda estão abertas e são revelados por Madonna em Oh Father, faixa do álbum Like a Prayer (1989), que foi regravada pela australiana Sia, cuja relação conturbada com o pai, com múltipla personalidade, foi exposta de maneira bem lírica na coreografia realizada por Maddie Ziegler e Shia LaBeouf no videoclipe de Elastic Heart.
O abandono familiar também aparece em Daddy’s Song, composição de Harry Nilsson que ficou famosa na versão do The Monkees, no filme musical Os Monkees Estão Soltos / Head (1968), em que ele relembrava a infância e o pai indo embora em um dia chuvoso quando ele tinha três anos, e Dear Father, uma carta musical de Deryck Whibley, vocalista do Sum 41, para essa figura paterna que ele desconhece totalmente.
As partidas
Ao ver uma entrevista do líder da banda canadense de pop punk sobre tal música, Leandro Rocha, o Gee do NX Zero teve a ideia de homenagear seu pai, que também não conheceu, mas por motivos involuntários, já que ele faleceu quando o guitarrista tinha apenas dois anos de idade. Foi assim que o companheiro de banda Di Ferreiro o ajudou a compor Cedo ou Tarde, faixa do terceiro álbum deles. Do mesmo modo, o falecimento do pai, com quem tinha uma relação complicada, faz Demi Lovato rever a sua imagem com ele em Father, presente em seu último trabalho, e dizer que compreende as dificuldades que ele tinha por seus problemas mentais. A partida também inspirou Judy Collins, filha de um radialista e cantor cego, no sentimento colocado em My Father, escrita um ano depois de sua morte, mas a narrativa contada durante a canção folk country não tem caráter autobiográfico.
E se a inspiração no pai falecido não fica tão evidente se não for dita pela própria dupla sertaneja Matheus & Kauan no seu sucesso, também gravado por Gusttavo Lima, Sete Mares, assim como na balada Everything I Own do Bread, que o vocalista David Gates compôs em homenagem ao pai, dizendo tudo aquilo que queria ter falado antes, o sofrimento para adiar uma perda se escuta e se sente em Canção Pra Você Viver Mais, do Pato Fu. Sem conseguir escrever a letra para a música a qual já tinha dado um título pensando no pai que estava com uma doença grave, Fernanda Takai contou com a ajuda de seu marido e companheiro de banda, John Ulhoa, que compôs a faixa do álbum Televisão de Cachorro (1998) em homenagem à tristeza da esposa e ao sogro, que veio a falecer. A morte também afeta o “eu lírico” de Don’t Cry Daddy, música escrita por Scott Davis e gravada por Elvis Presley em 1969, cujo pai ficara viúvo 11 anos antes, uma criança que tenta consolar o pai e pede para ele não chorar, apesar da perda da mãe e esposa deles.
É de pai pra filho e de pai pra filha
A morte trágica do filho de quatro anos de Eric Clapton inspirou um de seus maiores sucessos, a triste Tears in Heaven, mas o guitarrista e cantor inglês volta ao tema de forma “um pouco” mais leve em My Father’s Eyes, falando também do pai que não conheceu, já que era filho de um dos filhos perdidos da II Guerra – no caso, de um aviador canadense que engravidou a sua mãe, então com 15 anos, e foi criado pelos avós como irmã dela –, dizendo que precisa dos olhos dele. As frustrações e aprendizados da relação de um pai e uma filha, por sua vez, são explorados por Miley Cyrus e Billy Ray Cyrus em I Learned From You, faixa da trilha sonora da primeira temporada da série que os dois estrelavam, Hannah Montana (2006-11). E a experiência com uma ex-namorada fez John Mayer aconselhar os pais, em Daughters, a cuidarem bem de suas filhas, para não afetar a vida futura delas.
E quando Luiz Gonzaga voltou à cidade natal de Exu, no sertão pernambucano, em 1946, o reencontro com o pai foi narrado em Respeita Januário, nome do também sanfoneiro da família, no tradicional acordeão de 8 baixos. E como fala para Gonzaguinha, em A Vida do Viajante, a música é transmitida de pai para filho na família Gonzaga. O dueto, embora não seja uma homenagem à relação paternal, marca o reencontro dos dois, que sempre tiveram uma relação conturbada, como mostra a cinebiografia Gonzaga: De Pai pra Filho (2012), de Breno Silveira.
Faixa Bônus
Aliás, há uma infinidade de canções que artistas compuseram para seus filhos. Ficando apenas em alguns exemplos, John Lennon já fez uma música de ninar para seu primogênito Julian – que inspirou também Hey Jude, composta pelo “tio” Paul McCartney para o menino durante a separação de seus pais – e outra para Sean, fruto de seu relacionamento com Yoko Ono. Para o primeiro, saiu Good Night, faixa do álbum branco dos Beatles que é cantada pelo baterista Ringo Starr, e, para o segundo Beautiful Boy (Darling Boy), do seu último disco do músico, já em carreira solo. Stevie Wonder, por sua vez, usa gravações domésticas da própria filha Aisha para celebrar o nascimento da pequena no hit Isn’t She Lovely. E o pai de cinco filhos, Nando Reis, deixou um recado para um deles de que O Mundo É Bão, Sebastião, gravada enquanto o compositor e cantor ainda estava no Titãs.
E para fechar esta playlist especial, tem aquela do Foo Fighters que não é claramente dedicada a um pai, mas traz a exaltação desses heróis do cotidiano. E se o seu pai for um deles para você, a voz de David Grohl em My Hero vai tocar direto em seu coração.