O DIA DO ATENTADO | Um mosaico incompleto das horas de horror em Boston
Atualizado: 18 de jun. de 2020
Logo depois de apresentar Mark Wahlberg como um policial insatisfeito com a posição e as tarefas que está executando, aparentemente por punição, o diretor Peter Berg apresenta cenas cotidianas de Tommy Saunders e de outras figuras/personagens de Boston naquela manhã do dia 15 de abril de 2013. Só que, como o título entrega, aquela rotina seria brutalmente alterada e a data, que até então só marcaria o Patriots’ Day (Dia dos Patriotas) e a realização da tradicional maratona local no feriado, se tornaria O Dia do Atentado (2016).
Com a função de gerar identificação do público e prenunciar a tragédia por vir, este recurso que o cineasta apresenta em um tom quase documental e com uma câmera frenética já havia sido utilizado pelo mesmo em Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (2016), o segundo capítulo de sua trilogia em parceria com Wahlberg sobre heróis da vida real, que se iniciou com O Grande Herói (2013) e se encerra com a sua visão sobre o atentado na Maratona de Boston.
No entanto, o roteiro desta produção, em comparação com o anterior, sofre com o insucesso de suas ambições, enquanto o outro era mais contido pela dificuldade do tema – explosão em uma plataforma de petróleo – e portanto mais conciso em sua narrativa. Isso porque O Dia do Atentado apresenta uma série de personagens que terão o seu papel naquela ocasião, ou seu próprio drama no caso das vítimas, mas, logo após o resgate dos feridos, os larga em detrimento da ação principal: a busca pelos suspeitos, os irmãos chechenos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev (Themo Melikidze e Alex Wolff).
O longa só retorna ao que aconteceu com o casal Jessica Kensky e Patrick Downes (Rachel Brosnahan e Christopher O'Shea), por exemplo, em um clipe perto do final e nos depoimentos reais deles e de outras figuras apresentadas durante a trama, que aparecem um pouco antes de entrarem os créditos. Da mesma forma, se espera mais de J.K. Simmons, mas pouco é entregue para o seu sargento Pugliese. Até porque Tommy Saunders, personagem fictício feito por Wahlberg e usado para sintetizar a figura dos policiais de Boston que participaram desta caçada aos terroristas, está onipresente na trama, participando da perseguição até em outra cidade.
O texto também derrapa em falas de alívio cômico, seja as involuntárias, como a do personagem chinês de Jimmy O. Yang falando com sotaque “Let’s get this motherf*cker”, ou as frases propositais ruins – o “agora não vai mais flutuar” após um barco ser alvejado por tiros é um exemplo – que vêm depois deste momento não se encaixam com o clima da narrativa. A bem da verdade, elas até dispersam um pouco da atenção da plateia que o filme havia conseguido até então, graças a tensão sempre exercitada pela direção de Berg e pela trilha sonora discretamente climática de Trent Reznor and Atticus Ross.
Essa sensação volta como antes em uma cena específica no terceiro ato, no instigante interrogatório com a esposa de Tamerlan, a muçulmana norte-americana Katherine Russell, vivida pela “Supergirl” Melissa Benoist. Porém, logo se esvai e percebe-se quantas lacunas poderiam ser exploradas pela obra, que carrega um sentimento patriótico junto à homenagem à cidade de Boston, sem o olhar crítico que Berg trouxe em Horizonte Profundo.
O Dia do Atentado (Patriots Day, 2016)
Duração: 133 min | Classificação: 14 anos
Direção: Peter Berg
Roteiro: Peter Berg, Matt Cook, Joshua Zetumer, Paul Tamasy e Eric Johnson
Elenco: Mark Wahlberg, Kevin Bacon, John Goodman, J. K. Simmons, Michelle Monaghan, Vincent Curatola, Alex Wolff, Themo Melikidze, Melissa Benoist, Jimmy O. Yang, Rachel Brosnahan, Christopher O'Shea e Jake Picking (veja + no IMDb)
Distribuição: Paris Filmes