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Foto do escritorNayara Reynaud

O REENCONTRO | O que deixamos pelo caminho

Atualizado: 26 de mai. de 2020


Catherine Deneuve e Catherine Frot em cena do filme francês O Reencontro (Sage Femme, 2017) | Foto: Divulgação (Mares Filmes)

Durante os últimos anos, o ator francês Martin Provost tem se dedicado exclusivamente a sua carreira de diretor, cujo traço em comum encontrado em sua obra é não apenas o protagonismo feminino, mas também o mergulho dentro deste universo. Seu último filme, Violette (2013), é uma cinebiografia da escritora Violette Leduc, um nome importante do existencialismo e do movimento feminista na França. Antes, retratara em Séraphine (2008), seu trabalho de maior sucesso, a pintora um tanto marginalizada Séraphine de Senlis. Agora, em vez de uma figura célebre e/ou artística, o cineasta foi procurar na vida comum, um retrato de mulheres tão complexas quanto a dos longas anteriores, porém, mais eficiente e acessível ao público em O Reencontro (2017).

A protagonista, Claire Breton (Catherine Frot), é uma experiente e notável parteira – daí o título original Sage Femme, que brinca tanto com o significado do termo em relação à profissão quanto ao de “mulher sábia” – que mora e trabalha nos arredores de Paris. No entanto, ela tem a sua estrita rotina alterada pelo retorno da ex-madrasta, Béatrice (Catherine Deneuve), cuja partida repentina durante a sua adolescência lhe causou diretamente muita mágoa, além do que fez ao seu pai, um nadador olímpico. A espirituosa e imprudente senhora busca no contato com a antiga enteada um apoio para este momento em que ela se vê doente, com um tumor no cérebro.

A volta de Béatrice só precipita um período de turbulência no cotidiano tão calmo e, por vezes, apático de Claire. A clínica de partos humanizados onde trabalha irá fechar e pressionam para que a parteira vá para uma maternidade moderna, cuja toda tecnologia empregada vai contra seus princípios. A relação com o filho (Quentin Dolmaire, o adolescente de Três Lembranças da Minha Juventude, de 2015) já sofre pelo afastamento natural dele estar entrando na vida adulta e fica mais complicada com Simon escolhendo outros rumos em sua faculdade. Além disso, o caminhoneiro Paul (Olivier Gourmet, de filmes dos irmãos Dardenne, como A Garota Desconhecida, de 2015), vizinho de sua horta às margens do Sena, se interessa por ela, apesar de sua resistência.

Conduzido por duas Catherine’s, O Reencontro encontra um de seus trunfos nas ótimas performances delas e no bom conjunto do elenco. Se é claro que Béatrice tenta permanecer em um padrão que já não mais lhe pertence, seja socialmente ou fisicamente, Deneuve, mais próxima da figura elegante e exuberante com a qual ficou marcada desde os anos 1960, também transmite o quanto a personagem fica realmente afetada pelas consequências de seus atos, mas não se arrepende de ter seguido seus sentimentos e vontades. A empatia criada por ela é igualmente alcançada por Frot, porém, por outros meios. A atriz de Marguerite (2015) trabalha com a contenção este papel de alguém que ajudou a trazer tantas vidas ao mundo, mas relegou-se da própria – e, justamente, é a possibilidade da morte de uma pessoa tão significante em seu passado, para o bem e para o mal, que a faz olhar para sua própria vida.

A forma singela e sincera como Provost lida até os clichês é o outro ponto positivo do filme que poderia se tornar um melodrama barato. A necessidade de amarrar as pontas soltas deixadas pelo caminho é o fio condutor da obra, que deixa a reconciliação e o perdão como mensagens, entretanto, sem grandes arroubos ou mudanças repentinas de atitudes das personagens, o que deixa este reencontro tão prazeroso quanto outra drama ou comédia dramática sobre o tema, só que mais crível.

 

O Reencontro (Sage Femme, 2017)

Duração: 117 min | Classificação: 14 anos

Direção: Martin Provost

Roteiro: Martin Provost

Elenco: Catherine Deneuve, Catherine Frot, Olivier Gourmet, Quentin Dolmaire, Mylène Demongeot, Pauline Etienne e Pauline Parigot (veja + no IMDb)

Distribuição: Mares Filmes

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