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Foto do escritorNayara Reynaud

LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES | Sonhando o passado e o futuro entre as escolhas do presente

Atualizado: 26 de nov. de 2020


Ryan Gosling e Emma Stone em cena do filme La La Land – Cantando Estações (2016) | Foto: Divulgação (Paris Filmes)

Quem diria que, de uma discussão no trânsito que se transformou em provocação mútua, nasceria um amor entre uma atriz em busca de um papel em Hollywood, onde o seu único trabalho tem sido no café de um estúdio, e um pianista que deseja salvar o jazz montando o seu próprio clube?

Mas La La Land – Cantando Estações (2016) é justamente o tipo de filme que gosta de causar primeiras impressões no público e, aos poucos, abandoná-las, desvelando outras camadas. É o que faz com a impactante sequência de abertura, justamente no engarrafamento em Los Angeles, que remonta ao estilo dos musicais clássicos, em especial dos anos 1930 a 1960, dentro da sua proposta de ser uma homenagem ao gênero cinematográfico e à sétima arte como um todo.

Metalinguística, a obra traz uma infinidade de referências, entre citações diretas a dramas que fizeram a historia do cinema, como Casablanca (1942) e Juventude Transviada (1955), e elementos que fazem alusão aos grandes títulos da categoria, a exemplo da icônica cena no poste de Cantando na Chuva (1952) ou as amigas no apartamento em Amor, Sublime Amor (1961). Porém, apesar da ode a essa herança marcante, o cineasta Damien Chazelle escolhe uma estrutura moderna para conduzi-la, com números musicais pontuais, sendo que só algumas contam com as coreografias criadas por Mandy Moore, e são conduzidos por atores que não são exímios cantores para os mais puristas, mas que entregam a mais pura emoção em suas interpretações.

Assim, Emma Stone e Ryan Gosling dão vida a Mia e Sebastian, condutores de uma trama que bebe da fantasia e surrealismo característicos do gênero, mas igualmente consciente do realismo que marca o cinema atual, que só permite o voo da imaginação aos super-heróis. Trata-se de um filme de dualidades que não se opõem, mas se complementam. Por isso, uma discussão pertinente sobre o futuro do jazz – que faz parte da formação do antes músico Chazelle, como já mostrado no excelente Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) –, entre o pensamento classicista do pianista e a experimentação eletrônica de seu colega, interpretado pelo cantor John Legend, diz muito sobre os próprios musicais, que vivem um momento de declínio, e Hollywood, com seus remakes, reboots e CGI’s.

A música, como já poderia se imaginar, tem um papel fundamental no longa, mas a trilha sonora de Justin Hurwitz faz mais do que conduzir as fases do relacionamento de Mia e Sebastian, marcadas pelas estações do ano, como indica o subtítulo nacional. As canções dele, ora alegres, ora melancólicas, tais quais as cores vibrantes e variadas da paleta, que se deixam levar por um azul tristonho na direção de arte de David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco e na fotografia de Linus Sandgren, entregam os sentimentos e dilemas comuns a qualquer relação amorosa. Entre a empolgação esfuziante da paixão e as agruras do amor cotidiano, a dúvida de se entregar um pouco à vida do parceiro ou dedicar-se apenas a si, a obra escolhe não percorrer um único caminho, deixando que sonhos iniciais dos personagens sejam modificados conforme as oportunidades em sua trajetória, e sem apontar certezas.

Talvez, o mais perto que chega disso é ao dar a ideia de que, para sonhar, é preciso pôr os pés no chão, mas a realidade também depende dos sonhadores que Mia conclama em Audition (The Fools Who Dream) para movimentar o mundo e criar, por exemplo, este computador, tablet ou celular, em que você está lendo este texto. Aliás, quem faz Hollywood, senão sonhadores como o próprio Chazelle, que teve de esperar seis anos para que um estúdio aceitasse este projeto? No meio tempo, o diretor provou que poderia estar à frente da produção que julgavam arriscada, com o aclamado e lucrativo Whiplash, do qual ele empresta alguns planos aqui, especialmente quando as bandas estão no palco.

O roteiro escrito lá em 2010 não surpreende, até porque se apoia conscientemente em clichês, por causa de sua proposta. No entanto, deixa o melhor para o final. A sequência de encerramento de La La Land é memorável e tão significativa, que tem tudo para se tornar uma daquelas “inesquecíveis” do cinema, além de deixar uma última impressão ótima sobre o filme, recordista de prêmios no Globo de Ouro, com sete estatuetas, e forte candidato para o Oscar. Assim, é inevitável: você vai se pegar, mesmo bem depois da sessão, cantarolando e murmurando City of Stars, como Emma Stone na versão voz e violão dos créditos, a pensar não só em seus amores, mas em todas as escolhas da sua vida.

*A Tatá Snow, na Freakpop, e o Carlos Helí de Almeida, no Globo, compilaram várias referências a outros filmes presentes em La La Land. Vale a pena conferir, especialmente para quem já assistiu.

 

La La Land – Cantando Estações (La La Land, 2016)

Duração: 128 min | Classificação: Livre

Direção: Damien Chazelle

Roteiro: Damien Chazelle

Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, Rosemarie DeWitt, John Legend, J.K. Simmons (veja + no IMDb)

Distribuição: Paris Filmes

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