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Foto do escritorNayara Reynaud

A TARTARUGA VERMELHA | Uma fábula livre de moral ou respostas

Atualizado: 26 de abr. de 2020


Cena da animação franco-belga A Tartaruga Vermelha (La Tortue Rouge, 2016) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)

Após passar por Cannes, onde ganhou o prêmio especial do júri na mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard), e no Anima Mundi do Rio, A Tartaruga Vermelha (2016), produção franco-belga com participação dos japoneses do Studio Ghibli, chega ao Oscar deste ano figurando como o mais alternativo dos indicados à Melhor Animação. Não apenas por ser um filme sem diálogos em seus 80 minutos de duração, mas pela natureza de sua história de tom fabular e reflexivo nas possíveis leituras originadas da simplicidade narrativa de Michael Dudok de Wit.

Trata-se do primeiro longa do diretor e animador holandês, que dirigiu quatro curtas antes, dentre eles, Father and Daughther (2000), pelo qual já ganhou um Oscar. No breve retrato da filha à espera da volta do pai que tanto amava, o realizador apresentava a mesma predileção vista aqui em falar sobre o fluxo da vida. O nascer, crescer, encontrar um amor, ter filhos, educa-los, vê-los partir e envelhecer até o final exprimir um significado de retorno deste ciclo.

Esse caminho guia o novo trabalho, que traz sua fábula autoral, roteirizada por ele e Pascale Ferran, sobre um naufrago que, após muito lutar para sair da ilha deserta onde foi parar, se apaixona por uma tartaruga vermelha que se transforma em mulher. A animação, que começa com o homem à deriva em um mar turbulento, não revela o nome nem o passado do personagem: ele é uma folha em branco que ressignifica sua própria vida naquela porção de terra, assim como o lugar se modifica a partir dele, sendo o grupo de caranguejos o melhor exemplo. Talvez, justamente por isso, seja tão fácil se identificar e se angustiar junto com esta figura quando ele cai de um penhasco e fica preso em uma caverna cheia de água e aparentemente sem saída, que serve na trama como uma espécie de rito de passagem.

Apesar do Studio Ghibli apenas colaborar na produção e não da equipe de animadores franceses e belgas, seu trabalho parece ter influenciado os colegas europeus. A obra tem certo ar oriental que vai além da floresta de bambus presente na trama e que se observa na calma e reflexões suscitadas pela narrativa. Os traços e o minimalismo também são vistos nos aspectos técnicos desta animação, que por trás do despojamento de seu 2D, traz um incrível uso da incidência da luz sobre os cenários durante o longa: desde a escolha certeira de dar tons de cinza nas cenas noturnas, deixando a produção em preto e branco nestes momentos, até as cores dadas nas sequências ao entardecer, com o sol poente, ou na breve passagem no amanhecer, com o céu iluminado pelo sol prestes a nascer.

Da mesma maneira a produção que ganhou o Annie, prêmio mais importante do gênero, como Melhor Animação Independente usa de uma simples história para abrir um amplo leque de interpretações. Talvez, teológicas com essa espécie de Adão e Eva? Filosóficas com uma ideia lockeana de tábula rasa? Sociológicas quanto à relação com a família ou psicológicas nas projeções do personagem? Mas o interessante de A Tartaruga Vermelha é que todas essas suposições caem quando o próprio filme pede para o espectador se deixar levar pelos seus pensamentos mais abstratos.

 

A Tartaruga Vermelha (La Tortue Rouge, 2016)

Duração: 80 min | Classificação: Livre

Direção: Michael Dudok de Wit

Roteiro: Pascale Ferran e Michael Dudok de Wit (veja + da equipe técnica no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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