É TUDO VERDADE 2017 | Permanecer Vivo – Um Método
Atualizado: 14 de mai. de 2020
O polêmico ensaio Rester Vivant do escritor Michel Houellebecq tem servido, desde 1991, como um guia sarcástico para se manter vivo que alguns leitores usaram como método. Espécie de autoajuda às avessas, as palavras do francês fizeram alguns leitores que já chegaram a duvidar, por vários motivos, “se valia a pena” a ver que, por pior que seja a vida, é melhor mantê-la e transformar esse sofrimento em arte, do que apenas morrer.
É atrás dessas pessoas que o holandês Erik Lietshout corre atrás em seu ensaio documental Permanecer Vivo – Um Método (2016), filme experimental e existencial que faz parte da programação do É Tudo Verdade deste ano, na mostra O Estado das Coisas. Na realidade, a sua câmera, sempre inquieta, gosta mesmo é de correr pelos corredores de um hospital psiquiátrico onde um dos personagens retratados ficou internado após se desestabilizar depois de sua separação. Ele é uma das figuras aparentemente reais apresentadas no longa, cujos problemas psicológicos os levaram a pensar ou tentar o suicídio, e que tenta converter sua dor em uma forma artística: no seu caso e de outra moça, em poesia; de outro homem, em pinturas; e de Iggy Pop, fã do livro e do escritor, em música.
O rockstar, porém, não apenas canta suas “partículas de dor em seu cérebro” com I Want To Go To The Beach, como também as exorta ao declamar trechos da obra de Houellebecq que ecoam durante a sessão. Além de emprestar a sua voz gravíssima como narrador da produção, o cantor usa seus dotes teatrais para o segmento claramente mais ficcional da experiência proposta por Lietshout: o momento em que ele se encontra com o recluso escultor e inventor Vincent, apresentado como um dos personagens do documentário, mas se trata do próprio Michel, para quem a arte não se faz sem sofrimento.
O curioso é que tanto o autor cujos escritos inspiraram a realização deste trabalho quanto o próprio longa parecem deslocados do espírito irônico evidente nas palavras do ensaio literário em seus conselhos metódicos para não morrer. Permanecer Vivo deseja ser um libelo depressivo contra a depressão e o pensamento suicida, mas só ganha vida, no sentido de ser o filme “prazeroso” sobre sofrimento ao qual se declara abertamente, através de Iggy Pop. Com seu andar peculiar, o artista mostra que cada um inventa o seu jeito para permanecer na corda bamba que é viver, pois descer seria simplesmente inútil.
Permanecer Vivo – Um Método (To Stay Alive – A Method, 2016)
Duração: 70 min | Classificação: 12 anos
Direção: Erik Lietshout (veja + no IMDb)
Produção: Holanda e Bélgica
Áudio e Legendas: diálogos em inglês e francês, com legendas eletrônicas em português
Sessões: Centro Cultural São Paulo (CCSP) – 27/04/2017 às 20h00