POWER RANGERS | O Clube dos Rangers
Atualizado: 8 de mai. de 2020
Vinte anos depois do último filme, os guerreiros intergalácticos coloridos estão de volta ao cinema. Sem subtítulos, sendo chamada simplesmente de Power Rangers (2017), a nova produção tenta retomar nas telonas a franquia que, desde 1993, faz sucesso nas telinhas e originou vários jogos, além de Power Rangers: O Filme (1995) e Turbo: Power Rangers 2 (1997). Só que, desde o princípio, o projeto capitaneado por Dean Israelite tem como desafio conquistar um novo público enquanto precisa satisfazer os fãs que assistiam às séries desses guardiões das galáxias na TV quando crianças e, hoje, já são adultos.
Para agradar aqueles que ansiavam ver de novo a hora de morfar, o longa resgata os personagens da 1ª temporada da série original, mas busca um tom mais realista do que o visual kitsch e as coreografias de luta escrachadas que caracterizaram a franquia, de olho nas plateias de hoje. Por isso, há todo um prelúdio mostrando que os primeiros Power Rangers eram extraterrestres que morreram aqui, enquanto a Terra ainda era habitada por dinossauros, para proteger o Cristal Zeo da vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks), que pretende dominar o universo tendo o artefato em suas mãos. Só que a existência dele sob o solo da pequena Angel Groove, a famosa Alameda dos Anjos, é descoberta nos dias atuais, quando as moedas do poder são encontradas em uma pedreira por cinco adolescentes, escolhidos pelas próprias a serem os novos PR.
O diretor sul-africano traz uma diversidade à nova equipe, que vem desde o elenco, formado por rostos quase desconhecidos. Isso porque Jason, o Ranger Vermelho, não é interpretado por Zac Efron, e sim por seu “cover australiano”, Dacre Montgomery, que estará na próxima temporada de Stranger Things (2016-). Kimberly, a Rosa, é feita pela britânica Naomi Scott, do filme da Disney Lemonade Mouth (2011); Billy, o Azul, é o afro-americano RJ Cyler, do indie Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (2015); Trini, a Amarela, é a cantora e atriz de ascendência mexicana Becky G., que fez uma participação na série Empire (2015-); e Zack é o chinês Ludi Lin, que esteve na última season de Marco Polo (2014-).
Isso se reflete também nos personagens, todos outsiders na escola, em uma influência clara e admitida a Clube dos Cinco (1985). John Gatins, roteirista de Gigantes de Aço (2011), O Voo (2012) e Need for Speed: O Filme (2014), coloca em destaque o líder Vermelho como o quarterback que foge dos holofotes e da pressão imposta sobre ele por ser o melhor jogador do time de futebol americano, mas pouco trabalha com a figura de Zack, pontuado apenas como o asiático impulsivo que tem uma mãe doente. As rangers Rosa e Amarela têm suas questões pessoais – o bullying virtual no caso da primeira e a sexualidade da segunda, que sabiamente não é taxada pelo texto – jogadas na trama sem tanto aprofundamento, mas a superficialidade não chega a comprometer suas narrativas.
Por fim, é o ranger Azul quem conquista mais a plateia, até por ser o personagem melhor desenvolvido pelo roteiro. Diagnosticado dentro do espectro autista, Billy é apresentado com suas características peculiares: embora não evite tanto o contato visual, que é um traço comum, os interesses específicos estão ali nas canetinhas, na busca por lata-velha, como fazia com seu pai já falecido, e no gosto por ciência em geral. Mesmo o didatismo com que Gatins explica, através da fala do personagem, algumas especificidades do autismo, como não entender as piadas dos colegas, se justifica por essa literalidade própria deles.
Com experiência em ficção científica juvenil, desde seu longa de estreia, Projeto Almanaque (2015), em que adolescentes descobrem uma máquina do tempo que sai do controle, Israelite tenta equilibrar o retrato dos jovens guerreiros com a ação, reduzida só a Angel Groove, desde o início, em um falso plano-sequência 360° dentro do carro e muitos planos holandeses – aqueles diagonais. Os efeitos especiais suprem a necessidade da narrativa e o que chama mais a atenção é o Zordon em formas 3D, feito a partir das capturas de movimento de Bryan Cranston. É mais ou menos como o próprio filme: sem marcar, nem decepcionar, já que as expectativas não eram necessariamente muito altas para esta produção cujo principal objetivo parece ser iniciar uma franquia cinematográfica, entrega o suficiente para atrair o público para um próximo capítulo dos Power Rangers nos cinemas.
Power Rangers (Power Rangers, 2017)
Duração: 124 min | Classificação: 10 anos
Direção: Dean Israelite
Roteiro: John Gatins (argumento: Matt Sazama, Burk Sharpless, Michele Mulroney e Kieran Mulroney), baseado na série/franquia “Power Rangers” de Haim Saban e Shuki Levy
Elenco: Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Ludi Lin, Becky G., Elizabeth Banks, Bryan Cranston e Bill Hader (veja + no IMDb)
Distribuição: Paris Filmes