O DIA MAIS FELIZ DA VIDA DE OLLI MÄKI | Lutando por uma vida ordinária
Atualizado: 26 de mai. de 2020
Vem da Finlândia o respiro necessário, não só a um gênero tão explorado em Hollywood como o dos filmes de boxe, mas às produções cinematográficas sobre esportes, em geral. O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki (2016) não fala de vencedores, sejam aqueles que realmente se tornaram campeões ou aqueles underdogs que, apesar de não alçarem um título, apresentaram uma jornada de superação que torna seus resultados mais impressionantes. O diferencial da coprodução com a Alemanha e a Suécia, que rendeu o prêmio Un Certain Regard (Um Certo Olhar), no Festival de Cannes do ano passado, e gera simpatia no público, é que, apesar de acompanhar a preparação do protagonista para a grande luta da sua vida, o principal confronto dele é interno: cada vez mais o ringue e os holofotes que vieram junto com ele o fazem querer batalhar fora das cordas por uma vida comum.
Tudo começou quando o diretor Juho Kuosmanen conheceu o boxeador aposentado Olli Mäki – sim, a história é real – e sua esposa Raija, em 2011, quando apesar do estágio já avançado do mal de Alzheimer que lhe acometeu, o finlandês contava as histórias do seu ápice no esporte. No verão de 1962, o campeão europeu amador dos pesos-leves teve a chance de disputar, em Helsinque, o título mundial profissional dos pesos-penas, cujo cinturão estava com o americano Davey Moore (John Bosco Jr.), invicto há 64 lutas, naquele que foi o dia mais feliz da vida do lutador, segundo o próprio afirmou ao cineasta, mas não pelos motivos esperados.
É justamente como a luta que movimentou a Finlândia se tornou secundária para o próprio boxeador naquele momento que Kuosmanen faz questão de mostrar em seu primeiro longa. O ator Jarkko Lahti, que esteve no Brasil, durante a última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, confere certa dose de fragilidade e melancolia para este esportista que não está ligando para vitórias, muito menos derrotas, como parece ser iminente neste confronto. Para o desespero de seu empresário Elis Ask (Eero Milonoff), seu atleta não consegue se concentrar nem na dura tarefa de perder peso para se encaixar na nova categoria, nem na agenda de publicidade do evento, com fotos, coletivas e encontros sociais, pois ele está apaixonado por Raija (Oona Airola), uma jovem professora que conheceu em um casamento na sua cidade natal, no interior do país.
A equipe de filmagem que acompanha e irrita o boxeador durante a sua preparação, no decorrer da narrativa, justifica o estilo documental que se funde à influência da Nouvelle Vague no preto e branco da bela fotografia em 16mm de Jani-Petteri Passi, ambientando o filme como se tivesse sido rodado naquelas anos 60. A escolha estética também contribuiu para o tom agridoce, ainda que bem-humorado, da obra nessa angústia de Olli Mäki entre uma vida que foge de seu controle e a felicidade de encontrar o caminho que sempre desejou ao conhecer seu grande amor.
O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki (Hymyilevä Mies, 2016)
Duração: 92 min | Classificação: 12 anos
Direção: Juho Kuosmanen
Roteiro: Juho Kuosmanen e Mikko Myllylahti
Elenco: Jarkko Lahti, Oona Airola, Eero Milonoff, Joanna Haartti, Esko Barquero e John Bosco Jr. (veja + no IMDb)
Distribuição: Zeta Filmes