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Foto do escritorNayara Reynaud

COM AMOR, SIMON | A escola dos corações partidos

Atualizado: 14 de ago. de 2020


Jorge Lendeborg Jr., Alexandra Shipp, Katherine Langford, Nick Robinson e Keiynan Lonsdale em cena do filme Com Amor, Simon (Love, Simon, 2018) | Foto: Divulgação (20th Century Fox / Fox Film do Brasil)

O ambiente escolar e sua dinâmica, as paixões secretas, o bullying, as festas de Halloween e do baile de formatura. A lembrança recorrente no gênero à sua maior referência, o cineasta John Hughes, está até na sempre presente trilha sonora pop, que aqui apela ao filão do indie pop contemporâneo que resgata o som oitentista – particularmente o projeto Bleachers, que figura ao lado da banda The 1975 e dos cantores Troye Sivan e Khalid na seleção musical, por exemplo, além de ter I Wanna Dance with Somebody (Who Loves Me) da Whitney Houston. Tudo é muito familiar em Com Amor, Simon (2018) e, até certo ponto, seguro para o personagem-título com sua família perfeita e vida suburbana rica. A única questão, segundo o próprio, é que ele é gay.

Ter um protagonista homossexual em um filme adolescente é o grande feito da produção, que traz a diversidade dos novos tempos a essa renovação do gênero não só no centro de sua história, mas também em seu elenco. A escolha por um caminho narrativo e cinematográfico convencional, portanto, é uma tentativa em buscar uma identificação e empatia mais rápidas por parte do público, que rendam a aceitação propagada pela obra e sua mensagem. Para tanto, o longa de Greg Berlanti encontra no material original, o livro de estreia de Becky Albertalli no qual é baseado, Simon vs. A Agenda Homo Sapiens – renomeado apenas para Com Amor, Simon na nova edição, por causa do filme –, a experiência da autora norte-americana como psicóloga especializada em adolescentes para escrever sobre e para eles. Simon, interpretado por Nick Robinson de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015) e Tudo e Todas as Coisas (2017), dizer ao espectador que descobriu que gostava de meninos, de um modo indireto, através de Harry Potter é um exemplo desse diálogo obtido tão levemente.

No entanto, o protagonista não conta a ninguém sobre sua sexualidade: nem a sua amada família, nem aos seus três melhores amigos, Leah (Katherine Langford, da série 13 Reasons Why, do ano passado), a quem conhece desde a infância, o amante de futebol Nick (Jorge Lendeborg Jr., que participou de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, de 2017) e a novata na escola Abby (Alexandra Shipp, a Tempestade dos novos filmes do X-Men). Ok, seu pai (Josh Duhamel, que trabalhou com o diretor na comédia romântica Juntos Pelo Acaso, de 2010) pode não ser tão compreensível como o de Elio em Me Chame Pelo Seu Nome (2017), soltando algumas “brincadeiras” preconceituosas e perguntando “das namoradinhas”, e sua mãe (Jennifer Garner) parece meio alheia a ele – o que tenta ser justificado mais à frente, em uma boa cena da atriz de Homens, Mulheres e Filhos (2014) com Robinson –, mas nada aqui é tão hostil como Moonlight – Sob a Luz do Luar (2016). Só quando um aluno afirma ser gay em um post anônimo no blog não-oficial do colégio, porém, o adolescente decide se abrir sobre o assunto, enviando um e-mail ao misterioso Blue, sob o pseudônimo Jacques e, ainda, usando um trecho de Waterloo Sunset do vinil da banda sessentista britânica The Kinks para criar um e-mail secreto – ou não.

Produtor de seriados televisivos há quase 20 anos, começando justamente pelo universo adolescente de Dawson's Creek (1998-2003), Berlanti estreou na direção justamente com a comédia romântica independente LGBT, O Clube dos Corações Partidos (2000) e, agora, em seu terceiro longa, usa toda essa experiência ao seu favor em um trabalho afetuoso, embora contido e pouco desafiador. Junto com Elizabeth Berger e Isaac Aptaker, roteiristas da badalada série This Is Us (2016-), brinca com estereótipos comumente conferidos aos gays, realizando até uma interessante inversão da situação de “sair do armário” para os heterossexuais. Há um mérito em mostrar que a sexualidade é só uma faceta de um indivíduo, mas igualmente o questionamento se existe certa normalização para se encaixar em “padrões aceitáveis” para o público, em especial quando Ethan (Clark Moore), colega de ensino médio que se assumiu e enfrenta o bullying há tempos, é relegado pelo protagonista e o próprio longa.

Fora a sua temática, o que a obra apresenta de mais atraente narrativamente é o modo como trabalha com as expectativas dos personagens, como Simon à procura de sua Cinderella virtual, e, consequentemente, da plateia, instigando, invertendo e surpreendendo durante o caminho, não só na busca pelo rapaz que vista o sapato de cristal do tal Blue. Tanto o protagonista quanto o apaixonado exagerado Martin (Logan Miller, de Antes que Eu Vá, de 2017) são os maiores exemplos de como o filme trabalha com figuras falhas por suas decisões egoístas, o que torna ainda mais superficial o simplificado desfecho que entrega. Por fim, Com Amor, Simon deixa a sensação de que todos têm o direito de se sentirem representados nas telas em romances e tantos outros gêneros, nem que seja para também se iludir com seus finais felizes.

 

Com Amor, Simon (Love, Simon, 2018)

Duração: 110 min | Classificação: 12 anos

Direção: Greg Berlanti

Roteiro: Elizabeth Berger e Isaac Aptaker, baseado no livro “Simon vs. a agenda Homo Sapiens / Com Amor, Simon” de Becky Albertalli

Elenco: Nick Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Katherine Langford, Alexandra Shipp, Logan Miller, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr., Talitha Eliana Bateman, Tony Hale, Natasha Rothwell, Miles Heizer, Joey Pollari, Clark Moore, Drew Starkey, Mackenzie Lintz e Cassady McClincy (veja + no IMDb)

Distribuição: 20th Century Fox (Fox Film do Brasil)

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