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Foto do escritorNayara Reynaud

TONI ERDMANN | Uma comédia de constrangimentos, um drama de insatisfações

Atualizado: 26 de abr. de 2020


Sandra Hüller em cena do filme alemão Toni Erdmann (2016) | Foto: Divulgação (Sony Pictures)


O forte candidato alemão a Melhor Filme Estrangeiro neste Oscar 2017 está longe de se enquadrar nos padrões dos últimos vencedores da categoria, embora esta seja uma das que mais primam pela ousadia dentro da premiação da Academia. Com seu humor peculiar e longa duração, Toni Erdmann (2016) é um filme que mais do que sair, tira o espectador do lugar comum, mesmo tratando de temas universais. Centrado em uma complexa relação entre pai e filha, o terceiro longa da alemã Maren Ade, que também é produtora de outros títulos, aborda as insatisfações na carreira profissional e como isto, por vezes, está ligado à necessidade social de se mostrar “importante”.

Após a morte de seu velho companheiro, o cachorro Willi, o professor escolar Winfried Conradi, que também acabara de perder seu único aluno particular de piano, resolve tirar algum proveito desse momento e se reaproximar de sua filha de quem está afastado. O alemão então parte para a Romênia, onde Ines Conradi (Sandra Hüller) trabalha em uma empresa de consultoria, prestando assistência a uma multinacional que tem planos de, talvez, terceirizar a produção local naquele país, filmado por Ade a partir de seus contrastes entre a moderna Bucareste e o subdesenvolvimento nas bordas, na periferia e interior.

Só que a presença de seu pai, um piadista inveterado, não agrada a consultora, incomodada com as pegadinhas e brincadeiras dele, dignas de “tiozão do churrasco”, até na frente de seus contatos profissionais. É então que ele tem a brilhante ideia – pelo menos, para o filme, que ganha uma estranheza única a partir desse momento – de fingir voltar para Alemanha para aparecer como uma nova persona: Toni Erdmann, um life coach de empresários que se mostra presente e inconvenientemente em cada passo de Ines.

O humor singular de Winfried e, consequentemente, da obra é daqueles que podem agradar parte do público, mas que igualmente fazem alguns espectadores pegarem birra dos personagens durante as 2 horas e 40 minutos de projeção. Fato é que o filme disfarça sua longa duração quando entrega momentos inesperados a partir do segundo e, especialmente, do terceiro ato, a exemplo da festa de aniversário da filha. O inusitado fez com que Toni Erdmann fosse premiado pela crítica no Festival de Cannes, provavelmente também impressionada com a complexidade da relação dos protagonistas.

Como diz a letra de Greatest Love of All, canção gravada por George Benson e eternizada por Whitney Houston que aparece aqui em uma cena memorável, todo mundo procura um herói e Ines, como nunca o achou, resolveu viver consigo mesmo, já que “amar a si mesmo é o maior amor de todos”. Mas ante a necessidade de toda mulher de sempre estar se afirmando em seu ambiente de trabalho, independente de sua competência, a consultora passa a se autoquestionar. Por isso, o alter ego que dá nome ao longa, que, a princípio, só causaria constrangimento à filha, serve como forma de ajuda-la nos desafios na empresa e, mais que isso, a libertá-la de um estágio de vida que não a satisfaz; ao contrário, só a oprime. Assim, ao mesmo tempo em que o rejeita, ela precisa e deseja da proteção do pai, para se sentir “sã e salva” como diz a música Safe and Sound, do Capital Cities, na dissonante sequência da balada.

 

Toni Erdmann (Toni Erdmann, 2016)

Duração: 162 min | Classificação: 16 anos

Direção: Maren Ade

Roteiro: Maren Ade

Elenco: Sandra Hüller, Peter Simonischek, Michael Wittenborn, Thomas Loibl, Trystan Pütter, Ingrid Bisu e Hadewych Minis (veja + no IMDb)

Distribuição: Sony Pictures

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