BIG LITTLE LIES e CRASHING | A frustração dos grandes sonhos e pequenas aspirações
Atualizado: 26 de abr. de 2020
Uma mulher que desejou cursar teatro quando jovem transformou-se em uma das mães mais atuantes da comunidade, enquanto uma bem-sucedida executiva quer ser tão bem vista entre o círculo de pais e responsáveis da importante escola de uma cidade californiana. Do outro lado dos Estados Unidos, um homem insiste que será o próximo grande nome do stand-up. As duas primeiras estreias do ano da HBO têm em comum justamente a exploração das aspirações perdidas de seus personagens.
Mas se, em Crashing (2017), a frustração é clara na trajetória de Pete, um alter ego do comediante e criador da série cômica Pete Holmes, ela é vista pelas frestas das superfícies do mundo de aparências de Big Little Lies (2017). O protagonista da primeira descobre logo nas cenas iniciais a traição de sua mulher, uma professora que o sustentou durante anos enquanto, sem emprego, ele continua a perseguir os pequenos palcos dos bares de Nova York. Já na segunda produção, a frenética Madeline Martha Mackenzie, vivida por Reese Whiterspoon, que estrela a minissérie com Nicole Kidman e Shailene Woodley, alimenta o sonho juvenil esquecido produzindo uma peça local, enquanto Laura Dern sente, na pele de Renata Klein, a rejeição de não conseguir o mesmo êxito que obtém no trabalho na disputa pouco velada por pequenos poderes na elite da ensolarada – até na fotografia – Monterrey.
É para a cidade litorânea da costa oeste dos Estados Unidos que a obra televisiva transfere o cenário da história de Pequenas Grandes Mentiras, best-seller da australiana Liana Moriarty que parte da dinâmica entre mães, pais e responsáveis dos alunos de um prestigiado colégio particular para criar um thriller de relações muito mais complexas do que aparenta.
Madeline tem de conviver com o fato de uma de suas filhas (Darby Camp) agora estudar com a meia-irmã (Chloe Coleman), nascida do relacionamento de seu ex (James Tupper) com a nova mulher (Zoë Kravitz). Sua amiga Celeste Wright (Nicole Kidman em outro ambiente de Mulheres Perfeitas, 2004) tem a família de comercial de margarina, e a paixão ainda latente entre ela e Perry (Alexander Skarsgård) causa inveja nas redondezas, mas seu olhar sempre entrega que há algum erro nesta imagem. Quem deixa muita coisa nebulosa para trás é Jane Chapman (Shailene Woodley), contadora e mãe solteira recém-chegada no lugar, que logo é adotada no rol de amizades de Mackenzie, a rainha sênior da porta da escola.
A fofoca domina o restrito círculo da alta sociedade da localidade, porém, a minissérie de Jean-Marc Vallée, primeiro trabalho na televisão norte-americana do cineasta canadense, vai além do que é comum com esta premissa, em sua dose de violência, escondida em gavetas e no íntimo das casas, ou escancarada no crime ocorrido em uma festa de gala na cidade.
Sabe-se que ocorreu um assassinato, há a coletiva de imprensa da polícia e depoimentos de personagens secundários, mas não se sabe quem morreu. O que dirá quem matou, pois a minuciosa e intrigante montagem de Big Little Lies leva à risca a função de um piloto em instigar o público a assistir os próximos capítulos desta história, ao pincelar os elementos da trama policial entre um caso de possível agressão no primeiro dia de aula que o primeiro episódio e a apresentação das personagens. Introduzidas por figuras satélites da narrativa, em uma interessante escolha que diz muito sobre os tempos de redes sociais e seu “coro” de pré-julgamento, as protagonistas vividas por um trio de ótimas atrizes são construídas através da desconstrução do roteiro de David E. Kelley.
Talvez, seja o que falte em Crashing, que não diz muito a que veio em seu piloto, apesar de ter a mão de Judd Apatow na produção. Apostando na sempre interessante e não tanto explorada lógica do perdedor, a criação de Pete Holmes anseia por um diferencial além disso e da dissonante amabilidade que o comediante empresta ao personagem, mesmo humilhado. Igualmente, ressente-se a ineficiência do humor, ainda que o protagonista fosse sem talento: o primeiro episódio gera mais interesse em seu terceiro ato, com as cenas do guincho e, em especial, das crianças no metrô.
Big Little Lies (2017)
Minissérie (estreia) | 1ª temporada: 7 episódios, de 19 de fevereiro a 2 de abril de 2017
Canal: HBO | Exibição: Domingos, às 23h
Horário alternativo: Terças, à 0h20 na HBO e 21h na HBO 2 | Quartas, às 20h na HBO 2 | Quintas, às 22h na HBO | Sextas, às 17h50 na HBO 2
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: David E. Kelley, baseado no livro “Pequenas Grandes Mentiras”, de Liane Moriarty
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Alexander Skarsgård, Laura Dern, Adam Scott, James Tupper e Zoë Kravitz (veja + no IMDb)
Crashing (2017)
Série (estreia) | 1ª temporada: 8 episódios, de 19 de fevereiro a 9 de abril de 2017
Canal: HBO | Exibição: Domingos para segundas, à 0h30
Horário alternativo: Terças, às 19h na HBO e 20h na HBO Plus | Quartas, às 10h30 na HBO Plus e 21h na HBO 2 | Quintas, às 18h25 na HBO 2
Criação: Pete Holmes | Roteiro: Jamie Lee, Judd Apatow, Oren Brimer, Judah Miller, Eric Slovin e Beth Stelling
Direção: Judd Apatow (produtor executivo), Chris Kelly, Ryan McFaul e Jeff Schaffer
Elenco: Pete Holmes, Lauren Lapkus, Artie Lange e George Basil (veja + no IMDb)