UMA DAMA DE ÓCULOS ESCUROS COM UMA ARMA NO CARRO | Um filme de visão estilizada com uma lacuna no ro
Atualizado: 16 de mai. de 2020
A provocação e criatividade vistas no enorme título, ao mesmo tempo, literal e genérico de Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro (2015), infelizmente, são perdidas na execução desta produção franco-belga capitaneada por Joann Sfar. Depois de estar à frente de vários longas animados, o cartunista e quadrinista volta à direção de um live action, algo que havia feito apenas em seu début, a cinebiografia Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres (2010), em uma adaptação. No caso, de La Dame Dans L'auto avec des Lunettes et un Fusil, livro de Sébastien Japrisot publicado em 1966 e que já foi para as telas em 1970, por Anatole Litvak em A Garota no Automóvel – Com Óculos e um Rifle.
A moça em questão que o filme apresenta, a princípio, é Dany Dorémus (a escocesa Freya Mavor, presente na série Skins em 2011 e 2012). Após terminar de datilografar um memorando – sim, é uma produção de época – por toda a noite, na casa de seu patrão (Benjamin Biolay, de Personal Shopper, de 2016), por quem alimenta um interesse, mesmo ele sendo casado com sua antiga amiga Anita (Stacy Martin, de Ninfomaníaca, de 2013), a secretária recebe de Michel a incumbência de leva-lo e a família dele ao aeroporto e devolver o carro depois. No entanto, a secretária decide sair com o Thunderbird azul de seu chefe e partir rumo ao sul da França para conhecer o mar.
A questão é que a garota aparece na cena de abertura já à beira do mar: seria, então, um flash do passado ou do futuro, assim como muitos que aparecem no decorrer da trama? Só que logo surgem, em sua rota, pessoas que dizem que ela já passou naquele local no dia anterior e o longa passa a brincar com a ideia de delírio da personagem, ainda mais quando Dany fala com ela mesma no espelho. A narrativa cria um suspense na plateia, instigado a saber o que está acontecendo naquela história, mas se perde no caminho para encontrar a saída mais anticlimática possível: uma explicação lógica que soa bem ilógica e desanima.
A resolução, que vem desde o romance de origem, tira até a certa mágica audiovisual criada por Sfar, de uma maneira não necessariamente original, ao emular uma aura sessentista e setentista, seja na fotografia em sépia ou na divisão da tela em alguns clipes de passagem de tempo e a outras situações. Até o modo fetichista com que ele filma a protagonista pode ser encarado pelo espectador como sendo em favor do estilo que a obra assume, se houvesse mais consistência do roteiro na história e em mostrar a tal dama não apenas de forma sexualizada.
Neste caso, se a mente e os olhos não encontram satisfação por completo com o filme, o prazer é sentido pelos ouvidos, com a interessante trilha sonora com composições de Will Grove-White e uma seleção que vai do soul de James Carr ao rock do Scars, justamente com The Lady In The Car With Glasses On And A Gun, passando por Nel Cimitero Di Tucson, música de Gianfranco e Gian Piero Reverberi presente no western spaguetti Viva Django (1968) e conhecida também por ser usada como sample de Crazy do Gnarls Barkley.
Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro (La Dame Dans L'auto avec des Lunettes et un Fusil, 2015)
Duração: 93 min | Classificação: 14 anos
Direção: Joann Sfar
Roteiro: Gilles Marchand e Patrick Godeau, baseado no livro “La Dame Dans L'auto avec des Lunettes et un Fusil” de Sébastien Japrisot
Elenco: Freya Mavor, Benjamin Biolay, Elio Germano, Stacy Martin e Thierry Hancisse (veja + no IMDb)
Distribuição: Alpha Filmes / Mares Filmes